sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi em excursão a Lisboa

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi em excursão a Lisboa 

No dia da inauguração da ponte sobre o Tejo, em 06 de Agosto de 1966, o ti Zé Domingos prometeu que não demorava muito tempo a organizar uma excursão para fazer o percurso por Vila Franca de Xira a Lisboa e na volta faziam a travessia da dita ponte, e assim foi. 

Quis o destino e o avô do Chiquinho de Capelins que ele fosse na dita excursão e, depois do ti Zé Domingos ter consultado a empresa de transportes de João Cândido Belo, sobre o custo, para o percurso que definiu, começou a angariar excursionistas e o avô do Chiquinho uma noite foi a Capelins de Cima pedir aos pais se o deixavam ir com ele e o pai respondeu que sim e adiantou que também ia, embora a mãe não quisesse ir, porque fazia-lhe confusão passar a ponte, ele não desperdiçava a oportunidade de ir ver os irmãos, Lisboa e a grande ponte. 

No dia da excursão, no último quartel da década de 1960, antes das oito horas da manhã, partiram da Aldeia de Ferreira e a primeira paragem foi nas Piscinas de Évora, ás quais fizeram uma visita, porque tinham sido inauguradas no dia cinco de Setembro de 1964 e, não havia nada igual em todo o Alentejo, não só pela sua dimensão olímpica, mas pela cuba de saltos com pranchas até 7,5 metros de altura. 

Seguiram por Vila Franca de Xira e, antes da camioneta entrar na ponte Marechal Carmona, inaugurada em 30 de Dezembro de 1951, apearam-se e passaram a pé, não só para admirar a dita ponte, mas também o rio Tejo e a área ribeirinha, depois almoçaram e continuaram para Lisboa, com paragem demorada em Belém, onde fizeram algumas visitas, sendo a de mais tempo ao Museu da Marinha, e já à noitinha a camioneta foi estacionar no Campo das Cebolas, ficando os excursionistas por sua conta e os que tinham familiares à espera partiram com eles, mas os que quiseram, deram um passeio pela Baixa de Lisboa e pernoitaram na camioneta. 

O Chiquinho e o pai tinham os tios à espera e foram dar um passeio de eletrico por Lisboa à noite, ver a fonte luminosa e alguns monumentos iluminados e dormiram em casa de um dos tios.

Na manhã seguinte, antes das nove horas já estavam na camioneta e foram visitar o Jardim Zoológico, uma maravilha, por verem animais que nunca tinham visto, e dali seguiram para o Estoril, nessa época, muito afamado na Aldeia de Ferreira, porque, alguns empregados da Casa Dias tinham passado lá temporadas na quinta dos patrões e, contavam que era digno de uma visita para ver os imensos jardins e chalés, únicos nesse tempo.

Depois da visita ao Estoril segui-se a travessia da Ponte sobre o Tejo, muito devagar, para ser bem apreciada e, ouviam-se muitas expressões de admiração, embora com algum receio e ansiedade, mas ninguém mostrou medo, só mais tarde confessaram que lhe meteu muito respeito, porque toda a gente dizia que a magana abanava com o vento. 

A paragem seguinte, foi no Cristo Rei em Almada, do cimo do qual, tornaram a admirar a gigantesca ponte, parte da cidade de Lisboa e das localidades ribeirinhas ao sul do Tejo. 

Após a visita ao Cristo Rei, já passava do meio dia, foram para a Costa da Caparica, nesse tempo não havia trânsito nenhum, depressa chegaram, a camioneta estacionou e os excursionistas que ainda tenham comida fizeram um pic nic, outros foram a uma taberna que ficava a poucos metros, lá comeram, e beberam uns copos de vinho, mas não gostaram das comidas, porque não tinham sopas nem açordas como as de Capelins. 

Depois do almoço, aproximaram-se da praia, vestidos e calçados, para a maioria, entre eles o Chiquinho, era a primeira vez que viam o mar, por sorte, a praia estava quase deserta por ser já final do verão e os tempos eram outros e, alguns excursionistas ainda molharam os pés, descalçaram-se, subiram as calças e as ceroulas até aos joelhos e as pernas de tão branquinhas e molhadas faziam espelho que até encandeavam, arranjou-se ali uma brincadeira, um grande divertimento, alguns a incentivá-los a entrar no mar, porque, queriam vê-los apanhados pelas ondas e, eles deram espetáculo.

Da Costa da Caparica seguiram para Vila Fresca de Azeitão, onde era a sede da camionagem de João Cândido Belo, ou para controlo da camioneta ou alguma verificação mecânica e, foi grande admiração por ver tantas camionetas dessa empresa ali estacionadas, era um império nos transportes de passageiros que até chegava Capelins.

De Vila Fresca de Azeitão foram por Setúbal onde pararam para dar um passeio, pouco demorado, pelo centro, depois seguiram e fizeram nova paragem em Montemor-O-Novo, mas daí, foram diretos à Aldeia de Ferreira, onde chegaram já de noite, cansados, mas carregados de novidades para contar aos familiares, amigos e vizinhos e, com os horizontes um pouco mais alargados, e a partir daquele dia as conversas do Chiquinho com a rapaziada, durante meses, quando falavam sobre qualquer coisa, ele dizia sempre que, quando  foi na excursão a Lisboa tinha visto melhor e mais bonito.

Fim 

Texto: Correia Manuel  

Aldeia de Ferreira em Capelins 



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