segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando fazia queijos com flor do cardo

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando fazia queijos com flor do cardo 

A bisavó materna do Chiquinho de Capelins, estava casada com um capelinense que era filho da transumância, ou seja, o seu pai era pastor da transumância natural de Póvoa Nova, situada na parte Norte da Serra da Estrêla e, o seu filho seguiu a mesma profissão, por isso, a bisavó tinha ovelhas e fazia alavão, isto é, fazia queijos e almece, depois, pelo menos um dos seus filhos, não sendo pastor, comprava leite de ovelha e também fazia alavão, pelo que, sendo tio em segundo grau do Chiquinho e, como morava muito perto da casa dos avós, na rua principal de Capelins de Baixo, ele começou, muito cedo, a andar pela sua queijaria e algumas vezes ia com o primo Joaquim buscar o leite dentro de dois cântaros de lata, numa burra ao Monte Novo do Seixo, depois, assistia a todo o processo, pelo qual, passava o leite até ao momento de fazer os queijos e, algumas vezes o Chiquinho  arregaçava as mangas na esperança de o deixarem meter as mãos na massa, mas como, em vez de ajudar, só empatava, não molhava as agulhas, mas tudo isso, ficou na sua memória.

Anos mais tarde, na casa do Chiquinho tiveram duas cabras, que produziam muito leite, com parte do qual, a mãe fazia queijos, mas ele começou a pedir à mãe para o deixar fazer os queijos, porque, já tinha prática de os ver fazer na queijaria da tia, mas a mãe, durante algum tempo não foi nisso, e foi-lhe explicando o processo, até que um dia arriscou, porque se corresse mal, perdia-se pouco, seriam dois ou três queijos e o Chiquinho realizou o seu sonho, porque deu provas que fazer queijos estava nos seus genes, porque aqueles queijos  e todos os que se seguiram, ficaram tão bons, que os pais estavam admirados e depois de comentarem com vizinhos que percebiam de queijos, todos diziam que tinha a ver com as mãos que punham a coalhada nos cinchos, diziam que, o Chiquinho tinha mão para fazer bons queijos, porque tinha a mão quente, mas o segredo principal, era a mistura da flor do cardo que se punha de molho em água à noite e de manhã essa água era coada para dentro do leite e arrumava-se a panela de barro perto do lume de chão e ia-se rodando até o leite ficar coalhado, cerca de duas horas, e pronto a meter nos cinchos com sal por cima e por baixo e os queijos estavam feitos. 

 Durante alguns anos, nos meses de Julho/Agosto, o Chiquinho, ou o pai, iam a um lugar em Capelins onde havia muito cardo, do lado Sul, Sudeste do marco geodésico (guarita) situado na herdade da Defesa de Ferreira, perto do chaparral, cuja planta do cardo, decerto foi trazida pelos pastores da transumância da Serra da Estrela, uma vez que, era para essa região que vinham os rebanhos da transumância quando a herdade era da Casa do Infantado até 1834, a flor do cardo era fácil de colher, cortava-se com uma tesoura, ou puxava-se com os dedos, e se estivesse quase seca, desligava, facilmente do fundo das alcachofras, depois, punha-se ao sol dentro de tabuleiros e já bem seca guardava-se, para ser usada quando se fizessem os queijos. 

E foi assim que, o Chiquinho, ainda muito novinho se tornou um mestre da queijaria, com um futuro promissor, mas a vida trocou-lhe as voltas e, nunca mais fez queijos. 

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Ovelhas com leite, em Capelins 




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