A lenda da parreira da rua do castelo em Monsaraz
Após a morte de D. Fernando II, duque de Viseu, no castelo de Palmela às mãos do seu cunhado, o rei D. João II, D. Diogo de Azambuja foi nomeado Alcaide Mor de Monsaraz e, recebeu outros privilégios, devido a ter assistido a esse ato, ou por nele ter participado, segundo escrevem alguns autores.
D. Diogo de Azambuja era casado com Dona Leonor Botelho e com ela e os três filhos, o António, a Cecília e a Catarina, foram residir para o castelo de Monsaraz, cerca do ano de 1484/85.
António de Azambuja, nasceu em Cabeço de Vide, entre 1470/80 e, era neto do Alcaide Mor de Castelo de Vide, onde D. Diogo de Azambuja residiu até partir para as campanhas em África, sendo a mais famosa a da construção do Forte de S. Jorge da Mina no Golfo da Guiné, entre 1481/82, mas como foi antes referido em 1485 já residiam na Vila de Monsaraz, onde o António de Azambuja foi crescendo e, mesmo depois de sair para Évora, lá voltava e ficava grandes temporadas.
A famosa Vila de Monsaraz de então, estava longe da Corte e dos grandes centros, mas tinha as suas diversões para a fidalguia, senhores e lavradores da região, entre as quais a da caça, e quando um dia cerca do ano de 1500 o António caçava com um grupo de amigos deu de caras com uma linda rapariga que guardava cabras nas margens do rio Guadiana, encontrando nela uma atração imediata, desceu do cavalo, mandou que os amigos continuassem e começou a falar com ela, apresentou-se e depois de algumas perguntas, ela respondeu-lhe que se chamava Francisca, tinha acabado de fazer dezoito anos, era de Monsaraz, mas tinha um casebre ali junto ao rio Guadiana onde estava quase sempre com as suas cabras, a conversa continuou e nem deram pelo passar das horas e, quando o António se apercebeu que já era tarde, despediu-se à pressa e partiu para Monsaraz, levando a Francisca no seu coração.
Nessa noite, o António teve dificuldade em adormecer, a pensar na Francisca, que era muito diferente das raparigas que conhecia e, logo de manhã mandou preparar o seu cavalo e desceu até ao rio Guadiana a procurar a Francisca, não sendo difícil encontrá-la quase no mesmo sítio do dia anterior e ela assim que o viu sorriu de felicidade, porque também tinha passado pelo mesmo, até tinha sonhado com ele, cumprimentaram-se e continuaram a conversa, foram falando e quando deram por isso já estavam envolvidos, nascendo dali uma grande paixão.
A partir daquele dia, o António começou a descer a ladeira, diariamente até ao rio Guadiana, para se encontrar com a Francisca, mas como já toda a gente sabia do seu envolvimento, depressa chegou aos ouvidos de D. Diogo de Azambuja que, mandou preparar o António e no dia seguinte já estava a caminho de Évora, onde tinham um palacete, ficando bem longe da Francisca cabreira.
Como o António deixou de aparecer, a Francisca teve grande desgosto e quando o procurou em Monsaraz, disseram-lhe que o pai ao saber o que se passava entre eles o tinha levado para Évora e proibido de voltar a Monsaraz, ainda passou pela cabeça da Francisca ir procurá-lo a Évora, mas foi aconselhada a desistir dessa ideia, porque o seu amor era impossível.
Os meses foram passando até que a Francisca descobriu que esperava um filho do António, primeiro ficou desesperada, mas depois de muito pensar acalmou-se, na esperança do António um dia aparecer e reconhecer o filho, mas o tempo passava e o António não voltava e quando já não conseguia acompanhar as suas cabras entregou-as a um primo e foi para uma pequena casa que tinha na rua do castelo na Vila de Monsaraz e quando chegou a hora nasceu um lindo menino a quem foi dado o nome de António, como o do pai.
A Francisca ficou com o filho na sua casa em Monsaraz e, um dia D. Diogo de Azambuja ia passando à sua porta com um dos seus escudeiros que lhe apontou a casa onde morava o seu neto e acrescentou que ficava bem reconhecê-lo e educá-lo no castelo, mas D. Diogo de Azambuja mostrou-se muito zangado e respondeu-lhe que seria mais fácil nascer uma parreira em cima daquelas rochas, que existiam à porta da Francisca, do que ele alguma vez reconhecer aquele bastardo como seu neto, e a conversa ficou por ali.
D. Diogo de Azambuja nunca reconheceu o neto, mas a parreira nasceu naquelas rochas, no lugar a que ele se tinha referido e começou a crescer de dia para dia e quando lhe contaram o sucedido, não queria acreditar e mando-a arrancar bem pela raiz, para nunca mais voltar a nascer, mas a parreira nascia novamente e crescia a par da criança e, enquanto D. Diogo de Azambuja esteve em Monsaraz, a parreira nascia e era arrancada e tornava a nascer.
Quando, muito mais tarde a rua do castelo foi empedrada arrancaram a parreira bem no fundo e, pensaram que dessa vez nunca mais nascia, mas passados muito anos, a parreira conseguiu vencer as pedras enroncadas e passou-lhe para cima e, ainda hoje lá se encontra a marcar o lugar do nascimento do fruto de um grande amor impossível, e a oferecer a sua sombra a quem dela precisar.
Quanto ao António, filho da Francisca, nunca conheceu o pai, que não sabia da sua existência, mas não lhe faltou o amor da mãe pelos dois e, foi um dos homens bons da Vila de Monsaraz, à qual, dedicou a sua vida.
