quinta-feira, 15 de setembro de 2022

A lenda do menino lenhador

 A lenda do menino lenhador

Como sabemos, a Igreja Matriz de Santa Maria, foi erguida cerca do ano de 1314, ao lado do lugar onde se encontra a atual Ermida de Nossa Senhora das Neves, esta veio substituir a primitiva, nos últimos decénios de 1600.
Foram muitos os milagres atribuídos a Nossa Senhora das Neves, cujos testemunhos de moradores das terras de Capelins e de terras vizinhas, se perderam no tempo.
Este caso, passou-se no final do mês de Abril do ano de 1696, e envolveu um menino de 9 anos de idade, chamado António, filho de uma família pobre, constituída pelos pais e cinco filhos que residiam num pequeno Monte no Roncão. Os filhos mais velhos trabalhavam de sol a sol, com os pais na agricultura por conta de lavradores e, os mais novos, ou andavam em ajudantes de ganadeiros ou, se ainda estavam em casa tinham uma missão a cumprir. O António enquanto esperava vaga para ajudante de pastor, tinha de carregar lenha para casa, das redondezas e por vezes de lugares mais distantes, como aconteceu numa tarde que teve de ir à lenha à herdade de Santa Luzia, onde havia muita, mas tinha de atravessar a Ribeira do Lucefécit num pequeno barco feito de tábuas velhas, mas que era usado muitas vezes para ligar as duas margens da Ribeira, quando esta tinha maior caudal, como aconteceu naquele dia, devido às grandes chuvadas verificadas nesse mês de Abril. O António, passou rapidamente no barco, do lado do Roncão para Santa Luzia, prendeu-o a uns arbustos e afastou-se a juntar lenha para fazer um bom feixe, andou algum tempo naquela azáfama e voltou com a lenha ao lugar onde tinha deixado o barco, mas quando chegou não o encontrou e pensou que talvez estivesse enganado no sitio, descarregou a lenha e percorreu várias vezes a margem da Ribeira para baixo e para cima até que ficou convencido que o barco tinha sido levado pela corrente e entrou em desespero, porque, embora soubesse nadar, a corrente estava muito forte e ele tão pequeno e franzino, assim não conseguia passar a nado, então começou a pedir ajuda, gritou, gritou, mas ninguém o ouviu e estava a começar a escurecer, o medo do António era dos lobos, porque havia muitos em Santa Luzia, ele não tinha nada para se defender e pressentia que não iam demorar em aparecer, passaram-lhe muitas ideias pela cabeça, podia subir a Ribeira até ao Bufo e encontrar aí um lugar onde pudesse passar a nado, mas havia muito mato e ficou com medo de sair dali, até que se lembrou de rezar e pedir ajuda a Nossa Senhora das Neves, para diminuir o caudal e ele poder passar a nadar, ou para aparecer alguém que o ajudasse, então rezou, rezou, com os olhos postos na corrente, mas esta não diminuía, até que apareceu levado pela corrente um grande feixe de lenha, mesmo igual ao dele, sem se afundar, desceu uns cinquenta metros e foi encalhar na outra margem e fez-se luz na cabeça do António, percebeu o sinal, pegou no feixe de lenha dele colocou-o na água, deitou-se por cima dele e verificou que não se afundava, começou a remar com as mãos e não demorou em entrar na corrente que imediatamente o arrastou em grande velocidade mais de cem metros, até que perdeu a velocidade e ficou quase parado num pego mais largo, antes da foz do Ribeiro do Carrão, o António começou novamente a remar com as mãos e aproximou-se da margem direita da Ribeira, num lugar onde estava encalhado o seu barco, saiu de cima da lenha, tirou-a da água, prendeu bem o barco e foi para casa, onde a família já estava preocupada por ele não aparecer. O António, não contou o que se tinha passado, apenas disse que tinha andado a apanhar lenha e que se tinha demorado mais do que esperava, mas não lhe saía da cabeça a visão do feixe de lenha na corrente, no momento em que rezava e que por isso se salvou de ser devorado pelos lobos, estava claro que tinha sido um milagre de Nossa Senhora das Neves!
A partir desse dia, a sua devoção por Nossa Senhora das Neves era tanta, que acabou por confessar à família o acontecimento daquela tarde, já mais para a noite, em que tinha ficado encurralado em Santa Luzia, todos o ouviram e reconheceram o milagre!

Fim

Texto: Correia Manuel

Capelins



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