A lenda do Padre Passarinho de Capelins
Nas últimas décadas de 1800, chegou ao fim da sua missão, mais um Pároco de Capelins, esperando a todo o momento a sua substituição e, era o tema das conversas em toda a Paróquia! Os paroquianos tentavam adivinhar como seria o novo padre, porque desta vez era diferente, a vaga seria preenchida por um Cura que vinha da Paróquia de Redondo e não de Terena, por onde tinham passado todos os anteriores que, mais tarde passavam a Curas das respetivas Paróquias, por isso, era um mistério!
Finalmente, o Cura José Fernandes Passarinho chegou a Santo António, esteve alguns dias com o seu antecessor para este lhe explicar em que pontos se encontrava a Paróquia e quais os seus direitos e deveres perante os paroquianos! A primeira missa no Domingo, foi muito bonita, rezada pelos dois padres, um para fazer as despedidas e o outro para se apresentar! Foi um dia de festa em Santo António, nem um terço dos paroquianos tinham lugar dentro da Igreja de Santo António, todos queriam despedir-se do velho padre e, ao mesmo tempo conhecer o novo, porque decerto continuava a ser o tema das conversas na semana que se seguia! O padre José Fernandes já tinha quarenta anos e, com muita experiência em presença de multidões, por isso, sabia o que fazer para agradar aos fregueses e, de verdade foi fácil cativar os seus paroquianos que, no entanto, continuavam apreensivos sobre o motivo do padre querer vir meter-se nesta paróquia tão isolada!
O novo padre instalou-se na casa paroquial e, começou a trabalhar imediatamente, com a ajuda do sacristão, foi conhecendo e sabendo quantos eram, quem eram e como eram os paroquianos, assim como, os mais e menos complicados, os mais beatos e beatas! O padre adaptou-se facilmente ao novo lugar e ao fim de três meses estava a par de todos os assuntos da Paróquia!
Um dia começou a dizer ao sacristão, às beatas e aos vizinhos que moravam junto à igreja que tinha uma sobrinha a viver sozinha no Redondo e queria que ela viesse para junto dele, porque, embora ele não estivesse mal, a sobrinha estava sozinha e, assim, fazia-lhe a comida, lavava e passava a roupa a ferro e ficava melhor ali com ele! Em poucos dias esta novidade espalhou-se pelas terras de Capelins, havia grande curiosidade, como seria a sobrinha do padre, nova, bonita, feia, velha, cada qual imaginava-a à sua maneira!
Passou menos de um mês, numa manhã, chegou à Igreja de Santo António uma carroça carregada com arcas de madeira cheias de roupas, louças e outros utensílios e, também vinha uma senhora muito bonita, bem vestida, bem penteada que, era a suposta sobrinha do padre, cumprimentaram-se efusivamente, à frente da comissão de boas vindas, formada pela vizinhança, beatas, e outros curiosos, o padre apresentou-a e, disse que se chamava Rosalina! Depois, alguns ajudaram a meter tudo em casa e, só ao fim do dia conseguiram ficar sozinhos, então, abraçaram-se beijaram-se e reiniciaram o que já se passava no Redondo, ou seja, a sua ligação amorosa, porque a Rosalina não era sobrinha do padre, mas sua amante, por isso, tiveram de sair do Redondo, porque a sua relação amorosa estava a dar que falar! Em Santo António, estavam mais resguardados dos olhos da censura, porque o lugar era isolado e, isso permitia-lhe viver a coberto da mentira! O tempo foi passando, a sobrinha do padre como era conhecida, era muito cobiçada por todos os rapazes em idade casadoira, passavam em ranchos em frente à casa paroquial, mas não conseguiam por-lhe a vista em cima, a não ser na presença do padre, mas por respeito, não se atreviam a olhá-la de frente! A Rosalina nunca saía sozinha, raramente ia a casa das vizinhas e pouco se demorava para não dar aso a conversas que a comprometessem! Tudo isso, intrigava os fregueses das terras de Capelins que, tentavam por todos os meios, saber da vida da Rosalina.
