sexta-feira, 3 de maio de 2019

Moinho da Cinza - 8

Os Moinhos de água da Freguesia de Capelins

8 - Moinho da Cinza 

O Moinho da Cinza, situava-se/situa-se na margem direita do Rio Guadiana, junto à herdade da Defesa de Bobadela de cima no Porto da Cinza em Capelins. 
Prevê-se que, a sua construção, tenha sido nas primeiras décadas de 1700, quando se deu grande mudança na Vila de Ferreira, em termos sócio económicos, esta herdade e a herdade da Defesa de Ferreira, foram doadas à Casa do Infantado e as restantes dez herdades foram divididas em duas, e vendidas aos lavradores e foram feitos aforamentos de algumas courelas a Irmandades e a seareiros, aumentando a necessidade de Moinhos nesta região.
Como, as pessoas, animais e mercadorias que passavam, a fronteira tinham de pagar a "Sisa ou imposto da alfândega", que na linguagem popular era "Cinza", esta situação deu a designação ao "Porto Seco de Terena", ao lugar e ao Moinho.
Este Moinho, era de rodízio ou roda horizontal, com pelo menos dois aferidos, ou seja, casais mós ou linhas de moagem.
As mós andadeiras, eram encimadas pelas Tremonhas, ou seja, um depósito de madeira em forma de pirâmide invertida onde o Moleiro depositava os cereais que, lentamente caiam nos olhos das mós andadeiras e, eram moídos por estas, contra os poisos ou mós fixas, sendo transformados em farinha. Quando as Tremonhas ficavam vazias, ou porque o Moleiro adormecia, uma vez que trabalhava 24 horas, ou andava fazendo outros trabalhos e descuidava-se, existia um alarme artesanal feito com uma armação de arame com um pequeno chocalho na extremidade superior e, quando faltava cereal entre as mós, começavam a trepidar fazendo tocar o dito chocalho que chamava o Moleiro. 
 O Minho da Cinza tinha um açude construído em pedra com aparelho gravitacional provido de caneiro ou pesqueira, permitindo ao Moleiro e família fartura de peixe. O açude barrava e canalizava a água para as adufas, ou bocas dos canais, fazendo mover a roda motriz.
"O caneiro era uma pesqueira fixa instalada no leito do rio, abaixo dos paredões dos açudes, aos quais era adicionada uma rampa afunilada com uns orifícios laterais na base, chamados «ouvidos», e com um ligeiro declive no sentido inverso ao curso de água, feita de pedra e cal e com estacas verticais de varas de arbusto, ou em ferro. Quando os peixes subiam o rio, deparavam-se com o açude, então procuravam o ponto onde era mais fácil galgá-lo, esse ponto era a esquina de junção entre a rampa e o açude! Quando os peixes saltavam, entravam pelos ouvidos da rampa e eram logo apanhados pela corrente e arrastados para dentro da armadilha e das redes. 
Sabemos que, nos últimos anos da sua laboração pertencia a alguns lavradores da região, mas desconhecemos quem o mandou construir, no entanto, por analogia com outros casos, pensamos que, também teriam sido alguns lavradores.
Um dos Moleiros mais conhecidos que esteve muitos anos no Moinho da Cinza foi o senhor Francisco Vieira, conhecido como, "ti Xico da Cinza", foram tantos anos, que ele e alguns filhos ficaram com a alcunha "Cinza" ligada ao dito Moinho, como foi o caso do senhor António da Cinza, conhecido pelo "Tonico da Cinza", com o nascimento registado em Amareleja, mas capelinense de coração, que toda a sua vida esteve ligado ao Rio Guadiana, não só como Moleiro, e pescador, mas também, como organizador das paródias que lá faziam.
O Moinho da Cinza, como quase todos nesta região, deixou de fazer farinha na década de 1960/70 e, atualmente encontra-se submerso pelas águas da Albufeira de Alqueva, deixando muitas saudades à população de Montejuntos, por ser o lugar que quase toda a gente frequentava nas suas ligações ao rio Guadiana. 
(Algumas informações foram obtidas no livro: "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva, porém, outras foram em diversos documentos e conhecimentos pessoais com presença em diversos Moinhos da Freguesia de Capelins e com explicações de alguns Moleiros). 


Texto: Correia Manuel

Moinho da Cinza - Capelins 






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