A lenda dos Jornaleiros de Capelins
Este Blogue Tem Como Objetivo Dinamizar a História, Lendas, Tradições e, a Defesa do Património Cultural e Arqueológico das Terras de Capelins - Alandroal
segunda-feira, 21 de julho de 2025
A lenda dos Jornaleiros de Capelins
terça-feira, 15 de julho de 2025
A lenda dos seareiros de Capelins
A lenda dos seareiros de Capelins
terça-feira, 8 de julho de 2025
A lenda dos "ratinhos" de Capelins
A lenda dos "ratinhos" de Capelins
terça-feira, 13 de maio de 2025
Resumo Histórico do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, de Terena
Resumo Histórico do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, de Terena
O Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova na Vila de Terena, é o Santuário Mariano mais antigo a sul do Tejo, sendo cenário de um culto com mais de sete séculos de história, dando seguimento a Santa Maria de Terena, de 1262.
Este edifício, é um importante e singular testemunho da arquitetura medieval portuguesa, construído no decénio de 1340, classificado Monumento Nacional por Decreto de 26 de Junho de 1910.
Os registos mais antigos que fazem referência à Igreja de Santa Maria de Terena são as Cantigas de Santa Maria, da autoria do Rei Afonso X de Castela (1221-1284), avô do Rei D. Dinis, que fez várias composições poéticas dedicados a Santa Maria de Terena. Crê-se que a primeira Igreja foi edificada cerca de 1262 por D. Gil Martins e sua mulher Dona Maria Anes da Maia, os primeiros donatários de Santa Maria de Terena, como resultado da cristianização de antigos cultos pagãos, ligados ao Deus Endovélico, cujo lugar de culto era mais acima, neste mesmo vale Sagrado da Ribeira de Lucefécit.
A tradição popular atribui a edificação do atual edifício à Rainha D. Maria de Castela, Infanta de Portugal, filha do nosso rei D. Afonso IV, o Bravo, a quem Camões chama nos Lusíadas a "Fermosíssima Maria". Segundo a história, a dita Rainha deslocou-se ao Reino de Portugal a pedir auxílio ao seu pai, para ajudar o seu marido na luta contra os Mouros, que invadiam o Reino de Castela com grande força militar, desembarcando na região de Cádiz, mas o rei português, começou por negar auxílio ao genro, depois, talvez com receio que aquela invasão dos mouros pudesse chegar ao seu Reino, acedeu ao pedido da filha e, como o rei estava na cidade de Évora enviou emissários atrás dela a confirmar o auxílio, sendo a Rainha alcançada junto à Vila de Terena, na atual "Boa Nova" e, depois, também devido ao sucesso alcançado na batalha que se seguiu nas margens do Rio Salado ou Salgado, onde os mouros foram vencidos para sempre, com base nesse sucesso, parece que, surgiu a invocação à Senhora da Boa Nova, embora, já nos finais da centúria de 1600, ou início de 1700, tendo passado por Santa Maria de Terena de 1262 até 1408, Nossa Senhora de Terena até finais de 1500, depois, Nossa Senhora dos Prazeres e, por fim, naquela data, Nosssa Senhora da Boa Nova.
O Templo foi erguido no vale da Ribeira do Lucefécit, a cerca de um km da vila de Terena, para além de ser um raríssimo exemplar de igreja-fortaleza, mantém, praticamente intactos, tanto no exterior como no interior, os elementos originais da sua construção, a sua forte cantaria aparelhada, o coroamento de ameias e os característicos balcões mata-cães, símbolos da sua arquitetura mista religiosa e militar. Ostenta nos balcões da fachada principal e da fachada Norte as armas reais portuguesas, esculpidas em mármore, mas com algumas alterações, não tem encimada a coroa do reino, porque, Dona Maria, nunca foi rainha em Portugal, apenas Infanta, daí a alteração verificada.