O novo padre instalou-se na casa paroquial e, começou a trabalhar imediatamente, com a ajuda do sacristão, foi conhecendo e sabendo quantos eram, quem eram e como eram os paroquianos, assim como, os mais e menos complicados, os mais beatos e beatas! O padre adaptou-se facilmente ao novo lugar e ao fim de três meses estava a par de todos os assuntos da Paróquia!
Um dia começou a dizer ao sacristão, às beatas e aos vizinhos que moravam junto à igreja que tinha uma sobrinha a viver sozinha no Redondo e queria que ela viesse para junto dele, porque, embora ele não estivesse mal, a sobrinha estava sozinha e, assim, fazia-lhe a comida, lavava e passava a roupa a ferro e ficava melhor ali com ele! Em poucos dias esta novidade espalhou-se pelas terras de Capelins, havia grande curiosidade, como seria a sobrinha do padre, nova, bonita, feia, velha, cada qual imaginava-a à sua maneira!
Passou menos de um mês, numa manhã, chegou à Igreja de Santo António uma carroça carregada com arcas de madeira cheias de roupas, louças e outros utensílios e, também vinha uma senhora muito bonita, bem vestida, bem penteada que, era a suposta sobrinha do padre, cumprimentaram-se efusivamente, à frente da comissão de boas vindas, formada pela vizinhança, beatas, e outros curiosos, o padre apresentou-a e, disse que se chamava Rosalina! Depois, alguns ajudaram a meter tudo em casa e, só ao fim do dia conseguiram ficar sozinhos, então, abraçaram-se beijaram-se e reiniciaram o que já se passava no Redondo, ou seja, a sua ligação amorosa, porque a Rosalina não era sobrinha do padre, mas sua amante, por isso, tiveram de sair do Redondo, porque a sua relação amorosa estava a dar que falar! Em Santo António, estavam mais resguardados dos olhos da censura, porque o lugar era isolado e, isso permitia-lhe viver a coberto da mentira! O tempo foi passando, a sobrinha do padre como era conhecida, era muito cobiçada por todos os rapazes em idade casadoira, passavam em ranchos em frente à casa paroquial, mas não conseguiam por-lhe a vista em cima, a não ser na presença do padre, mas por respeito, não se atreviam a olhá-la de frente! A Rosalina nunca saía sozinha, raramente ia a casa das vizinhas e pouco se demorava para não dar aso a conversas que a comprometessem! Tudo isso, intrigava os fregueses das terras de Capelins que, tentavam por todos os meios, saber da vida da Rosalina.
Quando o padre chegou a Santo António, pediu ao sacristão para lhe arranjar um barbeiro que fosse todos os sábados, de manhã, cortar-lhe a barba e aparar o cabelo, caindo essa escolha no mestre Manoel Carocho, homem com ainda dentro do cinquenta anos, bem apresentado, já viúvo, porque a mulher tinha sido levada por Deus, devido à moléstia e, morador no Monte do Pinheiro o qual, pelas 11 horas nos sábados estava sempre ao serviço do senhor padre.
No primeiro sábado em que a Rosalina já estava na casa paroquial, o padre apresentou-a ao mestre Manoel como sendo sua sobrinha que vinha viver com ele para Santo António e depois do serviço de barbeiro feito, perguntou-lhe se tinha jantar (almoço)!
Ti Manoel: Tenho, sim senhor padre, nos sábados antes de vir deixo sempre as sopinhas cozidas, depois ao chegar é logo jantar (almoçar)!
Padre: Hoje, não vai comer as suas sopas ao meio dia, ti Manoel, come-as à noite, agora come aqui com a gente, a minha sobrinha cozinha muito bem e contou consigo para o jantar (almoço)!
Ti Manoel: Não, agradeço-lhe mas não quero incomodar, fica para outra vez! Vou-me já embora!
Padre: Não, ti Manoel, é como eu disse, ponha aí o estojo e logo vai depois de jantar!
O ti Manoel não teve como dizer que não e, ficou para o jantar!
