terça-feira, 13 de maio de 2025

Resumo Histórico do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, de Terena

Resumo Histórico do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, de Terena 

O Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova na Vila de Terena, é o Santuário Mariano mais antigo a sul do Tejo, sendo cenário de um culto com mais de sete séculos de história, dando seguimento a Santa Maria de Terena, de 1262.

Este edifício, é um importante e singular testemunho da arquitetura medieval portuguesa, construído no decénio de 1340, classificado Monumento Nacional por Decreto de 26 de Junho de 1910.

Os registos mais antigos que fazem referência à Igreja de Santa Maria de Terena são as Cantigas de Santa Maria, da autoria do Rei Afonso X de Castela (1221-1284), avô do Rei D. Dinis, que fez várias composições poéticas dedicados a Santa Maria de Terena. Crê-se que a primeira Igreja foi edificada cerca de 1262 por D. Gil Martins e sua mulher Dona Maria Anes da Maia, os primeiros donatários de Santa Maria de Terena,  como resultado da cristianização de antigos cultos pagãos, ligados ao Deus Endovélico, cujo lugar de culto era mais acima, neste mesmo vale Sagrado da Ribeira de Lucefécit. 

A tradição popular atribui a edificação do atual edifício à Rainha D. Maria de Castela, Infanta de Portugal, filha do nosso rei D. Afonso IV, o Bravo, a quem Camões chama nos Lusíadas a "Fermosíssima Maria". Segundo a história, a dita Rainha deslocou-se ao Reino de Portugal a pedir auxílio ao seu pai, para ajudar o seu marido na luta contra os Mouros, que invadiam o Reino de Castela com grande força militar, desembarcando na região de Cádiz, mas o rei português, começou por negar auxílio ao genro, depois, talvez com receio que aquela invasão dos mouros pudesse chegar ao seu Reino, acedeu ao pedido da filha e, como o rei estava na cidade de Évora enviou emissários atrás dela a confirmar o auxílio, sendo a Rainha alcançada junto à Vila de Terena, na atual "Boa Nova" e, depois, também devido ao sucesso alcançado na batalha que se seguiu nas margens do Rio Salado ou Salgado, onde os mouros foram vencidos para sempre, com base nesse sucesso, parece que, surgiu  a invocação à Senhora da Boa Nova, embora, já nos finais da centúria de 1600, ou início de 1700, tendo passado por Santa Maria de Terena de 1262 até 1408, Nossa Senhora de Terena até finais de 1500, depois, Nossa Senhora dos Prazeres e, por fim, naquela data, Nosssa Senhora da Boa Nova.

O Templo foi erguido no vale da Ribeira do Lucefécit, a cerca de um km da vila de Terena, para além de ser um raríssimo exemplar de igreja-fortaleza, mantém, praticamente intactos, tanto no exterior como no interior, os elementos originais da sua construção, a sua forte cantaria aparelhada, o coroamento de ameias e os característicos balcões mata-cães, símbolos da sua arquitetura mista religiosa e militar. Ostenta nos balcões da fachada principal e da fachada Norte as armas reais portuguesas, esculpidas em mármore, mas com algumas alterações, não tem encimada a coroa do reino, porque, Dona Maria, nunca foi rainha em Portugal, apenas Infanta, daí a alteração verificada.

O interior é em planta de cruz grega e fortes abobadas ogivais. Os alçados das naves encontram-se revestidos de pinturas murais, do início do século XX, da autoria do pintor Silva Rato, representando Santos da devoção popular. Possui dois altares colaterais de talha dourada, em estilo barroco, dedicados a São Brás e Santa Catarina Mártir. Artisticamente destaca-se a capela-mor, cuja abobada se encontra revestida de pinturas a fresco setecentistas, representados cenas do Apocalipse de S. João e os Reis Portugueses da primeira dinastia, numa rara composição iconográfica. O retábulo, de singular riqueza, ostenta tábuas representativas da vida da Virgem e de Cristo (Anunciação, Presépio, Pentecostes, Ressurreição e Assunção da Virgem), da autoria do pintor régio Francisco de Campos (Séc. XVI). Ao centro venera-se a imagem de Nossa Senhora de Boa Nova, escultura de vestir do séc. XVIII, com o Menino ao colo, ostentando coroas de prata e vestes ricas oferecidas pelos fiéis. O título Senhora da Boa Nova exprime a felicidade de Maria pela Ressurreição de Jesus, tanto que a festa principal em sua honra se realiza anualmente no domingo e segunda-feira da oitava da Páscoa, estando assim intimamente ligada às festas pascais. A esta romaria, que é a mais antiga do Alentejo, acorre grande número de devotos vindos dos mais variados pontos do país.

Guarda-se no Santuário vasta coleção de ex-votos oferecidos ao longo dos séculos, destacando-se os quadros pintados em madeira e folha de flandres, conjunto de fotografias do período da guerra do Ultramar, assim como, várias peças de ourivesaria, objetos em cera e outros, que atestam a profunda e antiga devoção a Santa Maria de Terena, a mesma, Senhora da Boa Nova, ou seja, Nossa Senhora, mãe de Jusus.

A coroa de ouro que a imagem apresenta, nos dias da festa, oferecida pelo povo, foi benzida e colocada pelo Arcebispo de Évora, D. Manuel da Conceição Santos, em 1952.

Nossa senhora da Boa Nova em, Vila de Terena. 

De: Consulta a vários documentos, entre eles, da Arquidiocese de Évora.

