domingo, 28 de setembro de 2025

A tradição deixada em Capelins pelo espanhol de Cheles

 A tradição deixada em Capelins pelo espanhol de Cheles

Nos tempos de outrora, uma das piores famas que alguém podia apanhar nas terras de Capelins, era a de malandro, que se podia colar de várias maneiras, uma delas, era no caso de passar muito tempo deitado, fosse numa cama, num camalho, numa tarimba, ou no chão, as pessoas que sabiam disso diziam logo que, era um malandro, porque estava sempre deitado, já que, exceto os idosos e crianças, toda a gente se tinha de levantar muito cedo, ao romper da manhã.
Quem tinha o azar de apanhar a fama de malandro, já não conseguia livrar-se dela e podia ser a sua desgraça, porque era apontado por toda a gente e, nenhum lavrador o queria a trabalhar nas suas herdades, logo, se não tivesse meios próprios de subsistência, tinha de emigrar para onde não fosse conhecido.
Como o trabalho do campo era muito duro, os trabalhadores precisavam de muito descanso, e o melhor descanso para o corpo era deitado, mas os trabalhadores só no tempo das sestas se podiam deitar durante o horário de trabalho, no tempo definido para a mesma, fora disso, se tivesse o azar de ser apanhado deitado, mesmo no chão, podia ser apontado de malandro e bastava correr o boato pela Freguesia, já estava arrumado.
Essa situação mudou na Freguesia de Capelins quando um espanhol muito influente, que tinha uma herdade para cá do rio Guadiana, implementou o dito: "Pra sentáu, dêtau", ou seja, "para sentar, deitar", assim, ordenou aos seus criados para sempre que tivessem uma folga para a bucha, para o jantar (almoço) ou para a merenda, em vez de se sentarem, deviam deitar-se, estender-se no chão com a parte superior do corpo mais elevada para poderem comer e beber sem se engasgarem e o resto do corpo ficava estendido a descansar, assim, fossem os minutos que fossem, o corpo descansava, era bom para os trabalhadores que descansavam um pouco e para o espanhol, porque depois recomeçavam o trabalho com mais energia, davam mais rendimento ao lavrador, e quando algum criado se esquecia e ficava sentado, ele ou o feitor dizia-lhe: Fulano tal, "pra sentau, dêtau" e eles deitavam-se, e sendo assim, não contava para a fama de malandro, porque o fim não era deitarem-se, era sim a de comer, apenas aproveitavam a ocasião, sendo o chamado dois em um.
A moda do espanhol foi-se alargando às outras herdades e ao longo dos tempos, nas terras de Capelins, os trabalhadores do campo, e não só, sempre que tinham uma folga do trabalho, em vez de se sentarem, deitavam-se, mas antes avisavam, que era ao abrigo da lei do espanhol, "pra sentau, dêtau", por isso, não somava pontos para a fama de malandro, e toda a gente concordava.
Esta tradição era muito mencionada na Freguesia de Capelins pelos mais antigos e, quando a rapaziada lhe perguntavam se tinham conhecido esse tal espanhol e de onde é que ele era, respondiam que não tinha sido no seu tempo e nem dos seus avós, já vinha de muito atrás, e o espanhol era além de Cheles.
Assim, o espanhol de Cheles, deixou-nos a tradição do, "pra sentáu, dêtau", como diziam os mais antigos da Freguesia de Capelins.

Texto: Correia Manuel

Fotografia: Correia Manuel



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