quarta-feira, 8 de maio de 2019

Moinho do Calvinos - 14

Os Moinhos de água da Freguesia de Capelins

14 - Moinho do Calvinos
O Moinho do Calvinos situava-se/situa-se na margem direita do rio Guadiana, junto à herdade do Roncanito de Capelins, a jusante do lugar onde o rio Guadiana desfazia a volta a um outeiro que lhe barrava a trajetória, já perto da foz da Ribeira do Azevel.
Este Moinho estava/está cheio de história, embora apareça na chancelaria do Rei D. Afonso IV com a designação de Cuncos de Terena, tal como outro Moinho que ficava na margem esquerda do Rio Guadiana chamado de Cuncos de Mourão, ambos foram aforados (arrendados) pelo dito Rei ao senhor João Perez Alfayate e à sua mulher Catalina (Catarina) Dominguez de Monsaraz, em 1326, porém, parece que, este Moinho foi reconstruido e ampliado logo após terminar a Guerra da Restauração em 1668, talvez, pela família nobre, os Sousa Meneses, de Vila Viçosa, que o aforaram (arrendaram) a interessados, podendo esse aforamento ser vendido a outrém, e foi o que aconteceu no dia 02 de Agosto de 1810, quando o dito aforamento foi vendido pela senhora Apelónia Callada, viúva de António Ramalho, lavrador da herdade da Regueira de Évora Monte, por 500 mil réis, a Henrique José Cordeiro, morador na Vila de Monsaraz.
Este Moinho era/é de rodízio ou roda motriz horizontal, talvez com três aferidos, ou seja, três casais de mós, ou linhas de moagem.
As mós andadeiras, eram encimadas pelas Tremonhas, ou seja, um depósito de madeira em forma de pirâmide invertida onde o Moleiro depositava os cereais que, caiam lentamente nos olhos das mós andadeiras e, eram moídos entre estas e os poisos ou mós fixas, sendo transformados em farinha. Quando as Tremonhas ficavam vazias, ou porque o Moleiro adormecia, uma vez que trabalhava 24 horas, ou andava fazendo outros trabalhos e descuidava-se, existia um alarme artesanal feito com uma armação de arame com um pequeno chocalho na extremidade superior e, quando faltava cereal entre as mós, começavam a trepidar fazendo tocar o dito chocalho que chamava o Moleiro. 
Como todos os Moinhos tinha um açude, neste caso, sem caneiro ou pesqueira, construído de pedra imbrincada ou travada em aparelho gravitacional, que barrava e canalizava a água para as adufas ou bocas dos canais que movimentava as rodas motrizes. 
Em tempos, o Moinho do Calvinos, tinha como auxiliar o Moinho das Piteiras na Ribeira do Azevel, para onde o Moleiro se mudava enquanto duravam as grandes cheias do Rio Guadiana, que podiam durar alguns meses, submergindo o Moinho que não podia trabalhar.
Um dos últimos Moleiros e proprietário do Moinho do Calvinos foi o senhor Domingos Pinto, de Monsaraz, cujo pai, também foi Moleiro, vejamos a sua entrevista a Luís Silva em 1994 e 1995:
"Tínhamos os dois moinhos a laborar, tínhamos empregados. Lá em baixo, nos Clérigos, chegámos a trabalhar de dia e de noite por turnos e eu estava aqui, em Calvinos, com outros homens.
Esses homens eram [pagos] a dinheiro; outras vezes, a dinheiro e a de comer, conforme. Nesse tempo, ganhava-se pouco [de jorna]: 10 escudos a de comer e 20 escudos a seco.
Depois, passou a ser mais, 30, 40 escudos. Ao quarto também se metia pessoal, mas isso eram os mestres que trabalhavam de dia e de noite; era ao quarto e dávamos-lhes também a amassadura, conforme a gente combinava o ordenado; se tinha direito à amassadura, ganhava-a todas as semanas, 15 ou 20 quilos de farinha".
«Na parte do Verão, quando a ribeira não secava, claro, aquilo tinha muita clientela, iam lá muitos clientes; chegava a pontos em que o moinho [de Calvinos] e a rua do moinho estavam cheios de sacos. Chegámos a ser ali três e quatro homens sempre efetivos. Agora trabalhavam uns, à noite trabalhavam outros e assim ia». 
«De Inverno, quando o moinho [de Calvinos] estava parado, a gente não trabalhava por fora, mas tínhamos sempre coisas a fazer: semear a sesmaria do moinho, apanhar bolota e azeitona, cortar árvores e amanhar os caminhos; em havendo uma vaga, tinham que se ir amanhar os caminhos; era tudo chapadas e barreiras grandes, tinham que se amanhar».
O Moinho do Calvinos deixou de trabalhar na década de 1960 ou 1970 e encontra-se submerso nas águas da Albufeira de Alqueva desde 2002. 
(Algumas informações foram obtidas no livro: "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva, porém, outras foram em diversos documentos e conhecimentos pessoais com presença em diversos Moinhos da Freguesia de Capelins e com explicações de alguns Moleiros). 

Podemos verificar que este Moinho já existia no ano de 1326, no reinado de D. Afonso IV, com a designação de "Cuncos".

"Carta de foro d huas Açenhas que son em Termho de Terena.
Don Affonso pela graça de Deus Rey de Portugal e do Algarue. A quantos esta carta viren faço saber que eu dou e outorgo a foro pera senpre a Johan perez Alfayate de monssaraz. e a Catalina dominguez sua molher as minhas acenhas que ora estan despovoadas no logar de cuncos termho de terena e de mouran so tal preito e condiçon que me de delas o quinto a salua porque foron apregõadas como he de custume e non acharon quen. por elas mais desse salua os sobredictos.
E eles deven fazer en ellas quanta benfectoria poderen no logar d assessega hu estavan ou a par delas hu viren que paden mais proveitar que sejan nos meus herdamentos en esse logar. e daren dellas a mjn esse quinto en salua ao tenpo como o dan das outras azenhas que eu ei nos outros logares dessa terra en cada hûu Ano. a mjn e a todos meus suscessores. E eles non deuen a dar nen uender nen dõar nen apenhorar nen escanbhar. nen en outra maneira alhëar as dictas acenhas a caualeiro nen a dona nen a escudeiro nen a clerigo nen a Religioso nen a outro homen poderoso senon aa taaes pessõas que seian de uossa condiçon que ben e conpridamente den A mjn. e a todos meus suscessores esse quinto do pan. e das outras cousas que deus hi der a ssaluo come dicto e En testemuynho desto e) Ihi dei esta carta. Dante en lixbõa prostumeiro dia de Julho El Rey o mandou per Domingos paaez. ouvidor dos seus fectos e da portaria Airas femandiz a ffez. Era. M. C. C. C.. e sasseenta e. iiij a. Anos. Domingos paaez ,
"A data neste documento é 01 de Julho de 1364 na Era de César, a qual, corresponde a 1326 na Era de Cristo, esta só começou a ser usada no Reino de Portugal no reinado de D. João I, causando confusões a algumas pessoas." 
(Algumas informações foram obtidas no livro: "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva, porém, outras foram em diversos documentos e conhecimentos pessoais com presença em diversos Moinhos da Freguesia de Capelins e com explicações de alguns Moleiros). 

Texto: Correia Manuel


Moinho do Calvinos - Capelins


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