A lenda do mouro Abadel, Senhor das terras de Capelins
O Reino de Badajoz foi um reino mouro ou Taifa, localizado no que hoje é a região da Estremadura, na Espanha, com Badajoz como sua principal cidade, e incluía uma parte que é hoje Portugal, desde o rio Douro até, praticamente todo o Alentejo, pelo menos até Beja, assim como, as cidades de Lisboa e de Santarém.
Este reino era parte do Al-Andalus e existiu após a fragmentação do Califado de Córdoba, no final do século X, início do século XI, ou seja, entre 1009 e 1151, com um interregno entre 1094 e 1144, quando da invasão dos Almorávidas da Mauritânia.
Foram vários os caudilhos conhecidos que se destacaram ao serviço deste reino, entre eles, Azovel e Abadel que, conforme ficou registado por alguns cronistas mouros de então, percorreram o dito reino e as atuais terras de Capelins, onde deixaram os seus nomes ligados a lugares, rios e ribeiras, neste caso, escrevemos sobre Abadel que deixou o seu nome ligado a uma grande herdade ou defesa situada no Vale do rio Guadiana junto à sua margem direita, um pouco a Norte do sinuoso curso do Azovel e, encarando o pueblo espanhol de Cheles, a qual, mais tarde, em 1262, integrou o Termo (Concelho) cristão de Santa Maria de Terena, hoje designada herdade da Defesa de Bobadela, mas, ainda encontramos alguns registos como Defesa do Abadel, tal como a designação do Monte mouro, da dita herdade, na atual Freguesia de Capelins.
Sabe-se, pelas crónicas da época, que de facto o mouro a quem o rei D. Fernando II de Leão, entregou o governo de Badajoz, logo a seguir à derrota do seu sogro D. Afonso Henriques e do Geraldo Sem Pavor, devido à aliança feita por aquele rei com os mouros, chamava-se Aben Habel (conf. Júlo González - Registo de Fernando II, pág. 87, Madrid 1943). Este nome, Aben Habel, por aglutinação, deve ter conduzido a Ababel e depois, na forma moderna foi corrompida Abadel.
A região geográfica antes descrita, onde está registada esta forma toponímica de Abadel, encontra-se incluída numa zona que a carta geográfica de Portugal de 1875 escala 1x100.000 designa por Algarve Sêco. Este espaço geográfico, do Algarve Sêco, no século XII, na época do reino mouro de Badajoz, estava incluído no Termo (Concelho) de Juromenha ou seja, Jelmanah e, devia ser o centro estratégico das correrias de Geraldo Sem Pavor, a que alude Ibne Sáhibe Açalá num dos passos da sua crónica quando se refere à tática dos assaltos noturnos em que o fronteiro de Évora era tão costumado especialista "perfídeo que o rude galego utilizava (Allah o amoldiçoe) nas fortalezas e cidades que conquistava, (conf. texto de comunicação de Martim Velho um texto da crónica de Ibne Sáhibe Açalá respeitantes a D. Afonso Henriques e a Geraldo Sem Pavor e ao território português).
O dito Algarve Sêco situava-se na atual Freguesia de Capelins e de São Pedro de Terena, no tempo dos mouros era Termo (Concelho) de Juromenha, ou seja, Jelmanah, vizinha de Badajoz, Évora e Monsaraz, tudo leva a crer que tivesse sido a zona das famosas aventuras militares de Geraldo Sem Pavor ao longo do Vale do rio Guadiana, a que se refere Ibne Sáhibe Açalá.
Quando do desastre em Badajoz, de D. Afonso Henriques, no dia 03 de Maio de 1169, já o reino mouro de Badajoz estava desintegrado, uma vez que, os reis cristãos já tinham conquistado a maior parte do seu território, mas a cidade de Badajoz ainda resistia, até esse dia, porém era cobiçada por todos os reinos da cristãos da Península Ibérica, então, o rei de Leão e da Galiza Fernando II, genro de D. Afonso Henriques fez uma aliança com o rei mouro, que consistia em este o ajudar a derrotar o seu sogro e ele entregava-lhe a cidade e, foi assim que D. Afonso Henriques, não só foi derrotado em Badajoz como ao fugir do castelo caiu do cavalo ao bater com a perna direita no ferrolho da porta, partindo o fémur, sendo aprisionado pelo genro, e foi o seu fim militar.
Quanto a Geraldo Sem Pavor, rendeu-se e, para não ser decapitado, como parece que ele fazia aos mouros que dominava, aceitou ir para Marrocos com 150 dos seus homens, também aqui aprisionados, para, sendo necessário, pelejarem ao lado dos mouros, mais tarde, caiu numa cilada em Badajoz onde foi decapitado e, como sabemos, o reino de Portugal perdeu todas as praças antes conquistadas nesta região do Guadiana e, depois só algumas voltaram ao domínio de Portugal, cerca de 1230/1240.
O rei de Leão Fernando II, conforme a aliança, entregou a cidade de Badajoz aos mouros, porque, seria uma questão de tempo para voltar a si, ficando a ser governada por Aben Habel, o mesmo que Abadel, Senhor mouro das terras de Capelins, onde tinha um castelo, na herdade do Abadel, na margem direita do rio Guadiana.
Fim
Texto: Correia Manuel
De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.
"Esboço da carta toponímica da Reconquista no Termo (Concelho) de Monsaraz. Os desenhos a pena são de Domóstenes Espanca. O desenho geográfico é de Manuel Guimarães. A fotografia é de David de Freitas. Redução de gravura em escala de 1/100.000."
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