Abril de 2025

Correia Manuel 

Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova




domingo, 11 de maio de 2025

A origem do hidrónimo da Ribeira do Azevel

 A origem do hidrónimo da Ribeira do Azevel

O hidrónimo da Ribeira do Azevel parece ter origem no nome de um célebre caudilho almorávida cordovês que, andou em campanhas militares pelo Alentejo e, neste caso, pelas terras de Évora, de Monsaraz e de Terena (Capelins), na centúria de 1100.
Este nome, Azevel, já consta nos Forais da Vila de Terena de 1262 e de Monsaraz de 1276, sendo o afluente com este hidrónimo e uma Atalaia ou torre de sinais, a marcação dos limites, em termos geográficos e administrativos destes dois Termos (Concelhos).
Até evoluir para Azevel, em termos filológicos, o seu nome sofreu várias alterações, o arabistas espanhol Francisco Cordera, a quem se deve a identificação deste caudilho cordovês, refere-se a Azubel, [Francisco Cordera - decadência y desaparecion de los almorávidas em España, pág. 27 e 28, Saragoça 1899, do mesmo - Estúdios críticos de história árabe española (segunda série), pág. 136, Madrid 1917]. Sánches Balda, por seu lado, na edição da Chrónica Adefonsi Imperatoris publicada em Espanha pelo Conselho Superior de Investigações Científicas, menciona-o, em nota de rodapé pelas designações de Azuer, Asuel e, finalmente Azuvel, (Luis Sánchez Belda - Chrónica Aldefonso Imperatoris, pág. 143, Madrid 1950).
Sánchez Albornoz e o seu discipulo Luís de Valdeavellano intitulam-no, respetivaemte rei Al-Zuil de Córdova e Al Zubayr, tomo II, pág. 198 - 199, Buenos Aires, 1946, Luís de Vadeavellano - História de España, tomo I, segunda parte, pág. 143, Madrid 1955).
Também Ibne Caldune, o maior historiador islâmico de todos os tempos, sob o nome de Ez-Zabeir-Ibne-Omar, a ele se refere na sua monumental - História dos Berberes e, em termos de tão religiosa exaltação que não duvidam em considerá-lo como "chefe" almorávida de alta categoria, (Ibne Khaldoun - História dos Berberes - pág. 83, Paris, 1927).
A existência do topónimo e do hidrónimo do Azovel nas terras de Terena (Capelins) e de Monsaraz, mostra com evidência que o famoso emir cordovês não foi só um prestigiado chefe almorávida na Espanha, também foi um caudilho muçulmano bem conhecido em Portugal, devido às suas sangrentas incursões nas terras portuguesas do Alentejo, logo, da nossa região, só assim se entende a existência nas terras de Terena (Capelins) e de Monsaraz do hidrónimo do referido curso de água e da Atalaia ou torre de sinais do Azovel no lugar da cota topográfica de maior altitude desta região.
O caudilho mouro chegou a ter sob o seu comando um exército com 1.000 cavalos e, durante muitos anos, segundo escreve Francisco Cordera, a competência de manter no Andaluz a honra das armas muçulmanas, contra a cristandade.
Azovel, morreu descabeçado no ano de 1143, às mãos do castelhano Múnio (Nuno) Afonso, Alcaide de Toledo, num recontro entre os cristãos e os mouros junto à Mata de Montiel, perto da atual Cidade Real.
A projeção dos seus feitos militares era tão grande no ocidente peninsular que, logo em Agosto de 1143, no mesmo ano da sua morte, para enxugar as lágrimas da inconsolável viúva e a ampararem a carpir a perda brutal do marido, levaram-lhe a cabeça do Alcaide de Toledo Múnio Afonso, que foi morto numa refrega com os mouros, onde os castelhanos eram comandados pelo Alcaide de Calatrava, Fárax, a sua cabeça foi decepada e enviada para Córdova como glorioso troféu de guerra e com macabra honra militar prestada à viúva do caudilho.
Por incrível que pareça, o valoroso guerreiro mouro Azovel, ainda hoje é homenageado nas terras de Capelins, Santiago Maior e de Monsaraz.
De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.

