domingo, 2 de julho de 2017

O Contrabando nas terras de Capelins, um passado esquecido

O Contrabando nas terras de Capelins, um passado esquecido 
Documentos antigos confirmam a existência secular do contrabando nas terras de Capelins, desde a formação da fronteira entre Portugal e Espanha e, na Idade Média era principalmente de gado e cereais. O contrabando, neste caso, caracterizava-se pela passagem clandestina de bens e mercadorias, entre Portugal e Espanha, para evitar o pagamento de taxas alfandegárias e foi entre 1935 e 1976, que o contrabando irrompeu aqui em larga escala.
A pobreza e o desemprego que afligiam portugueses e espanhóis foram decisivos para o envolvimento de muitas pessoas, principalmente desfavorecidos, no contrabando. Foi a miséria nestas terras de Capelins e a Guerra Civil espanhola que despoletaram um intenso vaivém dos dois lados da fronteira, em busca da sobrevivência. De cá para lá o que mais levavam era café camelo e por consequência da guerra, algumas outras mercadorias eram levadas para Espanha, enquanto a bombazina e mais tarde botas para homem eram trazidas para Portugal. Indivíduos de todas as idades contrabandeavam para sobreviverem.
A Guarda Fiscal e os carabineiros tinham por missão contrariar esta atividade, procedendo a perseguições, prisões e até a mortes, (em espanha). Ao longo da fronteira existiam postos da Guarda Fiscal em lugares altos e, toda a área nas proximidades do rio Guadiana era vigiada de noite e dia. Na Freguesia de Capelins existiam dois postos, sendo um em Montes Juntos, do qual os guardas saiam e vigiavam o espaço geográfico entre a foz da Ribeira do Lucefécit até cerca da Moinhola (Defesa de Bobadela) e outro no Azinhal Redondo de Baixo (Roncanito), denominado Miguéns, de onde vigiavam a restante linha de fronteira nesta Freguesia, da Moinhola ao Moinho do Gato, na foz da Ribeira do Azevel. Assim, e porque existiam contrabandistas, tinha de existir a Guarda Fiscal, logo sem o transporte ilegal de bens teriam a profissão ameaçada, ou seja, os guardas só existiam, porque existiam contrabandistas!
Fazer contrabando significava correr grandes riscos. O afogamento, na travessia do rio Guadiana, durante o transporte noturno em noites e madrugadas invernosas de chuva e frio, o risco de ser preso e havia os tiros, por vezes certeiros. 
Os riscos corridos eram o preço do desespero, mas também da audácia. A audácia, a ousadia, foram fundamentais no contrabando. Muitos homens arriscaram-se sozinhos, a maioria organizou-se em grupos. A organização do contrabando passava por entendimentos de segredo e solidariedade que contribuíam para desenvolver localmente comércios e estatutos sociais. 
Os principais aliados dos contrabandistas eram os moleiros, dos Moinhos do rio Guadiana, os quais, além de colaborarem em termos logísticos, com informações sobre o paradeiro da Guarda Fiscal, também eram eles que passavam os contrabandistas e as mercadorias, nos seus pequenos barcos, entre uma e a outra margem do rio.
O contrabando marca o património e a memória do povo das terras de Capelins e das localidades vizinhas de além Guadiana, como Cheles, Alconchel, São Benito, São Jorge de Alor, Almendra, Almendralejo, Olivença, Barcarota e outras! 
Muitos são os relatos e testemunhos de quem praticou o contrabando, muitas histórias do contrabando, algumas, ainda hoje contadas por contrabandistas das terras de Capelins!

Moinho no rio Guadiana, em Capelins 



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