A Vila de Terena Romana
Como sabemos, a Vila de Terena, antigamente, antes de 1314, até ao reinado de D. Dinis, ficava situada no ângulo formado pela Ribeira de Lucefécit e o Ribeiro do Alcaide, junto ao atual Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, porém desconhecíamos que a dita Vila foi antecedida pela Mansio de "Aturnea", uma corruptela de Ad Adrum Flumen, seria esta a designação original, conforme consta no Tomo IV (pp. 99-100) Mario Saa.
O que era uma Mansio?
Mansio, no plural mansiones, era, na Roma Antiga, um edifício, mansão ou pousada, as vezes fortificada, propriedade do Estado, situado ao longo das vias romanas, destinado a albergar funcionários do Estado em viagem (funcionários civis e militares, do Curso público (Correios) e de particulares munidos duma licença diplomata dada pelo imperador). Essas pousadas disponibilizavam gratuitamente aos viajantes e seus acompanhantes comida e dormida assim como forragens e cortes para os animais ou troca desses se for necessário.[3]
FUNCIONAMENTO
Como as grandes vias do Império eram usadas para o transporte de fundos públicos ou de minério precioso, provisões, armas e outros bens, nas mansiones, havia não só cavalos de disponíveis, mas também carroças de vários tipos, burros, bois para as necessidades dos correios e dos outros vários transportes do estado. Por isso nas mansiones havia sempre quarenta cavalos de reserva (lei 3, Código de Teodósio do Curso Público). Para a alimentação, estes locais eram abastecidos com palha, feno e aveia (lei de annona et tributis Cód. de Teodósio), e o mancipes era encarregado para ter sempre alguns animais de reserva (lei 35, lei 40 do cursu publ. Cód. Teod., Lei 8, Código Justiniano). Os stratores eram os escudeiros sob as ordens dos mancipes. Abaixo deles havia o catabulen que carregava e descarregava as carruagens, cargo ocupado muitas vezes por criminosos condenados a este tipo de servidão. Os muliones ou hippocomi eram os palafreneiros e enfim havia os (mulomedici) para cuidarem da saúde dos animais.[4]
As mansiones situavam-se ao longo das estradas, depois de dois ou três mutationes conforme se vê no Itinerário Antonino.[5] A distância entre duas mansiones correspondia à uma jornada de viagem com os meios de transporte da época. Esta distância era de mais ou menos 30 quilómetros, dependendo do tipo de via e do estado em que se encontrava. Cada mansio correspondia ao ponto final da jornada, sendo a Mutatio uma paragem intermédia de muda de animais com serviço de taberna.[6]
Sempre que se reuniam as condições mínimas, as mansiones tendiam a converter-se em cabeceiras de civitates, por forma a facilitar tanto a administração local, como para nelas instalar os centros comerciais do território, assim como armazéns - horrea - alguns dos quais, como os destinados a produtos de primeira necessidade como o sal, eram imprescindíveis.[6]
No latim literário da Roma Antiga, o termo tinha o significado de "morada" e "habitação", assim como de "hospedaria". Esta acepção da palavra continuou nas línguas românicas, de que é exemplo a "mansão" do português semi-erudito, com o significado de "habitação sumptuosa".[7] Wikipédia.
Assim, se o estudo do escritor, pensador e historiador Mario Saa, (1893-1971) estiver correto, e depois de lermos sobre o que é uma Mansio romana, imaginamos o grande centro comercial que seria a Vila de Terena Romana, por isso, quando foi conquistada e reconquistada aos Mouros era uma grande Vila, popularmente chamada Vila Longa, mas não entendemos, porque não tinha um Castelo ou uma Fortaleza nesse lugar da Vila.
Vila de Terena Romana
"As Grandes Vias da Lusitânia"
Do livro "Itinerários Romanos do Alentejo" de André Carneiro"
(...) "O troço seguinte está menos documentado no terreno. Não devemos esquecer que o objetivo estratégico deste percurso seria o de servir as pedreiras de mármore; mas existe um outro ponto de passagem quase obrigatório, e que consistia no Santuário Endovélico em São Miguel da Mota. (105. Não deixa de ser curioso notar que nesta área regional "Mário Saa" faz depender o itinerário romano, não do Santuário de Endovélico, mas do Santuário medieval de Nossa Senhora da Boa Nova em Terena, onde no Tomo IV pp. 99-100, vai situar a mansio de "Aturnea" uma corruptela de Ad Adrum Flumen. Sendo a sua base de estudo para esta zona essencialmente a documentação medieval, criou-se um anacronismo evidente para o estudo dos caminhos romanos).
A passagem da Ribeira de Lucefécit deveria ser feita na base do Santuário à sombra, do genius loci, acentuando a sua evidente função protetora e quase paternal sobre os viajantes/peregrinos; mas no terreno não têm sido encontrados grandes rastos do caminho. De qualquer forma entre os vários itinerários que Mário Saa vai indicando, há um que parece o mais plausível: "A Ribeira de Lucefécit era, imediatamente transposta defronte do Santuário (de Endovélico), para o Monte do Barranco de Baixo. A Via, no seu estado natural ainda, corta a foz do Ribeiro de Alcalate, afluente da Ribeira de Lucefécit, e avança para Nordeste, por entre matas de azinheiras, pelos Montes, do Pigeiro, Tojoso, Calvino, Boavista, Ferrarias, Mina do Bugalho, Pão Mole, Galvões, Pocinho, Várzea, Mimosa, Bacêlos, Juromenha (...).
Do livro: "Itinerários Romanos do Alentejo" de André Carneiro.
Sendo assim, se a Vila de Terena foi a Mansio "Aturnea" Romana, decerto, foi um grande Centro Comercial, visto ser um entreposto com estalagens, restaurantes e outros comércios.
Sendo resultados de estudos de especialistas, como Mário Saa e outros, embora conhecendo o terreno, nada podemos acrescentar.
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