Ribeira de Azevel, albufeira de Alqueva - Ponte da Machôa


quarta-feira, 7 de maio de 2025

O hidrónimo da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit

 O hidrónimo da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit

A maioria dos afluentes do alto Guadiana, embora alterados pelas formas modernas corrompidas, apresentam hidrónimos associados aos nomes de califas, caudilhos cordoveses ou de reis do reino mouro de Badajoz.
No caso da Ribeira de Lucefece ou Lucefécit, que nasce numas Fontes e regatos de escorrentes da Serra D'Ossa na herdade da Carneira, em sentido paralelo à Aldeia de Rio de Moinhos e a dita serra, correndo por terras de Bencatel, Alandroal, Redondo, Terena e Capelins, até meter-se no rio Guadiana, hoje, Albufeira de Alqueva.
É muito estranho que este importante curso de água tenha escapado aos mouros em termos de o associarem ao nome de um dos seus califas, ou caudilhos, à semelhança de quase todos os outros da região, por isso, pensamos que, algum mistério deve existir com o hidrónimo desta Ribeira.
O hidrónimo, Lucefeci, Lucefece ou Lucefécit, o mesmo, já foi estudado em termos filológicos, mas não conhecemos resultados de estudos em termos históricos.
Lucefécit, aparece também nas variantes Lucifece, Lucefece, lucefeci e Luçafece. José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, estuda o termo e cita um antigo Udialuicivez, onde se vê o árabe udi "rio" que deu o "od" de alguns rios portugueses. Acha ainda que o antigo nome pré-celta talvez fosse vez. Quanto ao aparecimento do "l" parece ser o artigo árabe "al", reduzido. Assim, continuamos com dúvidas sobre a origem do dito hidrónimo.
Verificarmos que, os califas e caudilhos mouros mais importantes do Al-Andalus, principalmente os do reino mouro de Badajoz, deixaram os seus nomes associados a lugares, ribeiros, ribeiras e rios da nossa região, como Almançor, Azovel, Álamo, Alcarrache, Ardila, Basso, Auanco e outros, porém, não encontramos o nome de um dos Califas Almoáda mais importantes, governador de Sevilha, chamado Abu Iacub Iúçufe que, parece morreu em Portugal, depois de ser ferido em Santarém.
O cerco de Santarém foi um dos episódios da reconquista, durando o mês de Junho e Julho de 1184. Na primavera de 1184, Abu Iacube Iúçufe I reuniu um exército, atravessou o Estreito de Gibraltar e marchou até Sevilha. Daqui seguiu com as suas forças até Badajoz e prosseguiu para ocidente para fazer um cerco a Santarém, defendida pelo nosso rei D. Afonso Henriques. Porém, o rei Fernando II de Leão, marchou para Santarém com o seu exército em auxilio do seu sogro, os mouros foram vencidos, o dito Califa foi ferido com uma flecha e morreu no dia 29 de Julho de 1184, embora, também seja indicado que morreu já em Algeciras, o seu filho e de uma linda escrava de Silves, Abu Iacub Almançor que lhe sucedeu como califa, deixou o seu nome associado ao Rio Almansor que nasce perto de Arraiolos e desagua no rio Sorraia, logo, o se pai, também tinha de deixar por aqui o seu nome.
Assim, com base em alguns velhos documentos, parece-nos que, seria a Ribeira de Lucefécit o curso de água que lhe ganhou o nome, o qual, sofreu aglutinação, e depois, na forma moderna talvez fosse corrompida e passou a Luçafece ou Lucefece, porque, ao longo da história, encontramos, em documentos oficiais, várias formas dessa palavra, até ficar Lucefécit, já no século XIX ou XX, porque, ao longo da centúria de 1700, ainda encontramos Lucefece, Lucefeci ou Luçafece.
Não há dúvida que, no início da cristianização destas terras, este hidrónimo passou pelo termo popular "Lucifer", conforme podemos verificar nas cantigas a Santa Maria de Terena, do Rei de Castela, Afonso X o Sábio, que não sendo claro, dá a entender que lhe chamavam aquele nome, que não se podia dizer, porém, foi contornado para Lucefece.
Neste caso, nada podemos afirmar, mas por analogia com outros casos registados nas crónicas de então, como as de Ibne Sáhibe Açalá, parece-nos que, Lucefece ou Lucefécit, provém do Califa Abu Iacub Iúçufe.
De: Consulta a vários documentos sobre a Ribeira de Lucefécit
Maio de 2025
Correia Manuel


Porta de entrada da Ribeira de Lucefécit na Freguesia de Capelins



domingo, 4 de maio de 2025

A lenda do mouro Abadel, Senhor das terras de Capelins

 A lenda do mouro Abadel, Senhor das terras de Capelins 

O Reino de Badajoz foi um reino mouro ou Taifa, localizado no que hoje é a região da Estremadura, na Espanha, com Badajoz como sua principal cidade, e incluía uma parte que é hoje Portugal, desde o rio Douro até, praticamente todo o Alentejo, pelo menos até Beja, assim como, as cidades de Lisboa e de Santarém. 

Este reino era parte do Al-Andalus e existiu após a fragmentação do Califado de Córdoba, no final do século X, início do século XI, ou seja, entre 1009 e 1151, com um interregno entre 1094 e 1144, quando da invasão dos Almorávidas da Mauritânia.

Foram vários os caudilhos conhecidos que se destacaram ao serviço deste reino, entre eles, Azovel e Abadel que, conforme ficou registado por alguns cronistas mouros de então, percorreram o dito reino e as atuais  terras de Capelins, onde deixaram os seus nomes ligados a lugares, rios e ribeiras, neste caso, escrevemos sobre Abadel que deixou o seu nome ligado a uma grande herdade ou defesa situada no Vale do rio Guadiana junto à sua margem direita, um pouco a Norte do sinuoso curso do Azovel e, encarando o pueblo espanhol de Cheles, a qual, mais tarde, em 1262, integrou o Termo (Concelho) cristão de Santa Maria de Terena, hoje designada herdade da Defesa de Bobadela, mas, ainda encontramos alguns registos como Defesa do Abadel, tal como a designação do Monte mouro, da dita herdade, na atual Freguesia de Capelins. 

Sabe-se, pelas crónicas da época, que de facto o mouro a quem o rei D. Fernando II de Leão,  entregou o governo de Badajoz, logo a seguir à derrota do seu sogro D. Afonso Henriques e do Geraldo Sem Pavor, devido à aliança feita por aquele rei com os mouros, chamava-se Aben Habel  (conf. Júlo González - Registo de Fernando II, pág. 87, Madrid 1943). Este nome, Aben Habel, por aglutinação, deve ter conduzido a Ababel e depois, na forma moderna foi corrompida Abadel.

