segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Resenha histórica da chegada da camioneta da carreira a Capelins

Resenha histórica da chegada da camioneta da carreira a Capelins 

Devido ao grande aumento da população da Freguesia de Capelins a partir da década de 1930, atingindo valores de crescimento de 25 %, começaram a ser exigidas novas infra estruturas e serviços, como estradas, poços de água, escola, telefone, assistência social, serviços médicos e de enfermagem, transportes públicos e outras.
As reivindicações da população começaram por ser atendidas pelas respetivas Entidades oficiais, a escola, estradas, assistência social, médica e de enfermagem prestada pela Casa do Povo de Terena e Capelins, transporte público e outras.
O transporte público, foi pedido no início da década de 1940, ou seja, foi pedida uma carreira com início e fim na Aldeia de Montejuntos, com acesso à cidade de Évora, mas este pedido foi feito quando decorria a Segunda Grande Guerra (1939/1945), na qual, Portugal não esteve envolvido, mas foi atingido pela crise, verificando-se a falta de diversos produtos, entre os quais, pneus para automóveis e camionetas, obrigando a maioria das pequenas empresas de transportes de passageiros a encostar as suas camionetas, ficando o processo da criação da carreira da Freguesia de Capelins à espera de melhores dias.
A crise da falta de pneus e outras peças, foi porque as fábricas na Europa deixaram de produzir para o exterior, virando-se para a produção de material de guerra, mas nem todas as empresas de transportes foram atingidas em igualdade, neste caso, existia uma empresa de transportes de passageiros com sede em Vila Fresca de Azeitão, designada: "A Transportadora Setubalense de João Cândido Belo e Cª Lda", que iniciou a sua atividade neste ramo em 28 de Julho de 1928, com uma carreira entre Setúbal e Lisboa, mas rapidamente começou a sua expansão através da compra de outras empresas do mesmo ramo, chegando ao Alentejo no ano de 1940, fazendo a carreira entre o Barreiro e Évora, mas nesse ano comprou parte da empresa Auto Omnibus Eborense, com sede no Montijo, assim como, das Empresas Auto Estremocense, de Estremoz e da Auto Viação de Vila Viçosa. Em 1948 comprou o restante da empresa Auto Omnibus Eborense e em 1951 comprou a empresa Manuel Martins e Sebastião Martins, de Évora, em 1957 comprou a empresa Inácio Capucho de Évora e em 1961 comprou a empresa Vasco da Conceição Paínho de Elvas e, parece que, nesse espaço de tempo, ainda comprou outras pequenas empresas, como a empresa Francisco Leal de Redondo.
Parece que, este sucesso que a tornou monopolista dos transportes de passageiros no Alentejo, deveu-se à escassez de pneus para as camionetas, mas a dita Empresa não passou por esse problema, porque, estava ligada a grandes empresas do ramo automóvel, como a A. C. Santos de Lisboa, sendo, assim, das poucas empresas com acesso aos pneus e a peças que eram necessárias para arranjo das camionetas, pelo que, à medida que as outras empresas ficavam paralisadas, facilmente eram adquiridas por esta.
Após o fim da Grande Guerra, em 1945, ainda passaram alguns anos para regularizar as dificuldades, mas no final da década de 1940, o pedido da carreira entre Évora e a Aldeia de Montejuntos, em Capelins, foi atendido, ficando na alçada da empresa: "A Transportadora Setubalense de João Cândido Belo e Cª Lda", começando a ser feita por camionetas semelhantes às de carga, com carroçarias fechadas e com os respetivos lugares para os passageiros, depois, foram melhorando, mas o caminho camarário entre as placas, junto ao Ribeiro do Alcaide de Terena e a Aldeia de Montejuntos era apenas empedrado e abria grandes buracos no inverno, quando chovia muito e não permitia a passagem da camioneta da carreira, pelo que, ficava muitas vezes atolada (atascada), e os passageiros tinham de a empurrar, mas se não desse resultado ia o caterpilar) pequeno trator de rastos, da Casa Dias, a puxar por ela e ficava estacionada na Aldeia de Ferreira até à partida para Évora no dia seguinte e o chofer, revisor e passageiros continuavam a viagem a pé, até Montejuntos, verificando-se esta nos invernos da década de 1950 e parte de 1960.
A camioneta da carreira partia de Évora às 12,30 horas, por S. Miguel de Machede - Redondo - Bencatel - Alandroal - Terena - Faleiros - Ferreira - Montejuntos, onde tinha o horário de chegada cerca da 16,00 horas. Parava, onde alguém lhe fazia alto, ou onde tocavam a campainha para parar, embora, a norma era parar onde estivesse a placa de paragem oficial, mas os choferes não deixavam ninguém a pé, mesmo nos casos em que os passageiros se atrasavam nas tabernas das localidades onde passava junto às paragens, havia o cuidado de não deixar os seus passageiros a pé., assim, além das ditas localidades, parava junto de todos os Montes, desde o Picarrel ao Monte da Igreja.
A camioneta da carreira partia da Aldeia de Montejuntos cerca das 05,00 horas por, Ferreira - Faleiros - Terena - Alandroal - Bencatel - Redondo - S. Miguel de Machede - Évora, onde chegava cerca das 08,00 horas.
A camioneta da carreira, no dito percurso, passava pelas célebres curvas da palheta, que ficavam a cerca de três quilómetros após a passagem por S, Miguel de Machede no sentido para o Redondo, as quais, eram muitas e a estrada era muito estreita, pelo que, contavam-se muitas peripécias sobre acontecimentos nas ditas curvas, assim, quando alguém de Capelins tinha de viajar nesta carreira, começava dias antes a lamentar-se que tinha de passar as curvas da palheta, mas depois passavam por elas, várias vezes, e não sabiam onde elas eram, porque, além delas, havia tantas curvas nas estradas levando algumas pessoas a pensar que, uma palheta era o mesmo que uma curva e vice versa.
A camioneta da carreira, tinha um estrado e um gradeamento no tejadilho, onde seguiam as bagagens dos passageiros que, desde que fosse possível ao revisor e aos passageiros que ajudavam a carregar lá para cima, levava tudo, até galinhas dentro de cestos de cana ou verga, mobílias, colchões, escadas de madeira, bicicletas e tudo o que os passageiros levavam consigo, muitas vezes a casa atrás e nos dias de feiras ou festas na região, até trazia alguns passageiros no tejadilho.
Assim, com base em diversas memórias de capelinenses desse tempo, a camioneta da carreira da empresa "A Transportadora Setubalense de João Cândido Belo e Cª Lda", chegou à Freguesia de Capelins no ano de 1949.
Fim
Texto: Correia Manuel

Foto: net



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