quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A Vila de Ferreira em 1708

A Vila de Ferreira em 1708

Como podemos verificar, no presente documento, extrato da Corografia portuguesa, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, apresenta-se uma descrição do então, Concelho de Terena, ao qual, a vila de Ferreira pertencia, embora, também fosse Concelho Comunitário, com autonomia apenas na resolução de problemas dentro da comunidade, quanto á distribuição de terras e pastagens, mas nessa data já dele faziam parte duas grandes herdades da Casa do Infantado, a herdade da Defesa de Ferreira e a herdade da Defesa de Bobadela, as quais, eram administradas à parte do reino, pelas suas próprias leis.

Consideramos este documento importante, não só, pela escassez de documentos desta época, mas também, pela forma como descreve a nossa região. 
Podemos verificar que, nesta data, 1708, ainda não são referenciadas as aldeias de Capelins de Baixo e Capelins de Cima, mas através de outros documentos, como os Registos Paroquiais, sabemos que no lugar da sua implantação, já existiam alguns Montes e terras aforadas que, permitiram a sua expansão, dentro da herdade da Defesa de Ferreira. Estas aldeias aparecem um pouco mais tarde em 1747, noutro documento. 


Conforme escreve o Padre António Carvalho da Costa:


Da Vila de Terena e seu Termo (Concelho)

No Arcebispado de Évora, sete legoas ao Nascente desta Cidade, & duas ao Poente da Villa do Redondo, em lugar alto está fundada a Villa de Terena, cujo primeiro sítio foy entre o ribeiro de Alcayde, & a ribeira Lucefeci, a qual tem seu nascimento em a serra d' Ossa, e correndo junto desta Villa pela parte do Norte por uma fecunda varzea, se chama a ribeira de Terena, cujas aguas entram no rio Guadiana, que divide o termo da Villa do Landroal dos de Alconchel, & Chelles no Reino de Castella.
Mandou povoar esta Villa, & lhe deo foral pelos annos de 1262, D. Gil Martins, pay do Conde D. Martim Gil, & sua mulher D. Maria João, que deviam povoar a Villa de Viana, & por isso forão do seu senhorio, & as teve o Conde seu filho, até que por morte delle vagarão para a Coroa. El-Rey D. Manuel lhe deo foral em Lisboa aos 10 de Outubro de 1514. He cercada de muros com seu Castello, de que eh Alcayde mór o Conde da Ponte: tem 250 vizinhos com uma Igreja Parroquial de invocação a S. Pedro com hum Prior, & dous Beneficiados, que apresenta a Coroa real, & hum Vigario da Vara.
Tem mais a Igreja da Misericordia com seu Hospital, huma Ermida de S. Antonio no Rocio, & outra de s. Sebastião, & na descida da Villa em sitio baixo huma Igreja de N. Senhora da Boa Nova, que fundou a Rainha D. Maria, mulher del Rey D. Affonso segundo de Castella, filha del Rey D. Affonso o Quarto de Portugal. He esta Igreja muito forte, & em forma de Castello, toda cercada de ameyas de pedraria, & pela parte de dentro representa huma perfeita cruz: tem seu Capelão da Ordem de Aviz com obrigaçando do meyo annal de Missas na Igreja Matriz, & conserva ainda a pia de bautizar, por ser antigamente a primeira Freguesia desta Villa, a qual se foy despovoando, por estar em lugar baixo, & pouco sadio, & se mudou para o sitio, em que hoje está.
He esta Villa abundante de pão, gado & caça: o seu termo tem seis legoas de Norte ao Sul, & duas de largo de Nascente ao Poente, com duas Freguesias, Curados, a primeira eh de Santo António, tem 60 vizinhos, & duas Ermidas, huma de N. Senhora das Neves na Villa de Ferreira, que dista de Terena huma legoa para a parte do Sul, & outra de S. Clara. (Esta Ermida pertence à Freguesia de S. Pedro e não Santo António, no entanto, o padre António Carvalho da Costa, esqueceu a Igreja de Santo António que, já há muito tempo existia). 
A segunda Freguesia he dedicada a Santiago, tem 100 vizinhos, & duas Ermidas, S. Amaro, & S. Francisco na Rindeira.
Tem esta Villa treze defezas, que se repartem por sortes aos moradores, de que pagam cada hum meyo tostão ao Concelho, assistido à data das sortes o Corregedor da Comarca: & as defezas da boleta, que ah nestas nomeadas, se dão em malhadas aos moradores da Villa, & seu termo para as suas porcadas, de que paga cada hum de cada malhada o que eh necessário para os gastos do Concelho.
Termina-se o termo desta Villa com a carreira de Machos, & a ribeira Lucefeci abaixo até se meter no rio Guadiana abaixo até o moinho do Gato, & dahí sahe o Azebel acima até a Atalaya do Ramo alto a dar ao Curral de Saro, & dahí parte com a defeza de Pedra Alçada, que eh do termo de Monçaras, & vem dar a Santo Aleixo, aguas vertentes para o Norte, até chegar ao pé da Serra d'Ossa, que eh do termo da Villa do Redondo.
Tem dous Juizes ordinarios, tres Vereadores, hum Procurador do Concelho, Escrivão da Camara, Juiz dos Orfãos com seu Escrivão, hum Tabellião do Judicial, & Notas, hum Alcaide, & huma companhia da ordenança, & outra no termo.
Extrato da:
Corografia Portuguesa e Descripçam Topografica Do Famoso Reyno de Portugal, Tomo Segundo, offerecido ao Sereníssimo Rey D. João V Nosso Senhor - Author:
O P. António Carvalho da Costa - Clérigo do habito de S. Pedro, Mathematico,
natural de Lisboa, - páginas 536 & 537
Ano de MDCCVIII

(1708) 

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