sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Memórias da chegada da Escola de Instrução Primária à Aldeia de Ferreira

Memórias da chegada da Escola de Instrução Primária à Aldeia de Ferreira

Antes da Revolução de 1820, o ensino estava por conta de Religiosos ou de privados, pelo que, não era acessível a todos, mas na Constituição de 1822 já constava que, a Instrução Primária era um direito público, mas esteve esquecida alguns anos, até que, em 1835 o Ensino de Instrução Primária foi decretado gratuíto e, nos anos seguintes, foram publicados vários Despachos e Decretos no sentido da sua implementação, mas as dificuldades continuaram, não por falta de professores, mas de alunos.
As Leis de 2 de Maio de 1878 e de 11 de Junho de 1880, tornaram o Ensino de Instrução Primária público obrigatório, exceto os casos em que os pais declaravam que a criança recebia ensino em família, residia em distância em relação à escola superior a 2 quilómetros e pobreza extrema dos pais, pelo que, esta permissa da lei permitia grande falta de assiduidade, levando o professor Munhós da Vila de Terena a apresentar queixa à Direção Geral da Instrução Primária, em 1880, escrevendo que, durante a apanha da azeitona e da monda a Escola de Terena ficava deserta, porque as alunas eram retiradas para estes trabalhos e os alunos para o feixe de lenha.
Parece que, o Ensino de Instrução Primária público chegou às Vilas de Alandroal e de Terena, na mesma data, uma vez que, no dia 30 de Dezembro de 1862, o Rei D. Luís I, nomeou professor vitalício para a Vila de Terena, António da Rosa Munhós que já era professor regente nesta Vila desde 1850, e mais tarde verifica-se a jubilação autorizada pelo Rei D. Luís I, no dia 08 de Junho de 1876, do professor da Vila do Alandroal Joaquim Maria Monte, sobre o qual, não encontramos a nomeação, mas prevê-se que, foi nomeado na mesma data do dito professor de Terena, ou seja, no ano de 1850, enquanto que, nas restantes Freguesias do Concelho de Alandroal, temos indícios que foram nomeados professores de Instrução Primária na década de 1890, já pelo Rei D. Carlos I.
No caso da Freguesia de Capelins, como foi referido, o Ensino de Instrução Primária público presume-se que tenha chegado na década de 1890, mas a Escola foi instalada na Aldeia de Montes Juntos, porém, por pressão de uma Comissão constituída por 21 residentes, conforme consta no Diário do Governo número 225 de Terça Feira 24 de Setembro de 1912, o Despacho da Direção Geral da Instrução Primária determinou o seguinte: "Transferida a escola mista da Freguesia de Santo António de Capelins, Concelho do Alandroal, Distrito de Évora, para o Lugar de Aldeia de Ferreira, da mesma Freguesia", pelo que, o Ensino de Instrução Primária público chegou à Aldeia de Ferreira, nessa mesma data.
Por analogia com outros casos passados nesta região, entende-se que, com a transferência da dita escola, também foi transferido o seu professor, porque no Diário do Governo número 77 página 1202 de Quinta Feira 03 de Abril de 1913, a Direção Geral da Instrução Primária abriu concurso para um professor para a Escola mista do Lugar de Montes Juntos, Freguesia de Capelins, Concelho de Alandroal, continuando, assim, nesse ano de 1913 a funcionar a Escola de Instrução Primária em Montes Juntos, talvez, com apenas um ano de interregno.
A Escola de Instrução Primária da Aldeia de Ferreira, em 1912 ficou instalada numa casa no centro da ex-Aldeia de Capelins de Baixo, disponibilizada pela Comissão e, talvez a mesma casa, tenha sido, igualmente para alojamento do professor, funcionando nesta casa até à primeira metade da década de 1930, a partir da qual, foi transferida para uma casa no Monte Novo de Capelins, com condições débeis para esse fim, assim como, com acessos difíceis, mas aqui funcionou até ao ano de 1949, quando passou para as novas instalações no edifício da rede de Escolas de Instrução Primária no ano letivo de 1949/50.
A arquitetura das novas instalações da Escola de Instrução Primária da Aldeia de Ferreira, foi em conformidade com as restantes a nível nacional dessa época e, era constituída por duas salas de aulas antecedidas por casas de entrada com cabides onde os alunos/as podiam deixar os bonés, chapéus, casacos, sacos de lanche ou do almoço, do conjunto faziam parte pátios cobertos para o recreio em caso de chuva ou muito calor, que incluíam casas de banho, cuja água para a sua higiene vinha de um depósito que enchia com uma bomba manual a partir de um poço da escola, toda a estrutura era envolvida por um recinto atrás e à frente com parte ajardinada e onde os alunos/as podiam brincar.
Durante as décadas de 1950 e 1960 os alunos/as enchiam as duas salas de aulas, com média acima de 50 alunos/as nas duas salas, mas a partir da década de 1970, devido ao declínio da população, pelo exôdo para os centros populacionais, os alunos começaram a diminuir e passou a funcionar apenas uma sala de aula e como os alunos/as não atingiam o número mínimo decretado pelo Governo de então, acabou por fechar as portas ao Ensino de Instrução Primária no final do ano letivo de 2006.
Nesta Escola da Aldeia de Ferreira, aprenderam a ler, escrever e contar, muitas centenas de alunos/as, fazendo aqui a 4ª ou 6ª classes que lhe abriram horizontes e deu-lhe asas para voarem e procurarem novas oportunidades, melhorando as suas vidas e, assim, dignificaram esta escola e as respetivas professoras que, aqui trabalharam.
Assim, terminou o ciclo da atividade do Ensino de Instrução Primária público na Aldeia de Ferreira, que durou entre 1912 e 2006, ou seja, durante 94 anos, passando por 3 edifícios, esteve no primeiro, antes referido, cerca de 20 anos, depois no Monte Novo de Capelins cerca de 17 anos e no último e atual 57 anos, estando este edifício, esperando que lhe seja dado, outro fim.
Texto: Correia Manuel




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