O hidrónimo da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit
A maioria dos afluentes do alto Guadiana, embora alterados pelas formas modernas corrompidas, apresentam hidrónimos associados aos nomes de califas, caudilhos cordoveses ou de reis do reino mouro de Badajoz.
No caso da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit, que nasce numas Fontes e regatos de escorrentes da Serra D'Ossa na herdade da Carneira, em sentido paralelo à Aldeia de Rio de Moinhos e a dita serra, correndo por terras de Bencatel, Alandroal, Redondo, Terena e Capelins, até meter-se no rio Guadiana, hoje, Albufeira de Alqueva.
É muito estranho que este importante curso de água tenha escapado aos mouros em termos de o associarem ao nome de um dos seus califas, ou caudilhos, à semelhança de quase todos os outros da região, por isso, pensamos que, algum mistério deve existir com o hidrónimo desta Ribeira.
O hidrónimo, Lucefeci, Lucefece ou Lucefécit, o mesmo, já foi estudado em termos filológicos, mas não conhecemos resultados de estudos em termos históricos.
Lucefécit, aparece também nas variantes Lucifece, Lucefece, lucefeci e Luçafece. José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, estuda o termo e cita um antigo Udialuicivez, onde se vê o árabe udi "rio" que deu o "od" de alguns rios portugueses. Acha ainda que o antigo nome pré-celta talvez fosse vez. Quanto ao aparecimento do "l" parece ser o artigo árabe "al", reduzido. Assim, continuamos com dúvidas sobre a origem do dito hidrónimo.
Verificarmos que, os califas e caudilhos mouros mais importantes do Al-Andalus, principalmente os do reino mouro de Badajoz, deixaram os seus nomes associados a lugares, ribeiros, ribeiras e rios da nossa região, como Almançor, Azovel, Álamo, Alcarrache, Ardila, Basso, Auanco e outros, porém, não encontramos o nome de um dos Califas Almoáda mais importantes, governador de Sevilha, chamado Abu Iacub Iúçufe que, parece morreu em Portugal, depois de ser ferido em Santarém.
O cerco de Santarém foi um dos episódios da reconquista, durando o mês de Junho e Julho de 1184. Na primavera de 1184, Abu Iacube Iúçufe I reuniu um exército, atravessou o Estreito de Gibraltar e marchou até Sevilha. Daqui seguiu com as suas forças até Badajoz e prosseguiu para ocidente para fazer um cerco a Santarém, defendida pelo nosso rei D. Afonso Henriques. Porém, o rei Fernando II de Leão, marchou para Santarém com o seu exército em auxilio do seu sogro, os mouros foram vencidos, o dito Califa foi ferido com uma flecha e morreu no dia 29 de Julho de 1184, embora, também seja indicado que morreu já em Algeciras, o seu filho e de uma linda escrava de Silves, Abu Iacub Almançor que lhe sucedeu como califa, deixou o seu nome associado ao Rio Almansor que nasce perto de Arraiolos e desagua no rio Sorraia, logo, o se pai, também tinha de deixar por aqui o seu nome.
Assim, com base em alguns velhos documentos, parece-nos que, seria a Ribeira de Lucefécit o curso de água que lhe ganhou o nome, o qual, sofreu aglutinação, e depois, na forma moderna talvez fosse corrompida e passou a Luçafece ou Lucefece, porque, ao longo da história, encontramos, em documentos oficiais, várias formas dessa palavra, até ficar Lucefécit, já no século XIX ou XX, porque, ao longo da centúria de 1700, ainda encontramos Lucefece, Lucefeci ou Luçafece.
Não há dúvida que, no início da cristianização destas terras, este hidrónimo passou pelo termo popular "Lucifer", conforme podemos verificar nas cantigas a Santa Maria de Terena, do Rei de Castela, Afonso X o Sábio, que não sendo claro, dá a entender que lhe chamavam aquele nome, que não se podia dizer, porém, foi contornado para Lucefece.
Neste caso, nada podemos afirmar, mas por analogia com outros casos registados nas crónicas de então, como as de Ibne Sáhibe Açalá, parece-nos que, Lucefece ou Lucefécit, provém do Califa Abu Iacub Iúçufe.
De: Consulta a vários documentos sobre a Ribeira de Lucefécit
Maio de 2025
Correia Manuel
Porta de entrada da Ribeira de Lucefécit na Freguesia de Capelins
Sem comentários:
Enviar um comentário