segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O ciclo do pão - III

O ciclo do pão - III 

Após a monda do trigo, alguns lavradores e seareiros ainda espalhavam nas searas um adubo especial denominado sulfato amónio, com aparência de açúcar, ao qual davam o nome de "cobertura" e a partir daí era esperar até meados do mês de Junho para se iniciar a ceifa deste cereal, porque a das favas, cevada e aveia começava nos finais do mês de Maio. As mulheres e homens ceifeiros eram contratados pelos lavradores e seareiros para fazerem toda a ceifa, deslocando-se da Beira Baixa para estas terras e das nossas aldeias para os campos de trigo, onde ficavam até acabar a ceifa, dormindo no chão ao relento. A alimentação, geralmente era fornecida pelos patrões e era baseada em sopas de pão, açordas, gaspachos e sopas de grão, feijão, chixaros e outras. Começavam a ceifar antes do sol raiar e só terminavam depois do pôr do sol, com 4/5 intervalos para o almoço, (hoje pequeno almoço), "bucha" a meio da manhã, jantar, ao meio dia e de seguida a sesta debaixo de uma azinheira ou oliveira, depois a merenda e à noite a ceia (hoje o jantar) e logo a seguir deitar, porque pelas 5 horas da manhã tinham de se levantar e voltar ao mesmo ritmo. 
O cereal era ceifado manualmente com uma foice e os ceifeiros/as para se protegerem de eventuais cortes usavam na mão esquerda a que apanhava o cereal para a foice cortar, uns canudos feitos de cana e metidos nos dedos. 
O cereal cortado, ficava no chão em pequenos montes, os homens vinha atrás e atavam essas porções pela cintura com o próprio cereal, fazendo molhos, que eram juntos em montes, chamados "relheiros", para no fim da ceifa, ou até antes, serem carregados para as eiras. 
Em meados do mês de Julho, a maioria das ceifas estavam concluídas e as mulheres voltavam às suas casas, os homens continuavam com o trabalho de carregar os cereais para as eiras, para, a seguir o debulharem, mas antes, no chamado dia da "acaba", quase todos os patrões ofereciam uma festa, ou no rio Guadiana, ou no Monte, era uma caldeta (sopa) de peixe do rio, peixe frito e vinho!
Pela tardinha, chegavam à aldeia em carroças, todas ornamentadas com ramos e flores de "alandroeiro" e cantando as cantigas que estavam então em moda, sendo recebidos pelos que já tinham regressado e pelos que aqui se tinham mantido! 
Os Beirões regressavam à sua saudosa Beira!


Pão Alentejano 
Foto net




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