A Rosalina sabia cozinhar muito bem e o ti Manoel nunca tinha comido um jantar tão bom! No sábado seguinte repetiu-se a mesma situação, o ti Manoel não queria, mas o padre insistiu e teve de ficar para jantar e partir daquele sábado nunca mais deixou de jantar (almoçar) com o padre e com a Rosalina, crescendo cada vez mais a amizade entre o três!
O padre e a Rosalina faziam vida de marido e mulher, sem darem nas vistas, pensavam eles, viviam em grande felicidade! Os anos foram passando, sem nenhum problema, até ao dia em que a Rosalina descobriu que estava grávida, esse dia e os que se seguiram, foram um pesadelo para ambos, não comiam, não dormiam sempre a pensar como poderiam resolver a situação! As hipóteses não eram muitas, ou o padre despia a batina e sobre grande vergonha saíam de Santo António defraudando os paroquianos, mas depois como iam viver? Que vida podiam dar ao filho ou filha que vinha a caminho? A Rosalina propôs-lhe ir ela embora para o Redondo ou para Évora, teria a criança longe dali e, à noite abandoná-la na roda da Misericórdia! O padre disse-lhe que nem pensar, era um crime moral e não podia abandonar um filho! Pensavam, pensavam e não encontravam uma solução com sentido! Numa noite em que não fecharam os olhos, pelas cinco da manhã, o padre chamou a Rosalina, estás a dormir?
Rosalina: Não, até agora ainda não fechei os olhos!
Padre: Nem eu! Olha, acho que encontrei a solução para o nosso problema, se tu aceitares!
Rosalina: Então diz lá, decerto que aceito!
Padre: Como sabes, o ti Manoel Carocho, o meu barbeiro, é viúvo, nada o impede de casar! Tu és solteira, nada te impede de casar! Eu sou padre, posso fazer o assento do casamento! Sei que o ti Manoel nos vai ajudar, é um casamento só no papel, mas depois tem de assinar como pai do nosso filho ou filha, custa-me muito isso, mas não encontro outro caminho! Tenho de lhe contar tudo, mas sei que mesmo que ele não aceite, não abre a boca! Mas tenho de lhe oferecer em troca que tratamos dele até ao fim da vida! Estás de acordo?
Padre: Como sabes, o ti Manoel Carocho, o meu barbeiro, é viúvo, nada o impede de casar! Tu és solteira, nada te impede de casar! Eu sou padre, posso fazer o assento do casamento! Sei que o ti Manoel nos vai ajudar, é um casamento só no papel, mas depois tem de assinar como pai do nosso filho ou filha, custa-me muito isso, mas não encontro outro caminho! Tenho de lhe contar tudo, mas sei que mesmo que ele não aceite, não abre a boca! Mas tenho de lhe oferecer em troca que tratamos dele até ao fim da vida! Estás de acordo?
Rosalina: Não sei! Custa-me muito fazer parte dessa mentira, mas aos olhos de Deus já estamos perdidos, por isso para viver contigo, não me importo e, também não encontro nada melhor! Mas temos outro problema, quando o nosso filho ou filha nascer, ainda não há nove meses de casada com o ti Manoel!
Padre: Pois não! Mas já pensei em tudo! Vou dizer às beatas que tu já andavas com ele há muito tempo e que eu os apanhei juntos, assim explica-se a diferença desse tempo! Agora só falta o ti Manoel aceitar!
Rosalina: Pois! Não te esqueças que eu tenho trinta e uma anos e o ti Manoel tem sessenta, isso vai dar falatório!
Padre: Não te preocupes! Deixa lá isso, há por aí muitos casos desses de viúvos casados com mulheres muito mais novas! Eu remedeio isso!
Rosalina: Então, sendo assim, trata disso com o ti Manoel, eu só quero é ficar contigo aqui em Santo António!
Padre: Está bem, é no sábado, fazes um bom jantar (almoço), para o deixares impressionado e depois do jantar eu falo com ele!
