A lenda da moura Zarita, encantada no Monte do Pinheiro, em Capelins
Depois da reconquista de Odialuiciuez (Terena), aos mouros, cerca do ano de 1230, pelos cavaleiros vilãos da cidade de Évora, eles tiveram de continuar a reconquistar dos Montes e herdades dos lavradores mouros para Sul até ao rio Guadiana, os quais, tinham alguns criados com treino militar que, intervinham contra intrusos ou ladrões, mas foram facilmente dominados, ofereceram pouca resistência, exceto o mazarie, ou seja, o lavrador do Munti du Binhiru (do Monte do Pinheiro) chamado Samir, homem muito rico, dono de todas as terras de pão e de gado dos arredores, cujo Munti, além da sua defesa natural, devido à altitude, estava transformado num forte, pelo lado da chapada ninguém se atrevia a subir, porque, Samir tinha filas de grandes penedos arredondados que rolavam por lá abaixo varrendo tudo na sua frente e do lado de melhor acesso, hoje do Monte Novo e Sudoeste, mandou escavar um fosso com ponte levedissa, difícil de ultrapassar, ficando um autêntico castelo e, o lavrador não se rendeu aos cristãos, com a esperança de, entretanto, ser auxiliado pelos exércitos do califa de Córdoba, que eram esperados a todo o momento.
O regimento cristão que desceu de Odialuiciuez (Terena) para estas terras, não era suficiente para dominar Samir do Munti do Binhiru e, foram pedidos reforços, mas nem assim, o conseguiram dominar, os cristãos eram sempre repelidos pelos homens do lavrador que se encontravam entricheirados e disparavam flechas certeiras a alguma distância, não os deixando aproximar, pelo que, ainda tentaram subir a chapada, mas Samir mandou rolar alguns penedos que os fez recuar, um desses penedos de grandes dimensões foi encontrado há dez ou doze anos, quando arranjaram o caminho que vai junto ao Forno Comunitário da ex Aldeia de Capelins de Baixo, atual Ferreira, até à escola, ao fundo das tapadas antes do ribeiro do poço do chorão, onde estava afundado há quase 800 anos, e que, por fazer ali mais mal do que bem, naquele sítio, foi dado pela Junta de Freguesia de Capelins a uma capelinense que, ainda o tem guardado à entrada do seu quintal e, foi mais um mistério em Capelins, os capelinenses interrogavam-se, como é que aquele penedo trabalhado, foi ali parar? Está, assim, desvendado o mistério.
O Munti du Binhiru estava cercado pelos cristãos, mas Samir tinha mantimentos e podia demorar meses a ceder e, os cristãos tinham pressa, não só por terem poucos mantimentos, mas estavam muito desprotegidos no caso de um contra ataque dos mouros vindos do sul, pelo que, fizeram imensas promessas a Samir, mas não o demoveram, então, o Mestre de guerra dos cristãos, mandou buscar duas catapultas a Odialuiciuez (Terena), eram máquinas de guerra dessa época, foram colocadas na parte mais alta, perto de onde fica hoje o Monte Novo e, durante a noite, lançaram grandes pedras e rodas de fogo para além do fosso, deixando o Munti du Binhiru a ferro e fogo, quase destruído.
O lavrador Samir, era casado e tinha quatro filhas e dois filhos, três filhas já eram casadas e residiam em al Bashar (Elvas) para onde, por precaução, já tinham seguido algumas mulheres, entre as quais, a esposa de Samir e algumas criadas, mas ainda estavam com ele os criados e outras criadas, dois filhos e uma filha já com idades acima dos vinte anos e, o lavrador quando viu que estava vencido, em vez de se render, avançou com o plano que já tinha traçado, seria furar o cerco dos cristãos, e fugir pelo rio Guadiana acima até al Julumaniya (Jurumenha) e dali, assim que tivesse segurança, seguir para al Bash (Elvas), e juntar-se com a família, mas era muito arriscado levar a sua linda filha Zarita, porque se a fuga corresse mal e caíssem nas mãos dos cristãos ela seria mais uma escrava sexual deles e isso, nunca podia acontecer, pelo que, chamou-a à parte e contou-lhe o plano de fuga e disse-lhe que ela não podia ir, pelo motivo antes descrito, pelo que, ia encantá-la ali em casa, mas seria por pouco tempo, porque tinha a certeza que os exércitos do al Andaluz estavam a chegar para os libertar dos cristãos, ela seria desencantada e tudo seria como antes, ela concordou com o pai, porque sabia o perigo que corria no caso de cair nas mãos dos cristãos.
O lavrador disse umas palavras mágicas e, a Zarita ficou encantada, ele enterrou o tesouro do desencantamento e chamou os seus homens, mandou-os dividir em quatro grupos e deu-lhe instruções de como deviam fazer, saiam de noite, antes seriam lançados a rolar alguns penedos pela chapada abaixo, depois, partia um grupo de cada vez, desciam nos cavalos e, tinham por missão enganar os cristãos, levá-los dali em sua perseguição para o mais longe possível, deviam fazer manobras de diversão para os desorientar, depois, ele, os filhos e alguns homens, partiam no último grupo e já teriam o caminho livre e, assim fizeram, alguns mouros conseguiram escapar aos cristãos e levaram-nos na sua perseguição para longe dali, mas o mestre de guerra cristão percebeu a estratégia do lavrador e, deixou um grupo de reserva, com o olho nele e quando ele desceu por onde estão as escadinhas virou à direita na direção do rio Guadiana, por onde se situa hoje o Monte da Forja e o Monte Real, os cristãos perseguiram-no e alcançaram-nos nesse lugar, onde se deu uma luta feroz, mas como os mouros eram em minoria, foram abatidos pelos cristãos, no meio da luta, o lavrador ainda tentou fugir, mas foi morto, onde, hoje fica a chamada azinhaga do Monte Real.
Assim, com o Samir morto e como as tropas do califa de Córdoba, nunca conseguiram furar as linhas das hostes castelhanas, a Zarita, ficou encantada no seu Munti do Binhiru, o qual, após a fuga do lavrador e dos filhos, já pouco resistiu aos cristãos.
A casa do lavrador Samir e da sua família, situava-se, no mesmo sítio onde, mais tarde, os moradores do Monte do Pinheiro tinham as suas lenhas, ao cimo da vereda que liga o dito Monte à ex Aldeia de Capelins de Baixo, era terra de ninguém e de todos, cada pedaço de terreno pertencia a uma casa para terem a lenha e para despejos e, quando fazia anos do desaparecimento do lavrador, nessa noite, ouviam a Zarita a chorar e, os seus movimentos no lugar onde era a casa e, ouviam um tropel pela vereda abaixo, depois, continuava à direita e seguia, exatamente o caminho que o pai da Zarita tinha seguido na tentativa da sua fuga e, algumas pessoas até conseguiam ver uma silhueta, como ela não encontrava o seu pai, voltava para casa no seu Munti du Binhiru e, conta-se que, ainda lá está encantada, e junto dela o respetivo tesouro de ouro e jóias, para o desencantamento.
Assim, pensamos, estar desvendado o mistério do medo do Monte do Pinheiro, em Capelins, sobre o qual, já ouvia-mos contar aos nossos ancestrais que lá nasceram e moraram.
Fim
Texto: Correia Manuel
Monte do Pinheiro de Capelins
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