A região geográfica antes descrita, onde está registada esta forma toponímica de Abadel, encontra-se incluída numa zona que a carta geográfica de Portugal de 1875 escala 1x100.000 designa por Algarve Sêco. Este espaço geográfico, do Algarve Sêco, no século XII, na época do reino mouro de Badajoz, estava incluído no Termo (Concelho) de Juromenha ou seja, Jelmanah e, devia ser o centro estratégico das correrias de Geraldo Sem Pavor, a que alude Ibne Sáhibe Açalá num dos passos da sua crónica quando se refere à tática dos assaltos noturnos em que o fronteiro de Évora era tão costumado especialista "perfídeo que o rude galego utilizava (Allah o amoldiçoe) nas fortalezas e cidades que conquistava, (conf. texto de comunicação de Martim Velho um texto da crónica de Ibne Sáhibe Açalá respeitantes a D. Afonso Henriques e a Geraldo Sem Pavor e ao território português).

O dito Algarve Sêco situava-se na atual Freguesia de Capelins e de São Pedro de Terena, no tempo dos mouros era Termo (Concelho) de Juromenha, ou seja, Jelmanah, vizinha de Badajoz, Évora e Monsaraz, tudo leva a crer que tivesse sido a zona das famosas aventuras militares de Geraldo Sem Pavor ao longo do Vale do rio Guadiana, a que se refere Ibne Sáhibe Açalá.

Quando do desastre em Badajoz, de D. Afonso Henriques, no dia 03 de Maio de 1169, já o reino mouro de Badajoz estava desintegrado, uma vez que, os reis cristãos já tinham conquistado a maior parte do seu território, mas a cidade de Badajoz ainda resistia, até esse dia, porém era cobiçada por todos os reinos da cristãos da Península Ibérica, então, o rei de Leão e da Galiza Fernando II, genro de D. Afonso Henriques fez uma aliança com o rei mouro, que consistia em este o ajudar a derrotar o seu sogro e ele entregava-lhe a cidade e, foi assim que D. Afonso Henriques, não só foi derrotado em Badajoz como ao fugir do castelo caiu do cavalo ao bater com a perna direita no ferrolho da porta, partindo o fémur, sendo aprisionado pelo genro, e foi o seu fim militar.

Quanto a Geraldo Sem Pavor, rendeu-se e, para não ser decapitado, como parece que ele fazia aos mouros que dominava, aceitou ir para Marrocos com 150 dos seus homens, também aqui aprisionados, para, sendo necessário, pelejarem ao lado dos mouros, mais tarde, caiu numa cilada em Badajoz onde foi decapitado e, como sabemos, o reino de Portugal perdeu todas as praças antes conquistadas nesta região do Guadiana e, depois só algumas voltaram ao domínio de Portugal, cerca de 1230/1240.

O rei de Leão Fernando II, conforme a aliança, entregou a cidade de Badajoz aos mouros, porque, seria uma questão de tempo para voltar a si, ficando a ser governada por Aben Habel, o mesmo que Abadel, Senhor mouro das terras de Capelins, onde tinha um castelo, na herdade do Abadel, na margem direita do rio Guadiana. 

Fim

Texto: Correia Manuel

De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.


"Esboço da carta toponímica da Reconquista no Termo (Concelho) de Monsaraz. Os desenhos a pena são de Domóstenes Espanca. O desenho geográfico é de Manuel Guimarães. A fotografia é de David de Freitas. Redução de gravura em escala de 1/100.000." 






