sábado, 11 de novembro de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi a banhos ao Rio Guadiana

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi a banhos ao Rio Guadiana 

Os rapazes da Aldeia de Ferreira, quando estavam de férias e aqueles que não tinham nada para fazer, juntavam-se, diariamente logo de manhã, numa das tabernas, ou à esquina do lagar do Monte Grande ou ainda, debaixo de uma oliveira na ex Aldeia de Capelins de Baixo, depois da troca de algumas ideias sobre o que fazer ao longo do dia, partiam à aventura. 

Num dia de verão, que se adivinhava muito quente, em meados do decénio de 1970, o grupo juntou-se debaixo da oliveira, foram contando peripécias da sua vida nos lugares por onde andavam, o tempo foi passando e a rapaziada começaram a queixar-se do calor que já sentiam e ainda nem eram onze horas, decerto, ia chegar aos quarenta ou quarenta e dois graus, e alguns rapazes começaram a dizer que era um dia para passar dentro de água e comentaram: 

- Não acham que era melhor a gente ir tomar um banho à Guadiana? Depois já passávamos o dia mais fresquinhos! 

- Até podíamos ir tomar um banhito à Guadiana, mas como vamos sem transporte para todos? Respondeu o João! 

A bicicleta do Manel estava encostada ao poial de pedras, olharam todos para ela e comentaram: - Aqui, está o transporte para dois, por isso, podemos arranjar mais duas bicicletas e está o caso resolvido. 

Os rapazes deram várias ideias para arranjar mais duas bicicletas, mas não conseguiram, porque, elas eram o transporte para o trabalho e não estava nenhuma ao dispor, então o João exclamou: - Querem mesmo ir a banhos à Guadiana? Então vamos embora, todos numa bicicleta! 

O Chiquinho quando ouviu o João, começou a rir e perguntou-lhe como é que uma bicicleta carregava com cinco ou seis rapazes? Então o João explicou à rapaziada que, a bicicleta carregava só com um de cada vez, mas esse rapaz percorria uns quinhentos ou seiscentos metros nela, depois deixava-a encostada à roda do caminho e continuava a andar, depois outro dos rapazes dos que seguiam a pé, quando chegassem junto dela, montava-se e fazia os mesmos metros e por ordem faziam todos isso, assim, no máximo em meia hora, estavam todos a tomar banho nas Azenhas del-Rei com a ajuda de uma única bicicleta.

Muito bem pensado e nem hesitaram, meteram-se a caminho do Rio Guadiana, mas quando lá chegaram, já iam todos brigados, porque, alguns ultrapassaram a distância a que tinham direito na bicicleta, até tinham contado os passos, por isso, não havia dúvidas que tinham abusado, por isso, depois de acesa discussão, deram uns mergulhos no pégo abaixo do Moinho das Azenhas del-Rei de fora, em cuecas, depois enxugaram um pouco ao sol, porque nem toalhas tinham levado, vestiram-se e voltaram à Aldeia de Ferreira, mas palmaram o caminho à pata galhana, porque só o Manel, o dono da bicicleta a usou de volta, e como era a hora de mais calor, depois de uma hora de caminhada, pelo Ribeiro do Carrão acima, pela Zorra e Ramalha, quando chegaram à Aldeia já tinham a visão turva, vinham desidratados, cheios de sede e brigados uns com os outros, mas à tardinha quando voltaram a juntar-se na taberna, já estava tudo esquecido, no entanto, essa aventura, nunca mais se repetiu, porque se tinham muito calor antes de partir para o rio Guadiana, quando voltaram vinham a arder por dentro e por fora e o banho não os arrefeceu. 

Fim 

Texto: Correia Manuel 


Moinho das Azenhas del-Rei




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