Conforme estava planeado, depois do jantar, a Rosalina meteu-se no quarto e o padre disse ao ti Manoel que queria falar com ele para lhe fazer um pedido, ele nem o deixou falar, disse-lhe que sabia o que o padre lhe queria pedir, não valia a pena muitas explicações! O padre ficou surpreendido e o ti Manoel disse-lhe que ele e a Rosalina habituaram-se à sua presença e esqueciam-se de disfarçar, já havia muito tempo que sabia do seu envolvimento, como também sabia que a Rosalina estava grávida, pela mudança do seu corpo e estava disposto ajudá-los! O padre ainda insistiu em querer contar os pormenores da proposta, mas o ti Manoel repetiu que não valia a pena dizer mais nada, era só o padre tratar da papelada do casamento e dizer-lhe onde devia assinar e estava tudo resolvido.
Quando, nas terras de Capelins e arredores as pessoas souberam do casamento, ninguém queria acreditar, como é que uma rapariga como a Rosalina, tão nova, tão linda, com tantos rapazes pretendentes, alguns ricos, que queriam casar com ela e foi escolher o ti Manoel! Algumas paroquianas culpavam o padre que tinha metido o ti Manoel lá em casa e deu no que deu! Houve todo o tipo de comentários, mas com o passar do tempo foram esquecendo.
O casamento foi registado e, passados sete meses, o ti Manoel foi pai de um menino! Para convencer os fregueses o ti Manoel ficou lá uns dias em casa, não levou a Rosalina para o Monte do Pinheiro, para o padre não ficar ali sózinho, era o ti Manoel que passava mais tempo com eles para não dar nas vistas, mas como tinha a barbearia no Monte do Pinheiro, onde passava os dias, disfarçava muito bem, às vezes dormia lá na casa do padre ou ia lá de madrugada para depois mais tarde sair e fingir que tinha lá dormido.
O tempo foi passando sem muitos comentário de relevo e, daí a dois anos o ti Manoel foi novamente pai de outro menino, houve alguns comentários mas nada que desse muito que falar!
Havia paroquianos desconfiados que diziam que os filhos eram do padre e que a Rosalina não era sobrinha, era amiga (amante) dele, mas eram logo contrariados pelos que diziam ter a certeza que não era assim, que sabiam que o ti Manoel dormia com ela, já os tinham visto juntos, em compromisso de marido e mulher, por diversas vezes e continuava a pairar a dúvida.
Havia paroquianos desconfiados que diziam que os filhos eram do padre e que a Rosalina não era sobrinha, era amiga (amante) dele, mas eram logo contrariados pelos que diziam ter a certeza que não era assim, que sabiam que o ti Manoel dormia com ela, já os tinham visto juntos, em compromisso de marido e mulher, por diversas vezes e continuava a pairar a dúvida.
A Rosalina ainda teve mais duas filhas, legalmente registadas como filhas legítimas do ti Manoel, como os outros dois filhos, mas o mistério continuava e cada vez mais se ouvia que o padre Passarinho tinha quatro filhos, e afirmavam que o casamento do ti Manoel era uma mentira para enganar os paroquianos, mas ninguém tinha provas sobre o que afirmava, por isso, tinham de falar muito baixinho.
Era uma linda família, baseada na mentira, mas muito felizes, os filhos e filhas nasceram e cresceram em Santo António, aprenderam a ler e a escrever com os pais e os rapazes, quando chegaram à idade própria foram estudar para o Seminário de Évora, mas não seguiram para padres, ao fazerem os seus estudos foram admitidos como funcionários do reino, casaram e organizaram família em Évora, as suas irmãs foram para sua casa de onde saíram para casar com rapazes de boas famílias! O padre Passarinho e a Rosalina, também acabaram as suas vidas em Évora, perto dos seus filhos e netos.
Nas terras de Capelins, mais tarde, toda a gente soube a verdade, por o ti Manoel, antes de falecer, ter contado a uma irmã, que os filhos não eram dele, eram do padre Passarinho, e a Rosalina não era sua sobrinha, mas sua amiga (amante)! Este insólito acontecimento, foi sendo contado de geração em geração, chegando aos nossos dias e todos os capelinenses acabaram por o conhecer.
Fim
Texto: Correia Manuel
Lugar de Santo António - Capelins
Sem comentários:
Enviar um comentário