quarta-feira, 26 de março de 2025

São Pedro da Vila de Terena - 1758

História e estórias do celebrado rio Guadiana e seus afluentes

5 - São Pedro da Vila de Terena - 1758

A descrição do rio Guadiana e seus afluentes, em resposta ao Inquérito do Marquês de Pombal, escrita pelo Prior Mathias Viegas da Sylva - Memórias Paroquiais de São Pedro da Vila de Terena, em  17 de Junho de 1758. 

É de salientar que, nesta data, o Concelho de Terena abrangia, além da Freguesia de São Pedro de Terena, ainda as Freguesias de Santiago Maior e de Santo António (Capelins), pelo que, este Pároco, escreveu sobre o rio Guadiana e seus afluentes ao nível do dito Concelho.

"Corre junto desta Vila uma Ribeira com o nome de Lucefece, termo divisório dos dois Termos (Concelhos) de Terena e Alandroal. 

Tem esta o seu nascimento numa lagoa que está no Sítio de Rio de Moinhos, Termo (Concelho) de Estremoz, e de outras águas que descem da Serra D'Ossa. 

Distante a dita lagoa desta Vila três léguas, e correndo pelas faldas da mesma Serra, paulatinamente vai engrossando suas correntes, passa pelos Termos (Concelhos) de três Vilas, Borba, Vila Viçosa e Alandroal, (e de Terena), correndo em giros sempre solitária até que se avizinha de Terena em distância para mais de dois foguetes, depois passa por Ferreira, Vila da Sereníssima Casa do Infantado, distante uma légua, (de Terena), depois correndo outra légua passa entre o Baldio do Roncão (neste caso, não está correto, aqui era/é a herdade do Roncão, o chamado Baldio do Roncão era no Roncanito junto ao Azevel) deste Termo (Concelho) e a herdade do Aguilhão, Termo (Concelho) do Alandroal, entra no Guadiana que menos agradecido depois de lhe receber as águas lhe tira o nome.

São cinco léguas do lugar onde nasce até ao Guadiana, onde morre. Corre do Norte para a parte acima do Sul, sómente conserva a sua corrente neste Termo (Concelho), enquanto as chuvas lhe formam as mesmas correntes, que no estio (Verão) se vêem extintas.

É o seu curso neste Termo (Concelho) moderado sem muita precepitação, por serem planicies os campos por onde passa.

É abundante em peixes que comumente há nas Ribeiras pequenas desta provincia. As mais frequentes pescarias que nela se fazem e que são livres, são no Inverno até aos fins de Abril. Fôra mais piscosa esta Ribeira se na sua foz não tivesse um açude alto e forte que lhe impede a subida dos peixes vindos do rio Guadiana para a do Lucefece, subindo muito sobre o dito açude, o qual, parece devia ser demolido, porque sempre o bem comum prevaleceu ao particular. (O dito açude, uma pequena barragem perto da foz, impedia a subida dos peixes do rio Guadiana para a Ribeira e, parece que, havia, descontentamento por o mesmo ali existir, devia garantir água às hortas ali existentes e, como sabemos este açude acabou por desaparecer, talvez, fosse desmoronado pelas cheias da Ribeira).

Nas suas margens neste Termo (Concelho) há poucos anos que se vê começaram a cultivar com hortas de melão e melancia, e os mais frutos que costumam andar juntos. (neste caso, os frutos que costumavam andar juntos seriam abóboras, feijão frade e pouco mais).

O arvoredo que se vê nas suas margens é de azinho, e o silvestre de alandros, de que é abundantíssimo ainda no interior da Ribeira.

É este mato infrutífero, e de tal qualidade, que das suas flores, que só são agradáveis à vista, se aproveita a Republica das abelhas para a misteriosa fábrica do seu trabalho.

Tem uma ponte muito capaz, que dá livre e segura passagem aos passageiros, e ainda às carruagens, composta de seis arcos, obra de cantaria que domina as suas mais sobidas e arrogantes inundações que começa neste Termo (Concelho) no sítio que vulgarmente chamam o carrascal, descansa na margem oposta do Termo (Concelho) do Alandroal na raiz de um outeiro, em cuja eminência se venera o glorioso mártir São Gens numa Ermida que é da Ordem de São Bento de Aviz. (a ponte começava/começa no carrascal do lado de Terena e acabava no Concelho do Alandroal, junto ao outeiro onde no alto estava a Ermida de São Gens).

Tem esta Ribeira no Termo (Concelho) desta Vila, dezasseis moinhos, e um lagar de azeite, a que chamam o Lagar da Ribeira, e no Guadiana dentro deste Termo (Concelho) ma Freguesia de Santo António (Capelins) se acham nove, e um na Ribeira de Azevel. (Assim, em 1758 a Freguesia de Santo António ainda não era de Capelins, porque, somente em 1793, passou a ter essa designação).

Entram nesta Ribeira, neste Termo (Concelho) seis (o Prior escreve sete, mas devem ser somente seis) Ribeiros de nome: O Ribeiro da Silveira, o do Alfardagão, o da Abergaria dos Al..dros?, o do Alcaide, e o do Carrão.

Terena em 17 de Junho de 1758

O Prior Mathias Viegas da Sylva 

 O Prior Mathias Viegas da Sylva fez uma excelente descrição da Ribeira de Luceféce (Lucefécit), porque era a mais próxima da Vila de Terena, mas nada descreve sobre os Ribeiros que nela entravam/entram, apenas indicou o seu nome. 

A sua informação abrangeu todo o Concelho de Terena, mas pouco se refere ao celebrado rio Guadiana, apenas escreveu que tinha nove moinhos na Freguesia de Santo António, mas nada refere sobre as caracteristicas deste rio, onde se situava em relação ao Concelho, onde nascia, onde morria, se era caudaloso e navegável, que espécies de peixes criava, se nele havia pescarias livres, e outras informações pedidas. É verdade que, o Pároco Manuel Ramalho Madeira da Freguesia de Santo António (Capelins) escreveu sobre isso, talvez os Párocos se tenham entendido nas respostas a escrever, e completaram a informação.

No ano de 1758, já existiam nove moinhos no rio Guadiana na Freguesia de Santo António: Azenhas D'El-Rei de dentro; Azenhas D'El-rei de fora; Cinza; Moinho Novo de Fora, Moinhola, Miguéns, Volta; Calvinos; e Gato, sendo construídos mais tarde, dois moinhos, chegando a 11 no rio Guadiana, e 11 nas Ribeiras de Lucefécit e do Azevel e alguns pezoins (estes, eram apenas um jogo de mós fixas debaixo de um resguardo tapado a mato, o qual, depois seguia nas cheias, ficando as mós no mesmo lugar, logo, só trabalhavam no Verão, se houvesse água corrente, parece que, no lugar do Moinho das Azenhas D'El-Rei de fora, antes, existiu um Pezoim).

Fim 

Correia Manuel 

Memórias Paroquiais de São Pedro de Terema - 1758 

Vila de Terena 




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