sexta-feira, 2 de maio de 2025

A lenda da alcunha "sacaios" de Santiago Maior

 A lenda da alcunha "sacaios" de Santiago Maior

A origem da alcunha "sacaios" tem quase mil anos, embora, a palavra original fosse "açacais", palavra árabe, a qual, sofreu a natural alteração na forma moderna corrompida de sacais, o seja, sacaios.
Esta palavra, "açacais" define a nobre profissão de aguadeiros que, existiam em grande número até há poucos anos, os quais, vendiam água porta a porta e, parece que, já existiam na época dos mouros, ainda podemos verificar na cidade de Évora a Travessa do Açacal, o mesmo que aguadeiro, talvez vinda dos mouros, fica no lado direito do quartel militar, a descer para o Hospital,(vejamos: aos referidos aguadeiros, então chamados "açacais", que iam aos casais com burros carregados de água).
Assim, a dita profissão, registada por cronistas mouros, era, também, desenvolvida nas terras reguengas, então mouriscas, mais tarde, em 1273, integradas no Termo (Concelho) de Monsaraz, onde aguadeiros mouros vendiam a água da Fonte do Ramila, situada um pouco a Norte da atual cidade de Reguengos de Monsaraz, próxima da margem direita da Ribeira do Álamo, no sentido de Santiago Maior, que produzia uma água especial, logo, os aguadeiros movimentavam-se neste espaço geográfico que, ao longo dos séculos passou a ser conhecido pelas terras dos "açacais", depois, "sacais ou sacaios".
Quanto a Ramila, era um mouro, jurista, visionário, asceta (dedicava-se a práticas espirituais) e profeta do Califado de Córdova, chamado Aboû Abbás Ahmad Ibn Ramila, que se sabe ter percorrido o Reino Mouro de Badajoz, onde a Vila de Monsaraz se encontrava integrada, a quem os cronistas árabes atribuem uma visão profética a propósito do resultado da batalha de Zalaca, travada perto de Badajoz, entre os Cristãos castelhanos e os Almorávidas da Mauritânia que vieram em auxílio dos reis mouros de Badajoz, Granada e Sevilha, onde o Rei de Castela Afonso VI foi derrotado às mãos de Iúçufe Ibne Taxufine, na qual, também participaram, o lírico famoso da Salvação a Silves, o rei de Sevilha Mutâmide Ibne Abbad, na qual, segundo dizem os cronistas da época, Ramila morreu, (conf. Ahmed Ben Khaled En-Nacir Es-Slaoui-Kitab El-Istiqça Li-Akhbar Doual El-Magrib El-Aqça - História de Marrocos - Tomo II, pág. 173, Paris 1925).
Ainda sobre a célebre "Fonte do Ramila" dos "açacais"ou sacaios, situava-se nas antigas terras reguengas que foram integradas no Termo (Concelho) de Monsaraz, junto do manuelino Reguengo do Mon Real a que alude expressamente o Foral novo concedido a Monsaraz em 1512 pelo rei D. Manuel I.
"As frescas e cristalinas águas da "Fonte do Ramila", na continuidade de uma arcaica tradição local, guardadas nos típicos cântaros de barro saídos das olarias da Aldeia do Mato e carregados no dorso de albardados e lazarentos gericos do Magrebe, costumava ser vendida às portas das casas de Reguengos por "açacais" de profissão." (podemos confirmar nos dicionários de lingua portuguesa que "açacais" são aguadeiros).
"A força desta tradição local muçulmana da venda de água de beber às portas das habitações ou casais, por aguadeiros profissionais conduzindo burrinhos bíblicos, parece confirmar o conceito de Marsá."
Reguengos de Baixo, de Cima, e Crujeira, foram crescendo ao longo dos séculos, sempre com a tradicional presença dos açacais/sacais e depois sacaios, que não deixaram faltar a boa água aos seus moradores, porém, todos os naturais ou residentes para lá dos fins desta localidade no sentido Norte, até Santiago Maior, senão mais distante, ganharam a alcunha de açacais, ou seja, sacaios, até aos dias de hoje, tendo a sua origem, nos aguadeiros mouros, há quase mil anos.

De: Consulta de diversos documentos e do trabalho: "Valor da prospeção toponímica no levantamento histórico de uma região portuguesa do Guadiana incluida no reino mouro de Badajoz" por José Pires Gonçalves.

Texto: Correia Manuel

Foto net: Aguadeiros ou açacais


domingo, 20 de abril de 2025

Condes e Marqueses da Vila de Terena

 História da Vila de Terena

Condes e Marqueses da Vila de Terena

O título de Conde de Terena foi criado por Decreto da Rainha Dª Maria II no dia 29 de Setembro de 1835, a favor de Sebastião Correia de Sá, sendo ele, o primeiro Conde da Vila de Terena. Porém, talvez devido à importância desta Vila e do seu Concelho, por novo Decreto da mesma Rainha, em 01 de Julho de 1848, foi criado o título de Marquês de Terena, a favor do mesmo Sebastião Correia de Sá, mas este título não invalidou o anterior e continuaram os dois títulos na posse da mesma pessoa.
Depois de Sebastião Correia de Sá, os ditos títulos foram passando para os herdeiros e, ainda hoje, continuam atribuídos.
Assim:
Titulares:
1 - Sebastião Correia de Sá, 1º Marquês de Terena, nasceu em 1766.
2 - Maria Emília Jácome Correia de Sá, 2ª condessa e 2ª Marquesa de Terena, 2ª Viscondessa de São Gil de Perre * nasceu em 1793
3 - Luis Brandão de Melo Cogominho Pereira de Lacerda, 2º Marquês de Terena * nasceu em 1815.
4 - Eugénia Maria Filomena Brandão de Melo Cogominho Corrêa de Sá Pereira de Lacerda, 3ª Condessa e Marquesa de Terena * nasceu em 1840
5 - Ana Maria da Piedade Teles da Silva Caminha e Menezes, 4ª Condessa e Marquesa de Terena e 8ª condessa de Vilar Maior * nasceu em 1932 e faleceu em 2011.
6 - Parece que, atualmente o título pertence a um filho da anterior, também Marquês de Alegrete, talvez , Fernando José Telles da Silva e Menezes?, nasceu em 1958.
Fontes: Nobreza de Portugal e Brasil - vol. 3-pg. 432-433 - e vol. 2 - pg. 222 - 223.

Sebastião Correia de Sá


sábado, 19 de abril de 2025

A Comenda de Santa Maria de Terena

 História da Vila de Terena 

A Comenda de Santa Maria de Terena 

Uma Comenda era um conjunto de bens e benefícios, como casas, terras, castelos, Vilas, Portos, moinhos, lagares, fornos, barcas, portagens, padroados, foros e outros, que eram doadas às Ordens Religiosas e Militares, para terem rendimentos para se manterem, para a sua participação nas guerras, e para auxílio económico aos seus cavaleiros, como o caso da doação das rendas de Santa Maria de Terena que, em 10 de Maio de 1464, foram doadas por D. Pedro Rei de Aragão que era, então, o governador da Ordem de São Bento de Aviz, ao cavaleiro desta Ordem, Diogo Velho, era uma pensão, pelos serviços prestados, que recebia até ao seu falecimento.

No segundo ou terceiro decénio do ano de 1400, talvez em 1422, o rei D. João I criou a Comenda de Santa Maria de Terena, para a Ordem de São Bento de Avis, possivelmente, como reconhecimento da sua participação na conquista de Ceuta em 21 de Agosto de 1415, ao lado deste rei. que já tinha sido o Mestre de Aviz.

