sábado, 5 de novembro de 2016

Saudosos Rio Guadiana 

Respostas a um inquérito enviado ao Marquês de Pombal em 8 de Abril de 1758 
Escrito pelo então Pároco de Juromenha Fr. Gaspar Mendes Fragoso
Rio Guadiana em 1758

Juromenha

1. O rio que se acha nas vezinhancas desta Vila, e munto proximo a ela, he o selebrado Guadiana. Dizem os que milhores noticias delle tem, que este rio tem seu nascimento na Espanha, emtre duas serras de Aragam, e que nasce de duas fontes e que
juntas, formam este caudalozo rio, e que no mesmo reyno, entra por bacho da terra sete legoas, dizem outros, que sinco, o certo he, que no noco Reyno, de Portugal se ve corrente a superficie.
2. Nam ha duvida que caudaloso parece o seu nascimento, po[r]que impetuosa he a sua corrente, principalmente de Inverno, no que se vem as numeraveis, e grandes cheas,
que servem de admiracao aos que o vem; todo o anno, nam decha de correr; mas de Veram, com pouca abundancia, que socede pasarem-no a pe descalco; dizem alguns que
lhe socede que lhe sucede assim por cauza de lhe tomarem as agoas, ou as divertirem para regarem, naquelles campos, la na Castella, o que he preciso regarce; outros, que a multidao de
gados, que bachao de terras assima lhe deminuem as agoas. O certo he que de Verao se ve o rio, das agoas mui empobrecido; sendo de Inverno tam emrriquecido dellas.
3. Neste rio, em distancia, de tiro de espingarda, se mete a ribeira de Mures, e em istancia quazi, de mea legoa, a Ribeira da Asseca; isto he, junto a esta Vila, que em distancias maiores, se metem outras ribeiras, e ribeiros: neste termo, so a Ribeira de
Pardais, na distancia de legoa, e tres ribeiros, de menos qualidade, em distancia de mea legoa, e menos, como sam o de Patalao desta parte do rio, e a da outra, o de Villa Real, e do Freyxial.
4. He navegavel este rio Guadiana, e as suas embarcacoes, nao excedem a barca, e seus barquinhos e nam me parece pode admetir outras, e sam as que sempre nelle vi, e nao ouvi o contrario.
5. Paresseme, que o seu cursso todo, he o mesmo em todo o rio, arrebatado mais no Jnverno pellas impetuosas \agoas/, que mais o faz emfuresser, e de Veram, mui pacifico, e quieto, pella deminuhicao dellas e bom socego, e isto me parece, lhe sucede em toda a sua corrente, porque, o contrario, nam me consta.
6. Este selebrado rio, tem sua corrente do nascente do nascente, ao poente.
7. Cria este rio, muntos pexes, e de varios nomes, e diverssas espessies hũns sam barbos, outros cumbos, outros beissudos, outros verceiros, estes sam os de maior qualidade, que ha barbo, que chega a ter o peso, de doito [sic[, vinte, e trinta arrates;
ha tambem outra qualidade, de pexes de menos grandeza, a que chamam escarpios, e pemcas, os maiores, pezao quatro, sinco, seis arrates; fora desta qualidade, ha eyrozes, que sam como as jnguias no mar; ha entam pexe mihudo, bogas, bordalos, saralosas, pardelhas, e etc. Neste rio, ou este rio, entra hũ selebrado, chamado Pego d Lima, que pellos especiaes escarpios e pencas, de que o enriquecia, nelle se fariao grandes e
selebres pescarias, de Verao, pella abundancia de agua que lhe ficava, hoie se acha sem pequia, e so consserva a agua, no tempo do Inverno, e ja estas pescarias tem sessado,
por esta causa. A foz de Mures, e da Asseca, que no dito rio entrao, como ja dice, em qualquer dellas, se fazem pescarias, de toda a qualidade de pexes, e os principais, e em mais abundancia, bogas e bordalos.
8. As pescarias, que ha neste rio, e mais pingues e vistozas se fazem de Veram, com redes, e moscoes, com que se pescao os mais, e mais nobres pexes.
9. Nam consta, que as pescarias deste rio seiam captivas, nem de pessoa particular, mas livres, para toda a pessoa, e nao e nam sei se pratique o contrario.
10. No noco Reyno, nam tenho noticia de serem cultivadas as suas marges, mas antes infrutifero, por nam lanssar suas agoas fora.
11. As agoas deste rio, lhe nam conheco vertude particular; so ousso dizer, que he bom o beber agoa por pao da tarrafeira que no dito rio ha munta, e que esta agoa pellos copos da tal tarrafeira, he boa para desfaser a obstrucao. Eu nao o esprimentei.
12. O dito rio Guadiana, nam sei que tenha outro \nome/ neste Reino, ou fora delle, mas antes nas historias honde se fala neste rio, sempre com o mesmo nome.
13. Este rio morre, e finda no mar, junto a Vila de Serpa, honde chamam o Salto do Lobo. Digo de Mertola.
14. He certo que este rio por todo elle tem muntos asudes e mohinhos, e por isso nao. se pode em toda a parte navegar, mais que tam somente nas partes desempedidas.
15. Nam tenho noticia, que este rio, no noco Portugal tenha mais de hũa ponte, em distancia desta Villa hũa legoa, na freguesia da Senhora da Ajuda, termo de Elvas, que se acha demolida a principal parte dela, e se nao passa; e he de cantaria.
16. So mohinhos tem este rio, e nao sei tenha outro algũ emgenho, no noco Reyno.
17. Nam temos que dizer.
18. Nam sei tenham algũ empedimento as agoas deste rio,
para a cultura dos campos, e para tudo o mais pressiso, porque veio, dellas se uza livremente.
19. Nam sei das legoas, que o rio tem, nem das povoacoes por onde paca, so algũas do noco Reyno, poderei, inconfuso, dar algũa noticia. De Badajos para este Reyno, passa pelo termo de Elvas, e termo de Olivenca, por esta de Juromenha, vezinhancas de Monssaraz, Mouram, Moura, nam sei se por, Serpa, ou Beja.
20. Nam sei mais de couza notavel deste rio, e de tudo o mais, que se pertende saber, e do que alcanssei ou tive noticia, vai expendido por mim, nesta naracam, qui faco, segundo os interrogatorios que se me apresenterao. Nam faltara, quem com mais individuacao fassa esta deligencia, e que milhor noticia tenha. O que confirmo, e faco esta na verdade.
Juromenha 8 de Abril de 1758
O Prior Fr. Gaspar Mendes Fragoso 



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