O interior é em planta de cruz grega e fortes abobadas ogivais. Os alçados das naves encontram-se revestidos de pinturas murais, do início do século XX, da autoria do pintor Silva Rato, representando Santos da devoção popular. Possui dois altares colaterais de talha dourada, em estilo barroco, dedicados a São Brás e Santa Catarina Mártir. Artisticamente destaca-se a capela-mor, cuja abobada se encontra revestida de pinturas a fresco setecentistas, representados cenas do Apocalipse de S. João e os Reis Portugueses da primeira dinastia, numa rara composição iconográfica. O retábulo, de singular riqueza, ostenta tábuas representativas da vida da Virgem e de Cristo (Anunciação, Presépio, Pentecostes, Ressurreição e Assunção da Virgem), da autoria do pintor régio Francisco de Campos (Séc. XVI). Ao centro venera-se a imagem de Nossa Senhora de Boa Nova, escultura de vestir do séc. XVIII, com o Menino ao colo, ostentando coroas de prata e vestes ricas oferecidas pelos fiéis. O título Senhora da Boa Nova exprime a felicidade de Maria pela Ressurreição de Jesus, tanto que a festa principal em sua honra se realiza anualmente no domingo e segunda-feira da oitava da Páscoa, estando assim intimamente ligada às festas pascais. A esta romaria, que é a mais antiga do Alentejo, acorre grande número de devotos vindos dos mais variados pontos do país.
Guarda-se no Santuário vasta coleção de ex-votos oferecidos ao longo dos séculos, destacando-se os quadros pintados em madeira e folha de flandres, conjunto de fotografias do período da guerra do Ultramar, assim como, várias peças de ourivesaria, objetos em cera e outros, que atestam a profunda e antiga devoção a Santa Maria de Terena, a mesma, Senhora da Boa Nova, ou seja, Nossa Senhora, mãe de Jusus.
A coroa de ouro que a imagem apresenta, nos dias da festa, oferecida pelo povo, foi benzida e colocada pelo Arcebispo de Évora, D. Manuel da Conceição Santos, em 1952.
Nossa senhora da Boa Nova em, Vila de Terena.
De: Consulta a vários documentos, entre eles, da Arquidiocese de Évora.
Abril de 2025
Correia Manuel
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova
domingo, 11 de maio de 2025
A origem do hidrónimo da Ribeira do Azevel
A origem do hidrónimo da Ribeira do Azevel
quarta-feira, 7 de maio de 2025
O hidrónimo da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit
O hidrónimo da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit
domingo, 4 de maio de 2025
A lenda do mouro Abadel, Senhor das terras de Capelins
A lenda do mouro Abadel, Senhor das terras de Capelins
O Reino de Badajoz foi um reino mouro ou Taifa, localizado no que hoje é a região da Estremadura, na Espanha, com Badajoz como sua principal cidade, e incluía uma parte que é hoje Portugal, desde o rio Douro até, praticamente todo o Alentejo, pelo menos até Beja, assim como, as cidades de Lisboa e de Santarém.
Este reino era parte do Al-Andalus e existiu após a fragmentação do Califado de Córdoba, no final do século X, início do século XI, ou seja, entre 1009 e 1151, com um interregno entre 1094 e 1144, quando da invasão dos Almorávidas da Mauritânia.
Foram vários os caudilhos conhecidos que se destacaram ao serviço deste reino, entre eles, Azovel e Abadel que, conforme ficou registado por alguns cronistas mouros de então, percorreram o dito reino e as atuais terras de Capelins, onde deixaram os seus nomes ligados a lugares, rios e ribeiras, neste caso, escrevemos sobre Abadel que deixou o seu nome ligado a uma grande herdade ou defesa situada no Vale do rio Guadiana junto à sua margem direita, um pouco a Norte do sinuoso curso do Azovel e, encarando o pueblo espanhol de Cheles, a qual, mais tarde, em 1262, integrou o Termo (Concelho) cristão de Santa Maria de Terena, hoje designada herdade da Defesa de Bobadela, mas, ainda encontramos alguns registos como Defesa do Abadel, tal como a designação do Monte mouro, da dita herdade, na atual Freguesia de Capelins.
Sabe-se, pelas crónicas da época, que de facto o mouro a quem o rei D. Fernando II de Leão, entregou o governo de Badajoz, logo a seguir à derrota do seu sogro D. Afonso Henriques e do Geraldo Sem Pavor, devido à aliança feita por aquele rei com os mouros, chamava-se Aben Habel (conf. Júlo González - Registo de Fernando II, pág. 87, Madrid 1943). Este nome, Aben Habel, por aglutinação, deve ter conduzido a Ababel e depois, na forma moderna foi corrompida Abadel.