Após pesquisas possíveis, encontramos nesta Comenda, apenas, o rico padroado da Igreja de Santa Maria de Terena, nesta data, oficialmente, já era de Nossa Senhora de Terena, desde 1408 que lhe tinha sido retirado Santa Maria, pela Bula Sincere devotionis do Papa Gregório XII, depois, parece-nos que, cerca de 1570 passou a ser dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres e, em 1708 já era de Nossa Senhora da Boa Nova. O rendimento da Comenda, seria cerca de 1.500 libras, ou seja, cerca de 429 reais brancos de prata, ou 1050 reais prêtos, cerca de 3.000 soldos, que nessa época era muito dinheiro.

Como em 15 de Junho de 1796, o moinho das Azenhas D'El-Rei de dentro, no rio Guadiana, Concelho de Terena, era de D. Francisco de Melo Cogominho, Tenente ou Cadete do regimento de cavalaria de Évora, levou-nos a pensar que, o dito moinho estava incluído na Comenda, mas não, porque a Comenda foi pedida por ele à rainha Dª Maria I em 01 de Janeiro de 1802. 

Em 1327, no reinado de D. Afonso IV, a Ordem de São Bento de Avis já tinha 32 Comendas com um rendimento a rondar as 18.000 libras, nesta data, ainda não existia a Comenda de Santa Maria de Terena, em 1744 detinha 48 Comendas e no fim da sua vida em 1834, eram 49 Comendas.

O padroado de uma Igreja consistia nos dízimos, taxas e outros rendimentos da mesma, como as missas e outros serviços, mas na Comenda de Terena não são referidos os valores das esmolas, das promessas, nem os valores das graças pelos milagres que, conforme se verifica em alguns documentos oficiais, envolviam muito dinheiro que, era recolhido pelos Mamposteiros e administrado pelos Mordomos da Confraria de Santa Maria de Terena, referenciados em documento régio em 08 de Abril de 1496.

Entre os anos de 1565 e 1570, foram feitas obras de grande relevo no Santuário da atual Senhora da Boa Nova, destacando-se o retábulo maneirista da Capela Mor que, custou muito dinheiro, porque foi pintado por um dos melhores pintores dessa época, chamado Francisco de Campos, nascido na Flandres em 1515 e faleceu em Évora em 1580 com peste, foi um pintor maneirista flamengo ativo em Portugal no século XVI. Talvez tenha sido aluno de Martin van Hemeesckerk, e mostrou possuir um estilo de grande segurança, desenvoltura e originalidade, sem precedentes em Portugal. Construía figuras com proporções inusitadas contra um cenário de espacialidade complexa, empregando cores cítricas em combinações surpreendentes. O seu desenho era alheio a todo o naturalismo, com um traço nervoso e expressivo. A sua obra inaugura uma fase de renovada internacionalização na pintura portuguesa. As suas obras só podiam ser pagas pelo rico Cabido da Sé de Évora e por Famílias nobres muito ricas, logo, pensa-se que, esta obra, foi suportada pelo próprio Santuário, porque a Ordem de São Bento de Avis, era a dona da Comenda, mas não fazia tão grande gasto, porque, esse investimento não lhe dava mais nada de rendas. 

Alguns autores escreveram que, na data da criação da dita Comenda, o rei D. João I, também entregou, os domínios da Vila de Terena, incluindo o seu Castelo, à dita Ordem, mas não encontramos nenhum documento Régio que o comprove, antes o contrário e, se assim fosse, o rei D. João I, não doava a Vila de Terena a Gomez Garcia de Foyos no dia 14 de Março de 1422, Chancelaria de D. João I - Vol. I folha 18 v. e, nem D. Duarte a podia entregar a D. Nuno Martins da Silveira, em 08 de Maio de 1436, sendo confirmado Alcaide Mor por D. João II e, depois, a muitos outros Alcaides Mor.

A Comenda de Terena ficou na posse da Ordem de São Bento de  Avis até 28 de Maio de 1834, embora, tenha passado por imensos beneficiados e Comendadores, ou seja, administradores da dita Comenda.

O Decreto de 28 de Maio de 1834 (D. Pedro, Duque de Bragança)

Extinguiu todas as Ordens Religiosas, logo, as respetivas Comendas, incluindo a de Santa Maria de Terena.

De: Consulta a diversos documentos régios e da Ordem de São Bento de Aviz.

Texto: Correia Manuel

Abril de 2025 


Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova



segunda-feira, 14 de abril de 2025

De Nossa Senhora dos Prazeres a Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena

 De Nossa Senhora dos Prazeres a Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena

