quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando caiu da azinheira dos ninhos

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando caiu da azinheira dos ninhos 

O Chiquinho de Capelins, não desperdiçava nenhuma oportunidade para se juntar à rapaziada de Capelins de Cima ou de Capelins de Baixo, nas brincadeiras, como também nos intervalos na escola primária, ou à tardinha após a saída, mas as brincadeiras eram sempre as mesmas, já cansavam, um dia foi ter com o primo a Capelins de Baixo e ele disse-lhe que tinha inventado duas brincadeiras novas, e o Chiquinho vibrou de contente e pediu-lhe para ele dizer como eram e o primo respondeu que uma era brincar ao faz de conta que eram pedreiros, as pessoas da Aldeia de Ferreira encomendavam-lhe casas, cabanas, chiqueiros e galinheiros, eles tomavam nota num caderninho, o nome das pessoas e o que queriam que eles contruíssem e eles faziam as obras, com tijolos de terra amassada com água, depois metiam esse barro dentro de caixas de fósforos das pequenas que serviam de forma e secavam ao sol, para fazer as paredes, e também podiam ser de taipa e pedra, e faziam telhas do mesmo tipo, assim, passavam o tempo ali num sítio escolhido por eles, sem andarem em correrias pela Aldeia, e a outra invenção era fazer ninhos nas oliveiras e azinheiras, bem feitos, iguais aos dos pássaros para enganar a rapaziada que andava sempre aos ninhos, e quando os encontrassem pensavam que eram verdadeiros e subiam e desciam às árvores vezes sem conta a ver se já tinham ovos, mas eles estariam sempre na mesma, a não ser que algum pássaro, como o cuco se apoderasse dele, senão, eram bem enganados, seriam donos de ninhos que não eram ninhos! 

O Chiquinho gostou muito das duas invenções e, nesse dia, foram às estriqueiras das tabernas procurar caixas de fósforos, fizeram a listagem das encomendas das obras, os nomes de pessoas da Aldeia e meteram mãos à obra, passaram a tarde a amassar barro e a encher as caixas de fósforos para secar ao sol e fazer os tijolos e, com a brincadeira nova, passaram uma boa tardada sem fazerem mal a ninguém. 

À tardinha o Chiquinho recolheu a casa em Capelins de Cima e devido a algumas circunstâncias esteve uns dias sem ver o primo, mas a ideia de fazer os ninhos falsos não lhe saia da cabeça e como era tempo de ninhos, numa tarde, depois de sair da escola correu à courela dos Barrinhos, levou palha num saco de serapilheira e como sabia que a rapaziada aparecia por ali à procura de ninhos, escolheu uma das azinheiras para fazer dois ou três ninhos falsos, tirou alguma palha do saco, subiu à azinheira e começou a construir um ninho entrelaçando a palha entre os ramos, mas a palha não se moldava e, embora ficasse metida entre os ramos não ficava redondo, não tinha nenhuma aparência de ninho, desanimado, desceu da azinheira e foi a correr à procura de pasto velho junto a uma vereda, apanhou algum e subiu novamente à azinheira e continuou a construção do ninho que  começou a tomar melhores contornos e lembrou-se que, no dia seguinte apanhava algumas penas de galinha na capoeira para meter lá dentro e teve a certeza que, assim ia enganar a rapaziada, era uma boa partida! 

O dia estava farrusco, mas não se adivinhava chuva e muito menos trovoada, mas quando o Chiquinho estava concentrado, a entrelaçar os pastinhos nos ramos fez um relâmpago e um trovão em simultâneo e tão forte, que ele nem deu por cair da azinheira, quando deu por ele estava no chão de joelhos e de mãos postas a pedir perdão em voz alta, porque achava que era castigo de Deus por ele estar tão contente a enganar os outros rapazes e mais convencido ficou, porque, nesse dia, não fez nem mais um trovão, depois de se recompor do grande susto, ainda com as pernas a tremer, meteu-se a caminho de Capelins de Cima e, decidiu que a brincadeira de fazer ninhos falsos para enganar a rapaziada da Aldeia de Ferreira ficava arrumada para sempre, mas a partir daquele dia as obras de construção civil, que estavam paradas, continuaram com sucesso, conforme as encomendas dos clientes da Aldeia de Ferreira. 

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Barrinhos - Capelins 



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