quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando viu a inauguração da ponte sobre o Tejo

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando viu a inauguração da ponte sobre o Tejo 

Ouvia-se falar na Aldeia de Ferreira que andavam a construir uma ponte sobre o mar, (rio Tejo) iniciando-se a dita construção no dia 06 de Novembro de 1962, a qual, ligava Lisboa a outras terras, sem saberem ao certo quais eram, algumas pessoas diziam que devia ser à Madeira, outras aos Açores ou talvez a Angola e que era uma das maiores obras de engenharia, deste género, do mundo. 

A sua inauguração estava prevista para o dia 6 de Fevereiro de 1967, mas ficou pronta seis meses antes dessa data, e com grande pompa foi inaugurada no Sábado dia 06 de Agosto de 1966, sendo atravessada pelos automóveis das altas individualidades do país, o Presidente da Republica, o Presidente do Conselho o Cardeal Patriarca de Lisboa e outras, e foi transmitida em direto pela Rádio Televisão Portuguesa, (RTP), por isso, nesse dia, depois do jantar (almoço), o casão em Capelins de Baixo, onde existia um televisor encheu-se de gente a assistir à dita inauguração e o Chiquinho de Capelins com o seu avô Xico Alvanéu, não podiam faltar e também lá estavam.

Após os empolgantes discursos nacionalistas, cortaram a fita e, pouco depois, os automóveis iniciaram a marcha lenta, parecia que, iam com medo que ela caísse, mas não caía, estava bem segura, porque na televisão diziam que a ponte já tinha sido testada com a passagem para uma e outra margem por imensos camiões bem carregados e deu provas que estava bem firme, mas à medida que, os automóveis avançavam nas alturas sobre as águas do rio Tejo, algumas pessoas ali presentes ficaram aflitas e de mãos na cabeça, pressejando que, era impossível aquele emaranhado de arames aguentar-se com tanto peso sem ir abaixo, devia cair a qualquer momento e lá marchavam os presidentes Salazar e Américo Tomás água abaixo, dava-se uma grande perda, e continuavam convencidos que se não caísse naquele dia, não demorava em cair, e diziam que nunca na sua vida se atreviam a pôr-se em cima daquelas teias de aranha, mas estavam ali outras pessoas mais iluminadas que abanavam a cabeça em desaprovação, entre elas o ti Zé Domingos que disse: - Pois olhem, não lhe dou muito tempo e já lá estou a passar, o meu irmão sabe bem o que além está, e garantiu-me que é a ponte mais segura de Portugal, foi feita por engenheiros americanos, os melhores do mundo, feita lá à moda deles, igualzinha a uma que eles têm em S. Francisco onde há muitos tremores de terra e nunca caiu, nem cai, por isso, vou organizar uma excursão a Lisboa, vamos por Vila Franca de Xira e, depois voltamos, atravessando o rio Tejo por aquela grande obra! 

Os homens do contra riram-se e, responderam que não contasse com eles, decerto, não os apanhava na excursão, porque ainda não queriam morrer e, gerou-se confusão, com alguns a chamarem ignorantes aos outros.

O Chiquinho dava atenção ao que estava a ver na televisão, mas a ficar confuso, pelo que ali ouvia, sem saber em quem acreditar, mas olhava, olhava para a televisão e a ponte não caía e quando a reportagem televisiva sobre a inauguração da grande ponte chegou ao fim, o avô chamou-o para irem para casa e ele assim que chegou à rua, perguntou-lhe: 

Chiquinho: Avô, os homens dizem que a ponte vai cair, será que ainda cai hoje e a gente não vê? Ou só cai amanhã? 

Avô: Oh neto, a ponte não cai hoje, não cai amanhã, não cai nunca! 

Chiquinho: Mas os homens ali, quase todos dizem que os arames partem-se e aquilo vai cair tudo no rio Tejo! 

Avô: Oh neto, mas quais arames? A ponte está segura por muitos cabos de aço que não partem, deixa-os lá falar,  são sempre os mesmos, os teimosos e que não percebem nada daquilo, é só para moer os outros, ainda a gente caímos todos e a ponte fica lá! 

A partir daquele dia, sempre que o Chiquinho ouvia alguém dizer que a ponte sobre o Tejo abanava toda e podia cair, saía em sua defesa, e dizia que, o tabuleiro estava seguro por muitos cabos de aço que não partiam e nunca ia cair. 

Mais tarde, todas as vezes que o Chiquinho passava e passa pela dita ponte, recorda-se do presságio que ouviu na Aldeia de Ferreira no dia da sua inauguração e repete no pensamento: - Afinal, até hoje, ainda não caiu.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Ponte das Águas Frias em Capelins



Sem comentários:

Enviar um comentário

Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...