sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando levou a cachaçada da "moça velha"

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando levou a cachaçada da "moça velha"

No ano de 1962 o Chiquinho de Capelins, estava com seis anos de idade, podia entrar para a escola, ou podia não entrar, a decisão era da professora oficial, a Dª Florbela, natural de Évora e estava hospedada numa casa ao lado da dele, obrigando ao convíívio diário entre a professora e a família do Chiquinho, por isso, era uma vantagem, talvez ela aceitasse a sua entrada na escola no dia 07 de Outubro do dito ano, porque não fazia os 7 anos antes dessa data.
A mãe do Chiquinho, nesse ano, começou cedo a dizer à ti Margarida, na casa da qual a professora estava hospedada, que tinha de lhe pedir para deixar entrar o gaiato na escola nesse ano, senão ficava por ali mais um ano e já não davam conta dele, e a ti Margarida dizia-lhe que pedisse, se todos os dias falava com ela, o que estava à espera? Então, ela disse-lhe que tinha vergonha e pediu-lhe se ela a ajudava, faziam o pedido entre as duas e ela aceitou, assim, um dia quando a professora chegou a casa, fizeram-lhe o pedido e ela respondeu que era melhor não entrar nesse ano, porque era muito pequenino e nem sabia falar e com mais um ano ia aprendendo a falar, mas elas insistiram e ela prometeu que ia pensar nisso e depois dizia.
Chegaram as férias grandes e a Dª Florbela foi para sua casa em Évora, voltando uns dias antes da escola abrir o ano letivo, chamou o Chiquinho e a mãe, fez-lhe um teste e concluiu que ele falava mal, porque queria, para chamara a atenção, porque sabia dizer bem as palavras que ela lhe mandou dizer, por isso, podia entrar na escola nesse ano e, fez a sua inscrição.
O Chiquinho apresentou-se na escola na dita data, à professora regente Dª Eva, natural de Vila Viçosa, que tinha a seu cargo as três classes, ou seja, da primeira à terceira, enquanto a Dª Florbela tinha a quarta classe, com quase tantos alunos como as outras três, muitos com catorze para quinze anos, já homens e mulheres.
O Chiquinho era pequenino e franzino, mas metia sempre o nariz onde não era chamado, onde havia confusões, ele estava lá metido, depois levava uns açoites dos mais velhos, mas nunca desistia e andava sempre perto deles, corria grande risco para se promover e ser aceite por eles.
Nesse tempo, eram raros os dias em que não havia zaragatas entre alunos de uma e da outra escola e até da mesma escola, depois os que se metiam nisso, acabavam sempre por levar umas reguadas, porque havia a espionagem feita por algumas alunas que iam contar tudo o que se passava e não passava na escola e seus arredores às professoras, assim que esses alunos entravam na sala de aula já elas estavam com a régua, uma tábua comprida e estreita na mão, com a qual, batiam na palma da mão dos alunos até se cansarem, sem dó nem piedade, era assim a educação nessa época.
Alguns alunos, aproveitavam a hora do recreio para se apuparem de uma e outra escola, chamando os apelidos que lhe vinham à cabeça, na escola da 4ª classe andava uma aluna com perto dos quinze anos, com corpo e roupas de mulher, a qual, foi apelidada de "moça velha", assim, os rapazes da sua idade que não tinham medo dela, deram-lhe esse apelido, assim como, os maiores que tinham pernas para fugir e ela não lhe conseguia chegar, ficava muito irada, mas tinha de se aguentar.
O Chiquinho achou graça ao apelido, então, para se armar, no recreio, assim que a apanhou a jeito, sem prever o que o esperava, e como na parte da frente da escola existia uma separação com uns postes e uns arames ele pensou que estava em segurança, chegou-se à fronteira e chamou-lhe: - "môcha velha" e começou logo a correr, mas a rapariga deu um salto por cima dos arames e ficou em cima dele, deu-lhe uma cachaçada com tanta força que ele levantou os pés do chão, foi voando e aterrou na lama e foi deslizando com a barriga e o peito por cima do lamaçal, dois ou três metros, parecia mesmo um pinguim a deslizar na neve, quando se levantou, um pouco tonto, com a parte da frente carregada de lama e erva, não sabia se rir se chorar, mas entre as duas foi disfarçando e caminhando para o lado do pátio da escola tirando a lama que podia com as mãos e como acabou logo o recreio teve de ir assim para dentro da sala de aulas, mas quando entrou já a professora Dª Eva, estava esperando por ele, porque as alunas já lhe tinham contado, o que se tinha passado e a sentença já estava ditada, então, chamou o Chiquinho mandou-o abrir a mão e descarregou uma série de réguadas e foi-lhe dizendo que nunca mais chamasse nomes a ninguém e o Chiquinho ficou muito revoltado, porque depois da cachaçada, do voo e da aterragem no lamaçal, ainda tinha levado aquelas réguadas, era uma pena pesada para um crime tão leve, e passou o resto do dia a soluçar, zangado com a moça e com a professora.
O Chiquinho ainda magicou a vingança, como tinha boas relações com a vizinha Dª Florbela, pensou em fazer queixa da "moça velha", mas lembrou-se, ainda a tempo, que não sabia o nome dela e se fosse dizer à professora que era a dita moça, o mais certo era levar outro castigo, já era de mais, e parou ali, mas a partir daquele dia, ficou com muito medo dela e quando a encontrava frente a frente, passava, imediatamente para o outro lado da rua e sempre com um olho na magana.
Fim
Texto: Correia Manuel




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