quinta-feira, 2 de maio de 2019

Moinho do Bolas - 7

Os Moinhos de água da Freguesia de Capelins 

7 - Moinho do Bolas 

O Moinho do Bolas situava-se/situa-se na margem direita do rio Guadiana, junto ao limite das herdades da Amadoreira e da Bobadela de Cima. 
Este Moinho foi construído cerca do ano de 1920, sendo o mais recente nesta região.
O Moinho do Bolas era de rodízio ou roda horizontal e tinha pelo menos dois aferidos, senão três, ou seja, casais de mós ou linhas de moagem. 
As mós andadeiras, eram encimadas pelas Tremonhas, ou seja, um depósito de madeira em forma de pirâmide invertida onde o Moleiro depositava os cereais que, lentamente caiam nos olhos das mós andadeiras e, eram moídos por estas, contra os poisos ou mós fixas, sendo transformados em farinha. Quando as Tremonhas ficavam vazias, ou porque o Moleiro adormecia, uma vez que trabalhava 24 horas, ou andava fazendo outros trabalhos e descuidava-se, existia um alarme artesanal feito com uma armação de arame com um pequeno chocalho na extremidade superior e, quando faltava cereal entre as mós, começavam a trepidar fazendo tocar o dito chocalho que chamava o Moleiro. 
Como todos os Moinhos era provido de um açude construído em pedra em aparelho gravitacional, com caneiro ou pesqueira, que barrava e canalizava a água para as adufas, ou bocas dos canais, acionando a roda motriz.
O seu primeiro proprietário e que o mandou construir foi o senhor António Raínho, com a profissão de carpinteiro, nascido no ano de 1885 na Aldeia das Hortinhas, Terena, que era já dono de outro Moinho, designado da "Loba", situado na parte alta da Ribeira de Lucefécit.
A sua construção passou por alguns problemas, eram tempos muito difíceis em termos económicos e, a construção de um Moinho, devido à sua arquitetura e ao tipo de materiais usados era muito caro, e neste caso, para agravar a situação a primeira construção foi levada numa grande cheia e teve de ser reconstruído, aumentando ainda mais os custos, mas era um sonho do seu proprietário e não desistiu, passando por grandes dificuldades, assim como a sua família, gastou tudo o que tinha, chegando a ser difícil pôr umas sopas ao lume, mas conseguiu pôr o Moinho do Bolas a trabalhar. 
Quando o senhor António Raínho foi prestar contas a Deus, o dito Moinho foi herdado pelo seu filho Manuel Raínho que, organizou a sua vida por Caplelins e casou na Igreja de Santo António, mas pouco depois ficou viúvo e casou pela segunda vez em Capelins e por cá ficou alguns anos no seu Moinho do Bolas, porém, devido à diminuição da afluência de fregueses aos Moinhos, no decénio de 1950 decidiu vender o Moinho ao senhor José Glórias, um conhecido Moleiro nesta região, natural da Aldeia de Cabeça de Carneiro que, continuou a dar-lhe vida durante alguns anos, até deixar de trabalhar, como todos os Moinhos no Rio Guadiana, uns mais cedo, outros mais tarde, entre finais de 1950 até ao decénio de 1970, apenas um, nesta Freguesia, chegou a trabalhar até 1980, sendo o seu declínio devido à mecanização das moagens e à emigração da população desta região.
O Moinho do Bolas já não fazia farinha e, depois de ter sido usado durante alguns anos como apoio ocasional para paródias e alojamento provisório, o senhor José Glórias acabou por o vender ao senhor Kuni um alemão que estava a morar na Vila de Terena, pelo valor simbólico de cem escudos (hoje cinquenta centimos de euro), depois o novo proprietário fez algumas alterações no interior do edifício e foi frequentado pelo senhor Kuni e amigos, onde fizeram festas até perto do ano de 2000, quando os ditos alemães desapareceram de Terena e o Moinho ficou abandonado.
Quando a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva, EDIA, mandou efetuar o levantamento patrimonial no regofo da Barragem de Alqueva, procuraram o proprietário, desaparecido desta região e desconhecemos se o conseguiram encontrar ou a familiares, porque, parece que, o dito Moinho nessa data foi avaliado em dez mil euros. 
O Moinho do Bolas, encontra-se submerso nas águas da Albufeira de Alqueva.
(Algumas informações foram obtidas no livro: "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva, porém, outras foram em diversos documentos e conhecimentos pessoais com presença em diversos Moinhos da Freguesia de Capelins e com explicações de alguns Moleiros e neste caso, com a colaboração do bisneto do primeiro proprietário senhor António Rainho e do neto do último Moleiro e proprietário António Ramalho).



Fim 

Texto: Correia Manuel 

Moinho do Bolas, em Capelins 






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