A região geográfica antes descrita, onde está registada esta forma toponímica de Abadel, encontra-se incluída numa zona que a carta geográfica de Portugal de 1875 escala 1x100.000 designa por Algarve Sêco. Este espaço geográfico, do Algarve Sêco, no século XII, na época do reino mouro de Badajoz, estava incluído no Termo (Concelho) de Juromenha ou seja, Jelmanah e, devia ser o centro estratégico das correrias de Geraldo Sem Pavor, a que alude Ibne Sáhibe Açalá num dos passos da sua crónica quando se refere à tática dos assaltos noturnos em que o fronteiro de Évora era tão costumado especialista "perfídeo que o rude galego utilizava (Allah o amoldiçoe) nas fortalezas e cidades que conquistava, (conf. texto de comunicação de Martim Velho um texto da crónica de Ibne Sáhibe Açalá respeitantes a D. Afonso Henriques e a Geraldo Sem Pavor e ao território português).
O dito Algarve Sêco situava-se na atual Freguesia de Capelins e de São Pedro de Terena, no tempo dos mouros era Termo (Concelho) de Juromenha, ou seja, Jelmanah, vizinha de Badajoz, Évora e Monsaraz, tudo leva a crer que tivesse sido a zona das famosas aventuras militares de Geraldo Sem Pavor ao longo do Vale do rio Guadiana, a que se refere Ibne Sáhibe Açalá.
Quando do desastre em Badajoz, de D. Afonso Henriques, no dia 03 de Maio de 1169, já o reino mouro de Badajoz estava desintegrado, uma vez que, os reis cristãos já tinham conquistado a maior parte do seu território, mas a cidade de Badajoz ainda resistia, até esse dia, porém era cobiçada por todos os reinos da cristãos da Península Ibérica, então, o rei de Leão e da Galiza Fernando II, genro de D. Afonso Henriques fez uma aliança com o rei mouro, que consistia em este o ajudar a derrotar o seu sogro e ele entregava-lhe a cidade e, foi assim que D. Afonso Henriques, não só foi derrotado em Badajoz como ao fugir do castelo caiu do cavalo ao bater com a perna direita no ferrolho da porta, partindo o fémur, sendo aprisionado pelo genro, e foi o seu fim militar.
Quanto a Geraldo Sem Pavor, rendeu-se e, para não ser decapitado, como parece que ele fazia aos mouros que dominava, aceitou ir para Marrocos com 150 dos seus homens, também aqui aprisionados, para, sendo necessário, pelejarem ao lado dos mouros, mais tarde, caiu numa cilada em Badajoz onde foi decapitado e, como sabemos, o reino de Portugal perdeu todas as praças antes conquistadas nesta região do Guadiana e, depois só algumas voltaram ao domínio de Portugal, cerca de 1230/1240.
O rei de Leão Fernando II, conforme a aliança, entregou a cidade de Badajoz aos mouros, porque, seria uma questão de tempo para voltar a si, ficando a ser governada por Aben Habel, o mesmo que Abadel, Senhor mouro das terras de Capelins, onde tinha um castelo, na herdade do Abadel, na margem direita do rio Guadiana.
Fim
Texto: Correia Manuel
De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.
"Esboço da carta toponímica da Reconquista no Termo (Concelho) de Monsaraz. Os desenhos a pena são de Domóstenes Espanca. O desenho geográfico é de Manuel Guimarães. A fotografia é de David de Freitas. Redução de gravura em escala de 1/100.000."
sexta-feira, 2 de maio de 2025
A lenda da alcunha "sacaios" de Santiago Maior
A lenda da alcunha "sacaios" de Santiago Maior
domingo, 20 de abril de 2025
Condes e Marqueses da Vila de Terena
História da Vila de Terena
sábado, 19 de abril de 2025
A Comenda de Santa Maria de Terena
História da Vila de Terena
A Comenda de Santa Maria de Terena
Uma Comenda era um conjunto de bens e benefícios, como casas, terras, castelos, Vilas, Portos, moinhos, lagares, fornos, barcas, portagens, padroados, foros e outros, que eram doadas às Ordens Religiosas e Militares, para terem rendimentos para se manterem, para a sua participação nas guerras, e para auxílio económico aos seus cavaleiros, como o caso da doação das rendas de Santa Maria de Terena que, em 10 de Maio de 1464, foram doadas por D. Pedro Rei de Aragão que era, então, o governador da Ordem de São Bento de Aviz, ao cavaleiro desta Ordem, Diogo Velho, era uma pensão, pelos serviços prestados, que recebia até ao seu falecimento.