Fim
Texto: Correia Manuel
Fotografia: Isidro Pinto
A lenda da parreira da rua do castelo em Monsaraz
Após a morte de D. Fernando II, duque de Viseu, no castelo de Palmela às mãos do seu cunhado, o rei D. João II, D. Diogo de Azambuja foi nomeado Alcaide Mor de Monsaraz e, recebeu outros privilégios, devido a ter assistido a esse ato, ou por nele ter participado, segundo escrevem alguns autores.
D. Diogo de Azambuja era casado com Dona Leonor Botelho e com ela e os três filhos, o António, a Cecília e a Catarina, foram residir para o castelo de Monsaraz, cerca do ano de 1484/85.
António de Azambuja, nasceu em Cabeço de Vide, entre 1470/80 e, era neto do Alcaide Mor de Castelo de Vide, onde D. Diogo de Azambuja residiu até partir para as campanhas em África, sendo a mais famosa a da construção do Forte de S. Jorge da Mina no Golfo da Guiné, entre 1481/82, mas como foi antes referido em 1485 já residiam na Vila de Monsaraz, onde o António de Azambuja foi crescendo e, mesmo depois de sair para Évora, lá voltava e ficava grandes temporadas.
A famosa Vila de Monsaraz de então, estava longe da Corte e dos grandes centros, mas tinha as suas diversões para a fidalguia, senhores e lavradores da região, entre as quais a da caça, e quando um dia cerca do ano de 1500 o António caçava com um grupo de amigos deu de caras com uma linda rapariga que guardava cabras nas margens do rio Guadiana, encontrando nela uma atração imediata, desceu do cavalo, mandou que os amigos continuassem e começou a falar com ela, apresentou-se e depois de algumas perguntas, ela respondeu-lhe que se chamava Francisca, tinha acabado de fazer dezoito anos, era de Monsaraz, mas tinha um casebre ali junto ao rio Guadiana onde estava quase sempre com as suas cabras, a conversa continuou e nem deram pelo passar das horas e, quando o António se apercebeu que já era tarde, despediu-se à pressa e partiu para Monsaraz, levando a Francisca no seu coração.
Nessa noite, o António teve dificuldade em adormecer, a pensar na Francisca, que era muito diferente das raparigas que conhecia e, logo de manhã mandou preparar o seu cavalo e desceu até ao rio Guadiana a procurar a Francisca, não sendo difícil encontrá-la quase no mesmo sítio do dia anterior e ela assim que o viu sorriu de felicidade, porque também tinha passado pelo mesmo, até tinha sonhado com ele, cumprimentaram-se e continuaram a conversa, foram falando e quando deram por isso já estavam envolvidos, nascendo dali uma grande paixão.
A partir daquele dia, o António começou a descer a ladeira, diáriamente até ao rio Guadiana, para se encontrar com a Francisca, mas como já toda a gente sabia do seu envolvimento, depressa chegou aos ouvidos de D. Diogo de Azambuja que, mandou preparar o António e no dia seguinte já estava a caminho de Évora, onde tinham um palacete, ficando bem longe da Francisca cabreira.
Como o António deixou de aparecer, a Francisca teve grande desgosto e quando o procurou em Monsarz, disseram-lhe que o pai ao saber o que se passava entre eles o tinha levado para Évora e proibido de voltar a Monsaraz, ainda passou pela cabeça da Francisca ir procurá-lo a Évora, mas foi aconselhada a desistir dessa ideia, porque o seu amor era impossível.
Os meses foram passando até que a Francisca descobriu que esperava um filho do António, primeiro ficou desesperada, mas depois de muito pensar acalmou-se, na esperança do António um dia aparecer e reconhecer o filho, mas o tempo passava e o António não voltava e quando já não conseguia acompanhar as suas cabras entregou-as a um primo e foi para uma pequena casa que tinha na rua do castelo na Vila de Monsaraz e quando chegou a hora nasceu um lindo menino a quem foi dado o nome de António, como o do pai.
A Francisca ficou com o filho na sua casa em Monsaraz e, um dia D. Diogo de Azambuja ia passando à sua porta com um dos seus escudeiros que lhe apontou a casa onde morava o seu neto e acrecentou que ficava bem reconhecê-lo e educá-lo no castelo, mas D. Diogo de Azambuja mostrou-se muito zangado e respondeu-lhe que seria mais fácil nascer uma parreira em cima daquelas rochas, que existiam à porta da Francisca, do que ele alguma vez reconhecer aquele bastardo como seu neto, e a conversa ficou por ali.
D. Diogo de Azambuja nunca reconheceu o neto, mas a parreira nasceu naquelas rochas, no lugar a que ele se tinha referido e começou a crescer de dia para dia e quando lhe contaram o sucedido, não queria acreditar e mando-a arrancar bem pela raíz, para nunca mais voltar a nascer, mas a parreira nascia novamente e crescia a par da criança e, enquanto D. Diogo de Azambuja esteve em Monsaraz, a parreira nascia e era arrancada e tornava a nascer.
Quando, muito mais tarde a rua do castelo foi empedrada arrancaram a parreira bem no fundo e, pensaram que dessa vez nunca mais nascia, mas passados muito anos, a parreira conseguiu vencer as pedras enroncadas e passou-lhe para cima e, ainda hoje lá se encontra a marcar o lugar do nascimento do fruto de um grande amor impossível, e a oferecer a sua sombra a quem dela precisar.
Quanto ao António, filho da Francisca, nunca conheceu o pai, que não sabia da sua existência, mas não lhe faltou o amor da mãe pelos dois e, foi um dos homens bons da Vila de Monsaraz, à qual, dedicou a sua vida.
Fim
Texto: Correia Manuel
Fotografia: Isidro Pinto
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