sexta-feira, 2 de maio de 2025

A lenda da alcunha "sacaios" de Santiago Maior

 A lenda da alcunha "sacaios" de Santiago Maior

A origem da alcunha "sacaios" tem quase mil anos, embora, a palavra original fosse "açacais", palavra árabe, a qual, sofreu a natural alteração na forma moderna corrompida de sacais, o seja, sacaios.
Esta palavra, "açacais" define a nobre profissão de aguadeiros que, existiam em grande número até há poucos anos, os quais, vendiam água porta a porta e, parece que, já existiam na época dos mouros, ainda podemos verificar na cidade de Évora a Travessa do Açacal, o mesmo que aguadeiro, talvez vinda dos mouros, fica no lado direito do quartel militar, a descer para o Hospital,(vejamos: aos referidos aguadeiros, então chamados "açacais", que iam aos casais com burros carregados de água).
Assim, a dita profissão, registada por cronistas mouros, era, também, desenvolvida nas terras reguengas, então mouriscas, mais tarde, em 1273, integradas no Termo (Concelho) de Monsaraz, onde aguadeiros mouros vendiam a água da Fonte do Ramila, situada um pouco a Norte da atual cidade de Reguengos de Monsaraz, próxima da margem direita da Ribeira do Álamo, no sentido de Santiago Maior, que produzia uma água especial, logo, os aguadeiros movimentavam-se neste espaço geográfico que, ao longo dos séculos passou a ser conhecido pelas terras dos "açacais", depois, "sacais ou sacaios".
Quanto a Ramila, era um mouro, jurista, visionário, asceta (dedicava-se a práticas espirituais) e profeta do Califado de Córdova, chamado Aboû Abbás Ahmad Ibn Ramila, que se sabe ter percorrido o Reino Mouro de Badajoz, onde a Vila de Monsaraz se encontrava integrada, a quem os cronistas árabes atribuem uma visão profética a propósito do resultado da batalha de Zalaca, travada perto de Badajoz, entre os Cristãos castelhanos e os Almorávidas da Mauritânia que vieram em auxílio dos reis mouros de Badajoz, Granada e Sevilha, onde o Rei de Castela Afonso VI foi derrotado às mãos de Iúçufe Ibne Taxufine, na qual, também participaram, o lírico famoso da Salvação a Silves, o rei de Sevilha Mutâmide Ibne Abbad, na qual, segundo dizem os cronistas da época, Ramila morreu, (conf. Ahmed Ben Khaled En-Nacir Es-Slaoui-Kitab El-Istiqça Li-Akhbar Doual El-Magrib El-Aqça - História de Marrocos - Tomo II, pág. 173, Paris 1925).
Ainda sobre a célebre "Fonte do Ramila" dos "açacais"ou sacaios, situava-se nas antigas terras reguengas que foram integradas no Termo (Concelho) de Monsaraz, junto do manuelino Reguengo do Mon Real a que alude expressamente o Foral novo concedido a Monsaraz em 1512 pelo rei D. Manuel I.
"As frescas e cristalinas águas da "Fonte do Ramila", na continuidade de uma arcaica tradição local, guardadas nos típicos cântaros de barro saídos das olarias da Aldeia do Mato e carregados no dorso de albardados e lazarentos gericos do Magrebe, costumava ser vendida às portas das casas de Reguengos por "açacais" de profissão." (podemos confirmar nos dicionários de lingua portuguesa que "açacais" são aguadeiros).
"A força desta tradição local muçulmana da venda de água de beber às portas das habitações ou casais, por aguadeiros profissionais conduzindo burrinhos bíblicos, parece confirmar o conceito de Marsá."
Reguengos de Baixo, de Cima, e Crujeira, foram crescendo ao longo dos séculos, sempre com a tradicional presença dos açacais/sacais e depois sacaios, que não deixaram faltar a boa água aos seus moradores, porém, todos os naturais ou residentes para lá dos fins desta localidade no sentido Norte, até Santiago Maior, senão mais distante, ganharam a alcunha de açacais, ou seja, sacaios, até aos dias de hoje, tendo a sua origem, nos aguadeiros mouros, há quase mil anos.

De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.

Texto: Correia Manuel

Foto net: Aguadeiros ou açacais


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