quinta-feira, 2 de maio de 2019

Moinho das Azenhas D' El-Rei de fora - 6

Os Moinhos de água da Freguesia de Capelins 

6 - Moinho das Azenhas D' El-Rei de fora 

O Moinho designado Azenhas D' El-Rei de fora situava-se/situa-se a cerca de cem metros a jusante da foz da Ribeira de Lucefécit no Rio Guadiana, junto às terras da herdade do Roncão (Novo), na Freguesia de Capelins. 
As Azenhas D’El Rei, segundo alguns habitantes de Montejuntos, tomaram o nome de um antigo monarca português, presumivelmente D. João IV (1604-1656), que caçara na área, mas não está correto, porque a Azenha del-Rei já existia em 1426 no reinado de D. João I, quando foi aforada a Dª Catarina de Sousa, sua criada. 
Com base em datas constantes em documentos, algumas respeitantes, diretamente a este Moinho, parece-nos que, o mesmo foi construído em meados da centúria de 1700, muito mais tarde do que o Moinho de dentro, talvez, para não lhe fazer concorrência em termos de fregueses e, principalmente no uso de água que, nos anos secos era escassa e o açude que barrava a água e canalizava para as engrenagens era o mesmo e sendo os Moinhos de proprietários diferentes, podia originar desentendimentos, como aconteceu noutros casos.
Assim, pensamos que o Moinho das Azenhas D'El-Rei de fora, foi construído cerca de 1740, desconhecemos quem o mandou construir, mas sabemos que nesta data já tinham sido vendidas as herdades da Vila de Ferreira a lavradores da região, a maioria da Vila de Terena e, talvez tenha sido um grupo desses lavradores a mandá-lo construir, mas quando foi vendido a Anastácio Nunes, lavrador da herdade da Zorra, por 240.000 réis, ou seja 240 escudos, em 15 de Junho de 1796, os seus proprietários eram Francisco Coelho Vidigal e sua mulher Florência Maria, moradores na Vila de Terena.
 Era um Moinho de rodízio, ou roda horizontal, com pelo menos dois aferidos, dois casais de mós ou linhas de moagem. 
As mós andadeiras, eram encimadas pelas Tremonhas, ou seja, um depósito de madeira em forma de pirâmide invertida onde o Moleiro depositava os cereais que, lentamente caiam nos olhos das mós andadeiras e, eram moídos por estas, contra os poisos ou mós fixas, sendo transformados em farinha. Quando as Tremonhas ficavam vazias, ou porque o Moleiro adormecia, uma vez que trabalhava 24 horas, ou andava fazendo outros trabalhos e descuidava-se, existia um alarme artesanal feito com uma armação de arame com um pequeno chocalho na extremidade superior e, quando faltava cereal entre as mós, começavam a trepidar fazendo tocar o dito chocalho que chamava o Moleiro. 
As comportas dos canais deste Moinho apresentavam uma particularidade, que se prendia com a sua localização, estavam colocadas no interior do edifício, junto à parede a montante, enquanto que, noutros Moinhos elas estavam na parte exterior do edifício. 
O açude atravessava o rio Guadiana desde a herdade do Roncão até à margem esquerda do mesmo rio do lado Espanhol, o qual, canalizava a água até à sua engrenagem que, através da mó, transformava os cereais em farinha e servia os três Moinhos aqui mencionados.
O Moinho das Azenhas D’El Rei de fora tinha como auxiliar o Moinho do Bufo, para onde o Moleiro se mudava quando este ficava submerso pelas grandes cheias do Rio Guadiana.  
Como este Moinho de fora, foi construído depois do Moinho de dentro, o seu dono ficou obrigado a dar acesso pelo seu interior e, os clientes e os Moleiros seguiam por cima do açude até ao outro Moinho, ou tinham a opção de o fazer por barco pelo lado de cima do açude.
A sua laboração terminou nos finais da década de 1970, como a maioria dos Moinhos do Rio Guadiana, sendo o senhor Venâncio Silva e o senhor José Rito, ambos da Aldeia de Montejuntos, os últimos Moleiros.
(Algumas informações sobre este Moinho foram obtidas no livro: Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva), porém, existem situações que assistimos, pessoalmente ou foram-nos contadas pelos ancestrais que frequentaram os Moinhos do Rio Guadiana em Capelins.

Fim

Texto: Correia Manuel


Azenhas D' El-Rei - Moinho de fora 












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