quarta-feira, 1 de maio de 2019

Moinho das Azenhas D' El-Rei de dentro - 5

Os Moinhos de água da Freguesia de Capelins 

5 - Moinho das Azenhas D' El-Rei de dentro, no Rio Guadiana 1426

O Moinho designado Azenhas D' El-Rei de dentro situava-se/situa-se cerca de cem metros a jusante da foz da Ribeira de Lucefécit no Rio Guadiana, junto às terras da herdade do Roncão (Novo), em Capelins. 
Este Moinho tinha a particularidade de ter sido construído em conjunto com um Moinho espanhol, sobre a fronteira do Reino de Portugal com o Reino de Castela, existindo uma lenda nas terras de Capelins, onde diziam que o mesmo, foi mandado construir por D. João IV, cerca de 1650, por isso, eram as Azenhas D' El-Rei, mas não está correto, porque já consta na chancelaria do Rei D. João I o aforamento desta Azenha em 1426 a Dª Catarina de Sousa, sua criada. 
Assim, pensamos que, o Moinho das Azenhas D'El-Rei de dentro, foi construído nas primeiras décadas de 1300, pela Casa das Rainhas, então donatária da Vila de Ferreira, onde o mesmo se situava, depois, talvez no início da centúria de 1700, foi incluído na Comenda de Terena, da Ordem de Avis, em conjunto com os rendimentos do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, sendo administrada por diversos Comendadores ao longo da centúria de 1700 até 1834, entre os quais, o Conde de Vila Nova D. José Maria de Lencastre e, cerca de 1800 por Francisco de Melo Cogominho, Tenente no Regimento de Cavalaria de Évora, o qual consta em diversos documentos e numa escritura do Moinho das Azenhas D' El-Rei de fora de 15 de Junho de 1796 do Cartório da Vila de Terena, assim como, também nela é referido o Moinho espanhol junto ao português, cujo proprietário era o Conde de Cheles que, nesta data era D. José Manuel de Villena Y Fernandez  de Córdoba 5º Conde de Via-Manuel.
Era um Moinho de rodízio, ou roda horizontal, com um aferido, um casal de mós ou linha de moagem, uma situação única no Rio Guadiana, nesta região, onde todos os Moinhos tinham pelo menos dois aferidos. 
As mós andadeiras, eram encimadas pelas Tremonhas, ou seja, um depósito de madeira em forma de pirâmide invertida onde o Moleiro depositava os cereais que, lentamente caiam nos olhos das mós andadeiras e, eram moídos por estas, contra os poisos ou mós fixas, sendo transformados em farinha. Quando as Tremonhas ficavam vazias, ou porque o Moleiro adormecia, uma vez que trabalhava 24 horas, ou andava fazendo outros trabalhos e descuidava-se, existia um alarme artesanal feito com uma armação de arame com um pequeno chocalho na extremidade superior e, quando faltava cereal entre as mós, começavam a trepidar fazendo tocar o dito chocalho que chamava o Moleiro. 
O açude que, atravessava o rio Guadiana desde a herdade do Roncão até à margem esquerda do mesmo rio do lado Espanhol, o qual, canalizava a água até à adufa, ou boca do canal onde entrava a água que, através da mó andadeira sobre a outra mó ou poiso, transformava os cereais em farinha e servia os três Moinhos aqui mencionados.
O Moinho das Azenhas D’El Rei de dentro, dispunha de uma abertura ou janela na sua parede divisória interior, correspondente à linha de fronteira entre Portugal e Espanha que, foi fechada por ocasião da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), porque, foi denunciado que seria ponto de observação de eventuais perseguidos pelos franquistas, vendo com antecedência quem se aproximava deste lugar e, facilmente podiam preparar a sua fuga para terras de Portugal.
Como este Moinho de dentro, foi construído primeiro do que o Moinho de fora, o dono deste ficou obrigado a dar acesso pelo seu interior e, os clientes e os Moleiros seguiam por cima do açude até ao outro Moinho, ou tinham a opção de o fazer por barco pelo lado de cima do açude.
A sua laboração terminou na década de 1960, como a maioria dos Moinhos do Rio Guadiana. 
(Algumas informações foram obtidas no livro: "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva, porém, outras foram em diversos documentos e conhecimentos pessoais com presença em diversos Moinhos da Freguesia de Capelins e com explicações de alguns Moleiros). 


Vejamos o aforamento desta Azenha na chancelaria do Rei D. João  e na de D. Duarte

Feita em Sintra no dia 06 de Agosto de 1426 

Chancelaria de D. João I, livro IV fol. 96 

"acenha na Ribeira de odiana em oliuença 

Carta per que o dicto senhor deu de foro hüa acenha que elle ha acerca d oliuença na Ribeira d odiana ao porto que chamam de chelles a dona catelina de sousa sua criada e a duas pesoas despois de sua morte sucesiue por huü quarteiro de trigo de xvj alqueires e dous pares de capoões e duas duzeas d ouos em cada huü anno de foro E acontecendo que hi aia guerra com castella que ella nem as dietas pesoas nom seiam theudas pagar o dicto foro emquanto a dieta guerra durar porque a dieta acenha sta no stremo e em taães tempos nom pode moer etc "ern sintra vj dias d agosto de mjl iiij' xxvj annos." 


Depois em 17 de Fevereiro de 1438 o Rei D. Duarte faz a confirmação do dito aforamento a Dª Catalina (Catarina) de Sousa da dita Azenha, chamada Azenha D' El-Rei. 

"A dona Catelina confirmação d aforamento
Carta per que o dito senhor confirmou huü aforamento que seu padre fez a dona Catelina sua criada e a duas pessoas depos ella, de hüa acenha que está na Ribeira de hudíana ao porto de chelles, de que paga de foro em cada huü anno huü quarteiro de trigo per medida dereyta de xvj alqueires quarteiro E dous pares de capoões e duas duzeas d ovos, todo em salva pera o dito senhor etc em evora xvij dias de fevereyro de mjl iiij" xxxviij annos." 
Chancelaria de D. Duarte.
Carta feita em Évora aos dezassete dias do mês de Fevereiro de 1438. 


Fim

Texto: Correia Manuel 

Vejamos quem era Dona Catarina de Sousa 

A Dona Catarina de Sousa era criada de D. João I, vejamos mais alguns dos seus direitos confirmados pelo Rei D. Afonso V.
CARTA DE CONFIRMAÇÃO DE D. AFONSO V DE CARTA DE DOAÇÃO A DONA CATARINA DE SOUSA, CRIADA DE D. JOÃO I, POR SEU CASAMENTO COM JOÃO FREIRE, CRIADO RÉGIO E MEIRINHO-MOR, A QUANTIA DE 4.000 COROAS, SUBSTITUÍDAS PELOS DIREITOS REAIS DE SERPA, SENDO ESTES MAIS TARDE SUBSTITUÍDOS PELO PAGAMENTO DE 2.000 COROAS EM OURO E AS OUTRAS 2.000 PELOS DIREITOS QUE RENDEM O SERVIÇO NOVO DOS JUDEUS DE BEJA E DE OUTROS LUGARES QUE COM ELE ESTEJAM EM ARRENDAMENTO E DA SISA JUDENGA QUE PAGAM OS JUDEUS QUE VÊM À FEIRA DE VERA CRUZ.
Chancelaria de D. Afonso V, liv. 11, f. 25
dia 25 de Maio de 1450
Arquivo Nacional da Torre do Tombo 

Texto: Correia Manuel

Azenhas D' El-Rei - Moinho de dentro - Capelins 


















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