Cerca do ano de 1262 D. Gil Martins e sua mulher Dª Maria Anes da Maia mandaram construir as Igrejas de Santa Maria de Terena e a Igreja de São João, na chamada Vila Velha, ambas cosntam no Livro 2 dos Padroados.
Em 1408 devido à Bula Sincere devotionis do Papa Gregório XII a igreja de Santa Maria de Terena foi anexada à de Santa Maria do Alandroal, passando a designar-se de Nossa Senhora de Terena, porém, na centúria de 1600 surge como Nossa Senhora dos Prazeres e, em 1708 na Chorographia moderna do reino de Portugal, Baptista, João M. já era Nossa Senhora da Boa Nova.
Nossa Senhora dos Prazeres foi o nome da invocação da Virgem Maria em Terena no século XVI, sendo que atualmente é conhecida como Nossa Senhora da Boa Nova.
Explicação
Nossa Senhora da Boa Nova é uma invocação da Virgem Maria que simboliza esperança, renovação e intercessão divina.
A invocação "Boa Nova" lembra os cristãos de que Maria trouxe as boas notícias da salvação ao mundo.
De Nossa Senhora dos Prazeres:
A devoção à Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora dos Prazeres, originou-se em Portugal. Aconteceu por volta do ano 1590. A história conta que a imagem da Virgem apareceu em cima de uma fonte de água em Alcântara, mais precisamente numa quinta chamada quinta dos condes da Ilha. Após o aparecimento da imagem, curas milagrosas aconteceram na vida de pessoas que iam beber água na fonte. Como era de se esperar, a notícia desses factos espalhou-se rapidamente e o povo começou a ir em peregrinação até à fonte.
Nossa Senhora dos Prazeres é também conhecida como Nossa Senhora das Sete Alegrias. Os franciscanos foram os responsáveis por espalhar esta devoção Mariana. Isto deve-se ao facto de que as sete alegrias de Nossa Senhora foram descritas por um franciscano.
Quanto à Igreja de Nossa Senhora de Terena, nos finais da centúria de 1500, início de 1600, passou a ser dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, mas em 1708, já era dedicada a Nossa Senhora da Boa Nova, decerto, mais adequada à história da construção da dita Igreja Fortaleza pela formosissima Maria, filha do rei D. Afonso IV, por naquele lugar ou perto dele, ter recebido a boa nova, ou boas notícias, enviadas por seu pai sobre a participação do Reino de Portugal na Batalha do Salado no Rio Salgado, junto a Cádiz) em 30 de Outubro de 1340.
De: Terra Santa


Romaria de Nossa Senhora da Boa Nova

A Romaria de Nossa Senhora da Boa Nova ocorre na vila de Terena, concelho de Alandroal, distrito e arquidiocese de Évora, sendo organizada pela Confraria de Nossa Senhora da Boa Nova.
A romaria é de origem bastante antiga, tendo como centro o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, que já existia, com nome de Santa Maria de Terena, no século XIII.
No século XVI teve o nome de Nossa Senhora dos Prazeres, sendo que a invocação actual (Senhora da Boa Nova), já aparece documentada no século XVIII. O culto Mariano neste local é bastante antigo (talvez o mais antigo do país a sul do Tejo), exprime a exaltação de Maria aquando da Ressurreição de seu Filho, Jesus, daí que a romaria ocorra oito dias após a Páscoa (Domingo e Segunda-Feira de Pascoela).
A romaria tem como pontos altos a procissão de velas do Domingo de Pascoela, quando a imagem da Virgem é conduzida para a Igreja Matriz de São Pedro de Terena, nela ocorrendo o chamado Encontro(entre as imagens de São Pedro, padroeiro da freguesia, e da Senhora da Boa Nova).
O dia maior da festa é Segunda-Feira de Pascoela (feriado municipal no concelho de Alandroal), quando ocorre a Procissão solene de regresso ao Santuário, percorrendo as ruas do centro histórico de Terena.
 Paralelamente às festividades religiosas (que são o coração da romaria),a confraria organiza ainda uma série de acontecimentos (bailes, garraiadas, leilão das oferendas, etc.), que decorrem nos dias da festa, no recinto do Santuário e no centro da vila.



Nossa Senhora dos Prazeres



Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena

 Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena

Santuário de Nossa Senhora da Assunção da Boa Nova / Capela da Boa-Nova
IPA.00004442
Portugal, Évora, Alandroal, Terena (São Pedro)
Arquitectura religiosa, gótica, fortificada. Santuário com capela-fortaleza em cruz grega totalmente abobadada, evidenciando paralelismos com a igreja-fortaleza da Flor da Rosa no Crato.
Um cruzeiro, pouco depois do cemitério, marca o início do arruamento que conduz ao Santuário; a cerca de metade do percurso, outro cruzeiro a partir do qual um alinhamento ténue de árvores marca o percurso até ao terreiro da Capela; este apresenta ligeira pendente, sendo definido por murete com banco que em toda a sua extensão oferece locais de estadia em redor do Santuário.
Fronteiro à entrada da Capela, aglomerado de construções e um alinhamento de "palmeiras" constituindo uma cortina.
Capela em planta de cruz grega com braços desiguais totalmente abobadada no interior.
Cobertura exterior em telhado de linhas radiadas.
As quatro fachadas apresentam o mesmo aspecto.
A fachada principal a Oeste, a fachada Norte, e a fachada Sul têm uma porta simples de arco quebrado sobrepujada por uma estreita fresta, sobre a qual há um balcão avançado do tipo de matacães.
A fachada principal é encimada pelo campanário com um sino de bronze.
No extradorso da capela-mor, fachada Este, abre-se uma fresta, obstruida pela montagem interior do retábulo.
O edifício é rematado em todo o redor por uma coroação de merlões e ameias de tipo claramente defensivo.
Cobertura exterior em telhado de várias pendentes.
Espaço interior diferenciado.
A capela-mor ocupa totalmente o braço Este.
A abóbada tem uma composição mural que cobre totalmente o tecto em 20 quadros rectangulares com temas bíblicos do Apocalipse de São João e com representações de reis da primeira dinastia.
Os restantes braços da igreja apresentam várias pinturas murais do início do século, representando figuras de santos, segundo cópias oitocentistas, enquadradas por molduras de estuque.
Os altares colaterais têm retábulos em talha.
Cronologia
1340 - Fundação por voto de D. Maria, mulher de Afonso X de Castela e filha de D. Afonso IV, relacionado com a vitória da Batalha do Salado;
1700 - Arranjo da igreja ordenado pelo comendador Luís Lencastre; construção do actual campanário;
séc. 18 - construção dos dois altares colaterais.
Dados Técnicos
Paredes portantes reforçadas por cunhais em silharia e travadas por abóbadas sob coberturas de pendentes.
Materiais
Alvenaria de pedra argamassada, rebocada e caiada *1. Silharia dos cunhais em granito.
Cobertura em telha com drenagem lateral em algeroz e saída em gárgulas de granito.
Caixilharia em madeira pintada.
Revestimentos interiores em reboco caiado ou com pinturas em fresco.
Pavimentos interiores em tijoleira e lages de xisto.
Exteriores em calçada de mármore.
Vivos: "Palmeiras" e Eucaliptos.
Inertes: muros de suporte e terra batida.
Intervenção Realizada
DGEMN: 1947 - Reparação de coberturas, substituição do pavimento, restauro do retábulo;
1970 - Reparação geral das coberturas, reparação de merlões, arranque de árvores, reparação de panos de muralha;
1976 - Limpeza de telhados; remoção de pavimentos, assentamento de pavimentos de xisto, reparação de portas, pinturas;
1983 - Reparação de gárgula, arranque de árvore, reparação / limpeza de telhados; portas exteriores laterais, reparação da porta principal (fechadura e pintura);
1986 - Reparação de gárgula, reparação de telhados;
1990 - Limpeza e reparação de coberturas.
2024 - Limpesa e Reparação de coberturas.

