sábado, 30 de setembro de 2017

Resenha histórica da Vila do Alandroal Dicionário geográfico 1747 Padre Luiz Cardoso

Resenha histórica da Vila do Alandroal 
Dicionário geográfico 1747 Padre Luiz Cardoso 

"Alandroal ou Landroal. Villa na Provincia do Alentejo, Bispado de Elvas, Comarca de Aviz: eh seu Donatário o Grão Mestre de Aviz, em cujo dominio, e protecção está El-Rey nosso Senhor, como Regente, Governador, e Administrador. Consta de trezentos e sessenta e quatro visinhos (fogos) dentro da Villa, e no seu termo (Concelho) cento e vinte e hum, e não tem Lugar, ou Aldea alguma. Fica situada esta Villa nove legoas ao Sueste de Aviz, quatro da cidade de Elvas para o Sul, e legoa e meya ao Sueste da Villa de Borba. Tem seu assento na chapada de hum monte, que olha para o Poente: he partida em duas partes, e no meyo dellas fica o castello; a parte de cima se chama a Mata, e fica entre vinhas, e olivaes; e a parte de baixo está entre hortas, e farrageais de arvores fructiferas de espinho, e mais frutas, e lhe chamão o Arrabalde. He tradição tomara esta Villa o nome dos Allandros, que são humas plantas com folhas semelhantes às do louro; posto que mais grossas, e lizas, e a flor como rosas, das quais havia grande copia na sua fonte, abaixo da qual fica huma grande horta, a que chamão do Mestre, pelo ser dos Mestres de Aviz, no tempo em que os havia. 
O Castelo de Alandroal 
O castello tem sete torres em roda com sua muralha, e contra muralha, no meyo tem uma grande torre, e quatro portas; a mais principal fica entre duas torres, e na qual fica à mão esquerda ao sair para fora, tem huma inscripção, que diz assim: Deos he, e Deos será por quem elle for, ese vencerá. Sobre esta porta do castello, na altura de huma lança, está outra inscripção em huma pedra branca, que diz o seguinte: Era de mil trezentos e trinta e dous, a seis dias de Fevereyro começarão a fazer este castello por mandado do Mestre de Aviz Dom Afonso, e elle poz a primeyra pedra M.E.E.6.3.E. castello. Sobre a outra porta se vê a cruz da Ordem de Aviz com duas aguias, dos braços para cima dous grilhõs ao modo de Calatrava,e ao pé humas letras, que dizem: Mouro me fez.
A torre grande tem no meyo huma cruz da Ordem, com a seguinte letra: Era de mil e trezentos e trinta e seis annos a vinte e cinco dias andados de Fevereyro fez este castello D. Lourenco Affonso, Mestre de Aviz, à honra e serviço de Deos, e Santa Maria sua madre, dos herdeiros do muyto nobre Senhor D. Diniz Rey de Portugal, e dos Algarves reynante naquelle tempo , em defendimento dos seus Reynos: Salvator mundi, salva me. No canto da torre está outra inscripção, que é como a primeyra a porta Legali etc. Na porta desta torre, que cahe sobre o muro, em huma grande pedra branca, se lê o seguinte: Quando quizeres fazer alguma cousa, cata o que te he necessário, e depois verás, e quem de ti se fiar não o enganes, lealdade em todas as cousas.
Descobrem-se desta Villa para o Nascente a Villa de Juromenha, e a de Olivença; e para Poente a Cidade de Évora, e a Villa do Redondo; e para a parte do Sul a Villa de Monsarás; e do mais alto da torre grande do castello, se descobrem ao Norte a Villa de Estremoz, e ao Sul a Villa de Mourão. 
Esta Villa tem Termo (Concelho) seu, que se estende por espaço de três legoas, desde o penedo do Machos, até à herdade do Aguilhão, que fica contígua ao rio Guadiana. Comprehende dentro de si a Freguesia de N. Senhora do Rosário. Há nesta Villa huma só Paróquia, fundada dentro do castello: he Igreja da Ordem de Aviz; e tem por Orago N. Senhora da Conceição: Consta de cinco altares, o mayor com a imagem da Senhora, e dous collateraes; hum da parte do Evangelho, dedicado a N. Senhora do Rosário; e outro da parte de Epistola de N. Senhora do Carmo. No corpo da Igreja, que he de huma só nave, há mais dous altares particulares; hum das Almas da parte da Epistola; e outro do Menino Jesus da parte do Evangelho. Há nella cinco Irmandades, a do Senhor, a de N. Senhora do Carmo, a de N. Senhora do Rosário, a das Almas, e a da Cruz de Christo.
O Paroco he Prior, e tem dous Beneficiados providos pelo Tribunal da Mesa da Consciencia, todos do habito de S. Bento de Aviz. O Prior tem de renda três moyos de trigo ( 1 moio = 720 Kg), dous de cevada, e vinte cinco mil reis em dinheiro. Os Beneficiados têm cada hum de renda dous moyos de trigo, moyo e meio de cevada, e dez mil reis em dinheiro.
No caminho da fonte, que vay para o arrabalde da Villa, ha vestigios de hum Hospicio, que fundou, e dotou com boa renda Diogo Lopes Siqueira, no qual se diz, que assistião tres Monges de S. Bento, e era obrigação terem huma cadeira de Latim, e outra de Theologia Moral, que não tem, e cobra as rendas, que passão de tres mil cruzados, ao Mosteiro de S. Bento dos Negros da Cidade de Lisboa.
Tem Casa da Misericórdia, de cujo principio não há noticia, e huma casa, que serve de Hospital para recolhimento dos pobres passageiros. No redor desta Villa há cinco Ermidas, que são a de S. Pedro, a de N. Senhora da Consolação. Nesta Ermida jaz, sepultado Diogo Lopes Siqueira, que foy o que fundou o Hospicio dos Monges Bentos, de que acima fallámos, juntamente com seus filhos, na sepultura, que aqui se vê de pedra marmore, com seu epitáfio. A de N. Senhora das Neves, a de Santo António, e a de S. Bento, Imagem muito milagrosa, a cuja intercessão confessão os moradores não entrar peste nesta Villa em nenhum tempo, e o mesmo Santo assim o prometeo apparecendo a hum seu devoto por nome de João Serigado. Para se livrar do contágio, em que ardião as vizinhanças desta Villa, se recolheo a ella a Senhora Duqueza de Bragança com sua filha a Senhora Dona Isabel, e com toda a sua familia no anno de (1600?), no tempo do Senhor Rey Dom Sebastião; e depois de entrar nella, nenhuma pessoa adoeceo.
Este exemplo imitarão outras muitas pessoas, que feridas do mortal contagio, o mesmo era chegar a esta Villa, que ficarem livres da peste. Deste milagre do Senhor faz menção Fr. Leão de Santo Thomás na Benedictina Lussitana. No tempo antigo acodião a esta Ermida; hoje porém he menor o concurso, e só na ultima Oitava da Pascoa se ajunta muita gente. Dentro desta Villa está a Igreja, ou Ermida de S. Sebastião, a qual diz ser mais antiga, que a mesma Villa, e de novo reedificou fazendo-se toda no anno de 1722.