No segundo ou terceiro decénio do ano de 1400, talvez em 1422, o rei D. João I criou a Comenda de Santa Maria de Terena, para a Ordem de São Bento de Avis, possivelmente, como reconhecimento da sua participação na conquista de Ceuta em 21 de Agosto de 1415, ao lado deste rei. que já tinha sido o Mestre de Aviz.
Após pesquisas possíveis, encontramos nesta Comenda, apenas, o rico padroado da Igreja de Santa Maria de Terena, nesta data, oficialmente, já era de Nossa Senhora de Terena, desde 1408 que lhe tinha sido retirado Santa Maria, pela Bula Sincere devotionis do Papa Gregório XII, depois, parece-nos que, cerca de 1570 passou a ser dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres e, em 1708 já era de Nossa Senhora da Boa Nova. O rendimento da Comenda, seria cerca de 1.500 libras, ou seja, cerca de 429 reais brancos de prata, ou 1050 reais prêtos, cerca de 3.000 soldos, que nessa época era muito dinheiro.
Como em 15 de Junho de 1796, o moinho das Azenhas D'El-Rei de dentro, no rio Guadiana, Concelho de Terena, era de D. Francisco de Melo Cogominho, Tenente ou Cadete do regimento de cavalaria de Évora, levou-nos a pensar que, o dito moinho estava incluído na Comenda, mas não, porque a Comenda foi pedida por ele à rainha Dª Maria I em 01 de Janeiro de 1802.
Em 1327, no reinado de D. Afonso IV, a Ordem de São Bento de Avis já tinha 32 Comendas com um rendimento a rondar as 18.000 libras, nesta data, ainda não existia a Comenda de Santa Maria de Terena, em 1744 detinha 48 Comendas e no fim da sua vida em 1834, eram 49 Comendas.
O padroado de uma Igreja consistia nos dízimos, taxas e outros rendimentos da mesma, como as missas e outros serviços, mas na Comenda de Terena não são referidos os valores das esmolas, das promessas, nem os valores das graças pelos milagres que, conforme se verifica em alguns documentos oficiais, envolviam muito dinheiro que, era recolhido pelos Mamposteiros e administrado pelos Mordomos da Confraria de Santa Maria de Terena, referenciados em documento régio em 08 de Abril de 1496.
Entre os anos de 1565 e 1570, foram feitas obras de grande relevo no Santuário da atual Senhora da Boa Nova, destacando-se o retábulo maneirista da Capela Mor que, custou muito dinheiro, porque foi pintado por um dos melhores pintores dessa época, chamado Francisco de Campos, nascido na Flandres em 1515 e faleceu em Évora em 1580 com peste, foi um pintor maneirista flamengo ativo em Portugal no século XVI. Talvez tenha sido aluno de Martin van Hemeesckerk, e mostrou possuir um estilo de grande segurança, desenvoltura e originalidade, sem precedentes em Portugal. Construía figuras com proporções inusitadas contra um cenário de espacialidade complexa, empregando cores cítricas em combinações surpreendentes. O seu desenho era alheio a todo o naturalismo, com um traço nervoso e expressivo. A sua obra inaugura uma fase de renovada internacionalização na pintura portuguesa. As suas obras só podiam ser pagas pelo rico Cabido da Sé de Évora e por Famílias nobres muito ricas, logo, pensa-se que, esta obra, foi suportada pelo próprio Santuário, porque a Ordem de São Bento de Avis, era a dona da Comenda, mas não fazia tão grande gasto, porque, esse investimento não lhe dava mais nada de rendas.
Alguns autores escreveram que, na data da criação da dita Comenda, o rei D. João I, também entregou, os domínios da Vila de Terena, incluindo o seu Castelo, à dita Ordem, mas não encontramos nenhum documento Régio que o comprove, antes o contrário e, se assim fosse, o rei D. João I, não doava a Vila de Terena a Gomez Garcia de Foyos no dia 14 de Março de 1422, Chancelaria de D. João I - Vol. I folha 18 v. e, nem D. Duarte a podia entregar a D. Nuno Martins da Silveira, em 08 de Maio de 1436, sendo confirmado Alcaide Mor por D. João II e, depois, a muitos outros Alcaides Mor.
A Comenda de Terena ficou na posse da Ordem de São Bento de Avis até 28 de Maio de 1834, embora, tenha passado por imensos beneficiados e Comendadores, ou seja, administradores da dita Comenda.
