A lenda do Manel Pastor e de sua amada Catarina
Conta a lenda que no início do ano de mil e oitocentos, existiu uma grande paixão amorosa entre um pastor chamado Manel Dias, conhecido por Manel Pastor, filho da transumância, e uma menina muito bonita, chamada Catarina de Jesus, filha do Moleiro do Moinho do Roncão na Ribeira de Lucefécit, que moravam numa das casas desse Moinho.
O Manel pastor perdeu-se de amores pela Catarina e, depois de quase um ano de namoro decidiram casar-se na Igreja de Santo António de Capelins e ficar a morar numa choupana junto ao Monte do Roncão, mas para o casamento se realizar o padre pediu-lhe os papéis de estilo corrente que, eram emitidos pelo Pároco da Freguesia onde eles tinham sido registados, no caso dele, seria da Paróquia de São Martinho da Póvoa Nova na encosta norte da Serra da Estrêla, onde o Manel tinha de ir tratar dos ditos papéis, ver a família, e a contar-lhe que ia casar.
Na semana seguinte, depois de deixar tudo tratado, o Manel partiu a pé numa madrugada, muito entusiasmado, porque ficou combinado que casariam logo que voltasse, com a promessa da Catarina que acontecesse o que acontecesse, ela esperava por ele até ao fim da sua vida.
Quando o Manel Pastor, chegou à sua aldeia, encontrou a sua mãe muito doente com a previsão de ter poucos dias de vida, deixando-o muito triste, pelo que, prometeu à mãe que ficava a seu lado até ela estar curada, contou-lhe que estava noivo de uma menina de Capelins chamada Catarina, que era muito bonita e gostava muito dela, e disse a mãe que tinha de se pôr boa para ir ao seu casamento.
Devido à alegria de ver o filho e de ouvir a novidade sobre o casamento, a ti Joaquina melhorou muito e o Manel cumpriu o que prometeu, de ficar a seu lado, e os dias foram passando, e já passava mais de um mês, começando o Manel Pastor a ficar preocupado com o que a Catarina devia estar a pensar, então decidiu mandar escrever uma carta a contar-lhe o que se estava a passar e pedia-lhe que esperasse por ele, porque a mãe estava a melhorar e, assim que voltasse com os papéis, casavam, imediatamente.
A carta seguiu, mas nunca chegou ao Moinho do Roncão em Capelins, onde já se falava da má sorte da Catarina era mais uma noiva abandonada, uma viúva antes de casar, sendo tanto o falatório que, já sem esperança do Manel voltar, a Catarina entrou em depressão e, sem tratamento, não aguentou a pressão, e uma noite saiu de casa sem ser vista, desceu a Ribeira de Lucefecit e atirou-se à corrente do rio Guadiana, deixando algumas pécas de roupa pendurada num freixeiro, junto à água, e desapareceu, quando acharam a sua falta, procuraram rio abaixo, rio acima, mas nunca mais foi encontrada.
Depois de enviar a carta, o Manel Pastor ficou mais descansado, pensando que, a Catarina já estava informada do motivo da sua demora e seria uma questão de mais um ou dois meses para ir ter com ela a Capelins.
O tempo foi passando e já estava na Póvoa Nova, havia mais de três meses, até que, um dia a mãe do Manel Pastor fechou os olhos e partiu, depois de tratar de tudo, como não podia fazer mais nada, pediu os papéis para o casamento ao Pároco, despediu-se dos familiares e na madrugada seguinte partiu a pé para Capelins, seguindo o caminho, das caravanas da transumância, pelas canadas que já conhecia.
O Manel queria chegar a Capelins o mais depressa possível e, nos primeiros dias de viagem pouco descansava, até que o cansaço o venceu e começou a andar, diariamente cada vez menos léguas, mas nos últimos dias de viagem, dos dez dias que levou, já pouco descansou, quando chegou a Estremoz, encostou-se duas ou três horas e depois já não parou até Capelins, caminhou toda a noite, chegando ao Moinho do Roncão ao nascer do sol.
Assim que chegou, o Manel foi a correr à casa da sua amada, mas achou estranho não estar ninguém em casa, pensou que, estavam todos no Moinho, que ficava um pouco mais abaixo, e dirigiu-se lá, mas assim que avistou a família de Catarina, vestidos de luto, sentiu um arrepio e pressentiu que alguma coisa tinha acontecido, porque, só faltava ela, mas não imaginava o pior.
O Manel cumprimentou a família da Catarina que, pouco lhe ligaram, porque achavam que ele era o culpado da tragédia, depois perguntou por ela e contaram-lhe debaixo de grande pranto o que tinha acontecido e o motivo do seu suicídio. Ele não queria acreditar, ficou muito chocado e, contou-lhe, porque se tinha demorado e que tinha enviado a carta a contar o que se passava.
O Manel foi para a sua choupana e chorou a morte de Catarina durante muitos dias, não falava com ninguém e, quase não comia, debaixo de grande tristeza.
Uma manhã, levantou-se da tarimba, saiu da choupana e começou a procurar a sua noiva Catarina pelas margens do rio Guadiana, na esperança de a encontrar viva, percorreu a distância entre as Azenhas D' El-Rei e o Gato, vezes sem conta, de dia e de noite, andando vários anos nesse percurso, por matos de estevas, giestas e tojos, abrindo vários caminhos no sul da Freguesia de Capelins, junto ao rio Guadiana, mas nunca mais houve sinais da sua amada Catarina.
Contava-se que, o Manel Pastor ficou parvinho, até que, um dia, quando andava pelos seus caminhos no vale do rio Guadiana, caiu para o lado e partiu, acabando-se o seu martírio.
Fim
Texto: Correia Manuel
Sem comentários:
Enviar um comentário