domingo, 2 de julho de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi à tourada a Reguengos de Monsaraz

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi à tourada a Reguengos de Monsaraz 

Nos alvores da década de 1960, cerca de quinze dias antes da Feira de Santa Maria, no dia quinze de Agosto em Reguengos de Monsaraz, o avô do Chiquinho de Capelins, perguntou-lhe se queria ir com ele ver a corrida de touros na dita Feira, onde o cabeça do cartel era José Mestre Baptista. 

O Chiquinho deu pulos de contente, dizendo que sim, gostava muito de ir, mas o avô adiantou que, só podia ir se o pai o deixasse, assim, logo que tivesse vagar ia a Capelins de Cima falar com ele para ficar tudo acertado. 

Passaram uns dias e o avô passou pela casa do pai do Chiquinho e disse-lhe que ia à Feira de Santa Maria e queria-o levar com ele a ver a tourada e o pai respondeu que, também iam à Feira, mas como não ligavam, não iam à tourada, no entanto, podiam ir todos na carroça, partiam dali à volta das cinco horas da manhã e antes das oito horas já estariam na estalagem, onde deixavam o macho e a carroça e se a tourada acabasse tarde até podiam lá dormir e, assim ficou combinado.

Na madrugada de 15 de Agosto saíram de Capelins, pelo Monte da Sina, Fontanas, Santa Clara, Santiago Maior, até Reguengos de Monsaraz, onde chegaram ainda cedo e o avô foi logo a correr comprar os bilhetes para a corrida, para ele e para o Chiquinho, porque, sabia que ia ser grande enchente, demorou algum tempo na fila da bilheteira e, quando voltou disse que tinha apanhado os bilhetes, mesmo à tabela e eram para o setor do sol, mas como a corrida só começava às cinco da tarde, a essa hora já se aguentava bem o sol, esquecendo que, dentro da praça era diferente do campo, e acrescentou que tinham de estar à porta de entrada pelas quatro horas, porque era muita gente e quanto mais perto das cinco horas, maior era a confusão.  

Andaram pela Feira a fazer algumas compras, comeram lá na estalagem e à hora marcada, lá foram para a praça de touros, não levaram muito tempo a entrar e ainda devia faltar mais de meia hora para o início da tourada e já estavam em brasa, a assar nos seus lugares debaixo de sol de uns 40 graus C, mas o movimento era tanto e o ambiente festivo faziam esquecer o sofrimento. 

O Chiquinho e o avô já estavam com o olho na entrada dos cavaleiros, bandarilheiros, forcados, e em toda a parafernália, assim como, nos aficionados e aficionadas, algumas entravam carregadas de flores para depois atirar aos toureiros e forcados  para a praça, e o avô do Chiquinho observava a multidão na tentativa de vislumbrar alguém conhecido lá da Freguesia ou dos arredores, até que, começou a apontar em frente, com o indicador, para o setor da boa sombra e a dizer alto: - Ó neto, olha lá onde está o meu dinheiro! Ó neto, olha lá onde está o meu dinheiro! E repetia, sem se calar, apesar do Chiquinho, muito envergonhado, lhe pedir para estar calado, porque estava toda a gente a olhar para ele, sem ninguém perceber o que se passava e o Chiquinho pensou que o avô tinha apanhado alguma insolação e estava a variar e ainda procurou um sítio onde se esconder, mas não havia nenhum por perto, a sorte foi que, naquele momento, a festa taurina começou, entraram na praça, os cavaleiros, bandarilheiros e forcados e, o espetáculo do avô acabou ali. 

A corrida foi espetacular, correu normalmente, apenas a queda de alguns forcados, e quando estava quase no fim, o avô e o Chiquinho saíram apressados, porque a carroça estava pronta para partir e tinham muito caminho a fazer até Capelins, mas assim que saíram da praça de touros, o Chiquinho perguntou ao avô, porque tinha feito aquela figura, e ele contou-lhe que, o homem com o chapéu à toureiro, que estava mesmo na sua frente, na rica sombra, era o seu compadre Manel que no dia anterior lhe tinha pedido quinhentos mil réis (quinhentos escudos) emprestados, dizendo que era para ir com a mulher ao médico Doutor Jeremias a Vila Viçosa, e para comprar as mésinhas, ora, como era para a doença, não os podia negar, mas como viste enganou-me e isso não se faz, a gente fomos para o sol e ele foi para a sombra com o meu dinheiro, pois olha neto, nunca mais ficamos ao sol, desabafou o avô!

Como o compadre Manel viu que o avô estava zangado lá na praça de touros, no dia seguinte foi pagar-lhe, antes do tempo que tinham combinado, que seria daí a quinze dias, quando recebesse o dinheiro da venda do trigo no Grémio do Alandroal, mas, parece que, foi pedir o dinheiro a um familiar, porque ficou envergonhado, ainda tentou desculpar-se dizendo que se dissesse a verdade o avô não lhe emprestava o dinheiro, mas não houve muita conversa, porque o avô sentia-se enganado, recebeu o dinheiro e pouco falaram. 

Passados uns tempos, o Chiquinho foi com o avô a assistir a outra tourada na praça de touros do Redondo, num dia 4 de Outubro, na Feira de S. Francisco e, embora o calor do sol no mês de Outubro não fosse comparável com o do mês de Agosto, já ficaram sentados no setor do sol e sombra e, quando começou a corrida já estavam à sombra, porque o acontecimento na tourada de Reguengos de Monsaraz, ainda não estava esquecido.

Fim 

Texto: Correia Manuel 


Aldeia de Ferreira - Capelins de Baixo






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