O Decreto de 28 de Maio de 1834 (D. Pedro, Duque de Bragança)
Extinguiu todas as Ordens Religiosas, logo, as respetivas Comendas, incluindo a de Santa Maria de Terena.
De: Consulta a diversos documentos régios e da Ordem de São Bento de Aviz.
Texto: Correia Manuel
Abril de 2025
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova
segunda-feira, 14 de abril de 2025
De Nossa Senhora dos Prazeres a Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
De Nossa Senhora dos Prazeres a Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
A romaria é de origem bastante antiga, tendo como centro o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, que já existia, com nome de Santa Maria de Terena, no século XIII.
No século XVI teve o nome de Nossa Senhora dos Prazeres, sendo que a invocação actual (Senhora da Boa Nova), já aparece documentada no século XVIII. O culto Mariano neste local é bastante antigo (talvez o mais antigo do país a sul do Tejo), exprime a exaltação de Maria aquando da Ressurreição de seu Filho, Jesus, daí que a romaria ocorra oito dias após a Páscoa (Domingo e Segunda-Feira de Pascoela).
A romaria tem como pontos altos a procissão de velas do Domingo de Pascoela, quando a imagem da Virgem é conduzida para a Igreja Matriz de São Pedro de Terena, nela ocorrendo o chamado Encontro(entre as imagens de São Pedro, padroeiro da freguesia, e da Senhora da Boa Nova).
O dia maior da festa é Segunda-Feira de Pascoela (feriado municipal no concelho de Alandroal), quando ocorre a Procissão solene de regresso ao Santuário, percorrendo as ruas do centro histórico de Terena.
Paralelamente às festividades religiosas (que são o coração da romaria),a confraria organiza ainda uma série de acontecimentos (bailes, garraiadas, leilão das oferendas, etc.), que decorrem nos dias da festa, no recinto do Santuário e no centro da vila.
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
sábado, 12 de abril de 2025
A estória dos macacos, do padre de Capelins
A estória dos macacos, do padre de Capelins
Nos finais dos anos cinquenta, início dos anos sessenta, ainda havia muita gente, a viver com dificuldades na Freguesia de Capelins, não só devido às fracas jornas que ganhavam nos trabalhos rurais, mas também, devido à dimensão da maioria das famílias, que eram muito numerosas.
Os homens e as mulheres trabalhavam de sol a sol, só em 1962 chegou o horário das 8 horas diárias de trabalho aos rurais, mas já existia desde 1919 para outras profissões, assim, saíam de casa para os trabalhos ainda de noite e de noite voltavam a casa, os trabalhadores que voltavam, porque, alguns comiam e dormiam nas herdades onde trabalhavam e só iam a casa a mudar a roupa de vestir nos Domingos à tarde.
Todos os Domingos, havia a missa dominical na Igreja de Santo António de Capelins, mas compareciam poucos fiéis, e quanto mais o padre criticava e apelava aos paroquianos para irem à missa, menos compareciam, obrigando o padre a procurar saber as razões desse acontecimento, chegando à conclusão que, os fregueses não tinham tempo para ir à missa, porque, mesmo no caso de não trabalharem para os patrões, era no Domingo, que tinham de fazer os trabalhos nas suas casas, as mulheres tinham de lavar as roupas da família, fazer comida, arranjar os filhos e dar uma volta à casa. Os homens tinham de tratar das lenhas, limpar as estrumeiras, semear, cavar e colher as batatas, alhos, couves, alfaces, favas e outros produtos agricolas e horticolas, que eram imprescindíveis à casa, sendo impossível dispensar algumas horas para irem à missa.
Essa situação, obrigou o padre a dirigir-se ao Arcebispo, e pediu-lhe ajuda sobre o que fazer, transmitindo-lhe o motivo que impedia os paroquianos a comparecer nas missas, que era por não terem tempo, uma vez que tinham de trabalhar de noite e de dia e mesmo assim, havia muitas famílias a passar mal em termos económicos, tendo receio que, estivessem a perder a fé, até podiam estar a caminho de uma crise espiritual, por estarem tanto tempo sem ouvir a palavra do Senhor.
O Arcebispo reconheceu que era uma situação grave, não só por algumas pessoas estarem a passar mal, mas não podiam cair num vazio espiritual e decidiu que, durante uma temporada, seria dada uma ração de farinha energética para caldos, a cada paroquiano e paroquiana que fossem à missa, para os ajudar a alimentar o corpo e a alma.