Ao fundo da praça há uma fermosa fonte, de que bebe o povo: he de pedra branca, com seis bicas de bronze, e com seu taboleiro ao redor da mesma pedra: tem oitenta palmos em quadro, vinte de canto a canto, e oito palmos de altura de agua, que sempre está lançando por cima. Com a agua, que sobeja se alimentão varias hortas que estão em seu rego, e passando por muitos jardins: daquy vai fazer moer tres lagares de azeite, pouco distante dos limites desta Villa. Ha outra fonte, a que dão o nome de Fonte das Freiras, que rebenta do coração de huma rocha, de bruta e tosca Peneda, que dá agua a muitas hortas, e pomares. Entre esta fonte, e a Villa ha um sitio, a que chamam de Villares, donde querem alguns estivesse antigamente fundada esta Villa; e não parece fora de razão pelos vestigios, que ali se achão, como são telhas, e ladrilhos; hoje porém, se acha povoado de olivaes.
Dentro destes olivaes ha dous algares de agua muito fundos, os quaes hoje se achão cobertos por cima de abobeda, prevenção dos moradores da Villa, para evitar as desgraças, que nelles podião suceder. parece terem daqui seu principio as fontes desta Villa, e de outras Povoações circumvizinhas, e lhes reparte as aguas por meatos subterraneos; porque já houve homem curioso, que lançando em um dos ditos algares tres cantaros de azeite, foy sair a esta Villa em varios olhos; e em outra de Villa Viçoza, na Villa de Estremoz, na Villa do Cano, na da Villa de Aviz, nas Fontes Furadas, Termo da Cidade de Évora, e finalmente na lagoa de Alhanoura (Ana Loura), Termo da Villa de Estremoz, Desviado desta Villa huma legoa, mas ainda no seu Termo (Concelho), corre a serra de S. Miguel, nome que lhe deu uma Ermida deste Soberano Archanjo, que se ve edificada no mais alto della, cua Casa dizem foy fundada no tempo da Gentilidade, trezentos e tantos anos antes da vinda de Christo ao mundo, e se entende ser mais antiga, que a Igreja de Nossa Senhora da Boa Nova de Terena. Por diante desta Villa passa o rio Lucefeci, que nos tempos antigos foy castello, e ainda no tempo presente lhe dão o nome de Castello Velho; porém não ha certeza de quem fosse. Na Defesa da Granja, Termo do Alandroal, se veem alguns outeiros minados, que mostra terem lugares donde se tirarão metaes de ferro, ouro, ou prata, e não consta em que tempo se tirassem.
Abunda no termo desta Villa de toda a sorte de caça, como também de varias especies de gado, assim miudo, como grosso, em razão dos ferteis pastos, que cria.


Dos Inquéritos de 1721 e 1732
Fim 
Fonte das seis bicas - Alandroal


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