segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi na excursão a Vila Viçosa

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi na excursão a Vila Viçosa

A primeira viagem em camioneta da carreira feita pelo Chiquinho de Capelins, foi de Capelins de Baixo à Igreja de Santo António de Capelins, no dia 03 de Setembro de 1959, tinha apenas 3 anos de idade, mas ficou marcada, também, porque foi pelo casamento do tio Manuel.
O Chiquinho de Capelins andava na primeira classe, na escola da Aldeia de Ferreira, no ano de 1963, a professora Dª Eva, natural de Vila Viçosa, organizou uma excursão ao Palácio dos Duques de Bragança, com um grupo de alunos/as da primeira à terceira classe, mas nem todos puderam ir, porque, o passeio era pago, custou 7$50, sete escudos e cinquenta centavos, nessa época, não era barato, esse dinheiro dava para comprar quase três pães de quilo e, a algumas famílias fazia-lhe muita diferença nas magras carteiras.
Como alguns alunos eram minúsculos, iam à larga, três em cada banco, muito contentes e cantando as cantigas previamente encenadas na escola, sendo na viagem uma dedicada ao motorista da camioneta da excursão, o senhor Pimpão.
O primeiro destino em Vila Viçosa, foi a casa da Dª Umbelina "Rendeira" a anfitriã e benfeitora do grupo, veio receber os excursionistas e eles depois do sinal da professora cantaram a cantiga de agradecimento por os receber e dar de comer, o pequeno almoço, o almoço e o lanche, era mais ou menos assim: Obrigado Dª Umbelina/Por nos receber tão bem/É uma senhora divina/Que Vila Viçosa tem.
Depois da cantiga cantada, veio o pequeno almoço, eram papo secos, uns com rodelas de chouriço e outros com marmelada, dentro de tabuleiros, enchiam o olho, mas o Chiquinho nunca tinha comido, nem visto, papo secos, desconfiado foi olhando e cheirando, ainda pensou que fossem bôlas de pão, como as que a mãe lhe fazia quando cozia o pão lá em casa, mas só pelo cheiro, decidiu logo que aquilo não era para ele e não conseguiu meter-lhe o dente, tirou uns pedacinho do chouriço e atirou o papo seco para cima da mesa e lá ficou.
Após o pequeno almoço, o grupo excursionista acompanhado da professora, partiu para a visita ao Palácio Ducal, antes, em caminho, passaram pela casa da professora, onde demoraram pouco tempo, foram ver a rua pelas janelas do primeiro andar e tudo era uma festa, depois, seguiram caminho e assim que chegaram começaram a visita guiada ao Palácio com um guia e tudo o que ele explicava terminava com grande desabafo de admiração, algumas vezes, adiantavam-se e faziam o desabafo antes do guia acabar a explicação.
Devido à amizade do guia com a professora, parece que, era amigo ou familiar, a visita foi muito demorada e quando acabou já tínhamos muita fome, dali, partimos, novamente para casa da Dª Umbelina, onde nos esperava o almoço e quando o Chiquinho esperava que ia comer alguma açordinha de alho, ou umas sopinhas de grãos com chouriça, trouxeram-lhe massa com carne, e a empregada anunciou:
Empregada: Massinha com carne de vaca para os meninos e para as meninas!
O Chiquinho ficou logo sem apetite e disse:
Chiquinho: Xó, eu não como vacas! Na minha Aldeia ninguém come as vacas!
Empregada: Então, coma a massinha que está muito boa!
Chiquinho: Como é que como a massinha a saber a vaca? Não quero! Não quero!
Empregada: Então quer um papo seco com o quê?
Chiquinho: Papo seco? Ainda menos! Não quero nada disso!
A empregada viu que não podia fazer mais nada, encolheu os ombros e foi para dentro e o Chiquinho comeu duas ou três colheres de massa, petiscou mais qualquer coisa e ficou almoçado.
Depois do almoço, os excursionistas foram brincar para o recinto de uma escola que estava a poucos metros, mas alguns alunos dessa escola, ouviram cantar e a gritaria e apareceram lá a mandá-los dali para fora, armou-se uma confusão, mas valeu-lhes a pronta intervenção da professora que estava com o olho no grupo e mandou os outros embora, e com muito custo, lá desapareceram e a rapaziada continuaram por ali o resto da tarde a cantar, fazer rodas de mão dada, brincar à apanhada e outras brincadeiras até que os chamaram para o lanche e não é que o lanche era igual ao pequeno almoço, papo secos! O Chiquinho fez o mesmo que tinha feito ao pequeno almoço, porque não conseguiu comer os papo secos.
Após o lanche, tiveram, novamente de cantar as cantigas de agradecimento e despedida da anfitriã e pouco depois entraram na camioneta da excursão e lá foma para a Aldeia de Ferreira, mas antes da chegada, tiveram de cantar a cantiga de agradecimento e despedida ao senhor Pimpão e pouco depois, a excursão estava terminada.
E foi assim, a primeira excursão da vida do Chiquinho de Capelins, foi um pouco atribulada, mas valeu a pena, deixou marcas para a vida e abriu-lhe horizontes para, mais tarde, fazer outras excursões mais longas.
Fim
Texto: Correia Manuel



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