O padre de Capelins anunciou logo esta oferenda da Igreja, dizendo que, era uma farinha muito energética e benzida que tratava o corpo e o espírito, dava muita energia e tinha muitas qualidades, substituía o pão com carne, o pão com queijo, o pão com azeitonas e o pão com pão e anunciou que, no Domingo seguinte, a farinha já estava na Igreja de Santo António e seria distribuída por quem estivesse na missa.
Os paroquianos e paroquianas em poucas horas espalharam a notícia pela Freguesia e foram acrescentando ainda mais qualidades à farinha, nessa semana, não se falou noutra coisa e no Domingo os fregueses não cabiam na Igreja de Santo António, e quase todos os presentes levaram a sua ração, mas os que não levaram a quantidade que queriam para a casa, ou até por qualquer motivo não levaram nenhuma, ficaram zangados com o padre e deu muito falatório.
Nesse dia, houve caldos de farinha por muitas casas de Capelins, mas a maioria das pessoas não sabiam tratar aquela farinha e ficaram com imensos grumos, mas não houve queixas, era grande o desejo de provar a farinha milagrosa, que nem os notaram, e toda a gente comentou que, nunca tinham comido caldos de farinha tão bons, até ali só comiam de farinha de trigo torrada no forno de coser o pão, ou crua, e diziam que era como o padre tinha dito, sentiam-se mais fortes com mais força, aumentando ainda mais a curiosidade daqueles que não tinham ido à missa e à farinha, e no Domingo seguinte, já lá estavam, sendo assim, durante uns tempos, a Igreja enchia, diziam que o trabalho podia esperar umas horas, eles é que não podiam desperdiçar aquela dádiva, já a missa, era como as mais missas.
A rapaziada, andava toda entusiasmada com os caldos de farinha do padre, até corriam e saltavam ainda mais, e passavam o tempo a pedir mais caldos de farinha, enquanto havia, até que um dia estava um grupo de vizinhos e vizinhas a aproveitar a soalheira e um gaiato começou a pedir à mãe o respetivo caldinho de farinha do padre, assim que um pediu, pediram todos, e lá foram mães e avós para casa a fazê-los, e eles por ali ficaram com o ti João que aproveitou para brincar com eles e disse-lhe:
Ti João: Óh rapaziada, vocês sabem que a farinha dos caldos é muito boa, mas é pena vir cheia de macacos do padre, eu já há muito tempo que a arrumei, nem tão pouco a quero cá em casa!
A rapaziada deram um salto e ficaram junto dele a fazer imensas perguntas:
Rapaziada: Oh ti João, está a brincar com a gente? Como é que soube essa coisa, dos macacos do padre?
Ti João: Não estou a brincar, não! Oxalá que estivesse! Foi uma pessoa da minha confiança que me contou, e além disso, não me digam que nunca acharam os macacos nos caldos, quando estamos a comê-los sentem-se a escorregar na boca! E o sabor, lembrem-se lá do sabor, se não é mesmo dos macacos!
Bastou um dos rapazes confirmar que já tinha desconfiado disso, e que já não comia nem mais um caldo, para todos acreditarem no ti João, ele não era pessoa de mentiras, e quando as mães e avós os chamaram, porque já tinham os caldinhos feitos, pelo sim pelo não, responderam todos, que não queriam, não tinham fome de caldos, só queriam um bocadinho de pão com azeitonas ou com queijo e, a partir daquele dia, não comeram mais caldos de farinha do padre que, de verdade, distraído, tirava macacos do nariz com o dedo, talvez alguns lá fossem parar à farinha.
A rapaziada começaram a dizer isso na Escola e todos achavam que devia ser verdade, porque o padre tirava muitos macacos, logo, convenceram os outros gaiatos por toda a Freguesia e, a maioria já não queriam os caldos, a sorte da rapaziada para não terem de os comer, foi que, devido ao grande consumo, depressa esgotaram a farinha, a qual, dava jeito a muita gente.
Quando a doação da farinha acabou na Igreja de Santo António, a comparência dos devotos nas missas, voltou ao que era antes, porque, a maioria dos paroquianos de Capelins, não tinham tempo para ir às missas.
Fim
Texto: Correia Manuel
A lenda dos Jornaleiros de Capelins
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