domingo, 11 de maio de 2025

A origem do hidrónimo da Ribeira do Azevel

 A origem do hidrónimo da Ribeira do Azevel

O hidrónimo da Ribeira do Azevel parece ter origem no nome de um célebre caudilho almorávida cordovês que, andou em campanhas militares pelo Alentejo e, neste caso, pelas terras de Évora, de Monsaraz e de Terena (Capelins), na centúria de 1100.
Este nome, Azevel, já consta nos Forais da Vila de Terena de 1262 e de Monsaraz de 1276, sendo o afluente com este hidrónimo e uma Atalaia ou torre de sinais, a marcação dos limites, em termos geográficos e administrativos destes dois Termos (Concelhos).
Até evoluir para Azevel, em termos filológicos, o seu nome sofreu várias alterações, o arabistas espanhol Francisco Cordera, a quem se deve a identificação deste caudilho cordovês, refere-se a Azubel, [Francisco Cordera - decadência y desaparecion de los almorávidas em España, pág. 27 e 28, Saragoça 1899, do mesmo - Estúdios críticos de história árabe española (segunda série), pág. 136, Madrid 1917]. Sánches Balda, por seu lado, na edição da Chrónica Adefonsi Imperatoris publicada em Espanha pelo Conselho Superior de Investigações Científicas, menciona-o, em nota de rodapé pelas designações de Azuer, Asuel e, finalmente Azuvel, (Luis Sánchez Belda - Chrónica Aldefonso Imperatoris, pág. 143, Madrid 1950).
Sánchez Albornoz e o seu discipulo Luís de Valdeavellano intitulam-no, respetivaemte rei Al-Zuil de Córdova e Al Zubayr, tomo II, pág. 198 - 199, Buenos Aires, 1946, Luís de Vadeavellano - História de España, tomo I, segunda parte, pág. 143, Madrid 1955).
Também Ibne Caldune, o maior historiador islâmico de todos os tempos, sob o nome de Ez-Zabeir-Ibne-Omar, a ele se refere na sua monumental - História dos Berberes e, em termos de tão religiosa exaltação que não duvidam em considerá-lo como "chefe" almorávida de alta categoria, (Ibne Khaldoun - História dos Berberes - pág. 83, Paris, 1927).
A existência do topónimo e do hidrónimo do Azovel nas terras de Terena (Capelins) e de Monsaraz, mostra com evidência que o famoso emir cordovês não foi só um prestigiado chefe almorávida na Espanha, também foi um caudilho muçulmano bem conhecido em Portugal, devido às suas sangrentas incursões nas terras portuguesas do Alentejo, logo, da nossa região, só assim se entende a existência nas terras de Terena (Capelins) e de Monsaraz do hidrónimo do referido curso de água e da Atalaia ou torre de sinais do Azovel no lugar da cota topográfica de maior altitude desta região.
O caudilho mouro chegou a ter sob o seu comando um exército com 1.000 cavalos e, durante muitos anos, segundo escreve Francisco Cordera, a competência de manter no Andaluz a honra das armas muçulmanas, contra a cristandade.
Azovel, morreu descabeçado no ano de 1143, às mãos do castelhano Múnio (Nuno) Afonso, Alcaide de Toledo, num recontro entre os cristãos e os mouros junto à Mata de Montiel, perto da atual Cidade Real.
A projeção dos seus feitos militares era tão grande no ocidente peninsular que, logo em Agosto de 1143, no mesmo ano da sua morte, para enxugar as lágrimas da inconsolável viúva e a ampararem a carpir a perda brutal do marido, levaram-lhe a cabeça do Alcaide de Toledo Múnio Afonso, que foi morto numa refrega com os mouros, onde os castelhanos eram comandados pelo Alcaide de Calatrava, Fárax, a sua cabeça foi decepada e enviada para Córdova como glorioso troféu de guerra e com macabra honra militar prestada à viúva do caudilho.
Por incrível que pareça, o valoroso guerreiro mouro Azovel, ainda hoje é homenageado nas terras de Capelins, Santiago Maior e de Monsaraz.
De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.

Ribeira de Azevel, albufeira de Alqueva - Ponte da Machôa


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