De: SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico

Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova



sábado, 12 de abril de 2025

A estória dos macacos, do padre de Capelins

 A estória dos macacos, do padre de Capelins 

Nos finais dos anos cinquenta, início dos anos sessenta, ainda havia muita gente, a viver com dificuldades na Freguesia de Capelins, não só devido às fracas jornas que ganhavam nos trabalhos rurais, mas também, devido à dimensão da maioria das famílias, que eram muito numerosas. 

Os homens e as mulheres trabalhavam de sol a sol, só em 1962 chegou o horário das 8 horas diárias de trabalho aos rurais, mas já existia desde 1919 para outras profissões, assim, saíam de casa para os trabalhos ainda de noite e de noite voltavam a casa, os trabalhadores que voltavam, porque, alguns comiam e dormiam nas herdades onde trabalhavam e só iam a casa a mudar a roupa de vestir nos Domingos à tarde.

Todos os Domingos, havia a missa dominical na Igreja de Santo António de Capelins, mas compareciam poucos fiéis, e quanto mais o padre criticava e apelava aos paroquianos para irem à missa, menos compareciam, obrigando o padre a procurar saber as razões desse acontecimento, chegando à conclusão que, os fregueses não tinham tempo para ir à missa, porque, mesmo no caso de não trabalharem para os patrões, era no Domingo, que tinham de fazer os trabalhos nas suas casas, as mulheres tinham de lavar as roupas da família, fazer comida, arranjar os filhos e dar uma volta à casa. Os homens tinham de tratar das lenhas, limpar as estrumeiras, semear, cavar e colher as batatas, alhos, couves, alfaces, favas e outros produtos agricolas e horticolas, que eram imprescindíveis à casa, sendo impossível dispensar algumas horas para irem à missa.

Essa situação, obrigou o padre a dirigir-se ao Arcebispo, e pediu-lhe ajuda sobre o que fazer, transmitindo-lhe o motivo que impedia os paroquianos a comparecer nas missas, que era por não terem tempo, uma vez que tinham de trabalhar de noite e de dia e mesmo assim, havia muitas famílias a passar mal em termos económicos, tendo receio que, estivessem a perder a fé, até podiam estar a caminho de uma crise espiritual, por estarem tanto tempo sem ouvir a palavra do Senhor. 

O Arcebispo reconheceu que era uma situação grave, não só por algumas pessoas estarem a passar mal, mas não podiam cair num vazio espiritual e decidiu que, durante uma temporada, seria dada uma ração de farinha energética para caldos, a cada paroquiano e paroquiana que fossem à missa, para os ajudar a alimentar o corpo e a alma.

O padre de Capelins anunciou logo esta oferenda da Igreja, dizendo que, era uma farinha muito energética e benzida que tratava o corpo e o espírito, dava muita energia e tinha muitas qualidades, substituía o pão com carne, o pão com queijo, o pão com azeitonas e o pão com pão e anunciou que, no Domingo seguinte, a farinha já estava na Igreja de Santo António e seria distribuída por quem estivesse na missa. 

Os paroquianos e paroquianas em poucas horas espalharam a notícia pela Freguesia e foram acrescentando ainda mais qualidades à farinha, nessa semana, não se falou noutra coisa e  no Domingo os fregueses não cabiam na Igreja de Santo António, e quase todos os presentes levaram a sua ração, mas os que não levaram a quantidade que queriam para a casa, ou até por qualquer motivo não levaram nenhuma, ficaram zangados com o padre e deu muito falatório.

Nesse dia, houve caldos de farinha por muitas casas de Capelins, mas a maioria das pessoas não sabiam tratar aquela farinha e ficaram com imensos grumos, mas não houve queixas, era grande o desejo de provar a farinha milagrosa, que nem os notaram, e toda a gente comentou que, nunca tinham comido caldos de farinha tão bons, até ali só comiam de farinha de trigo torrada no forno de coser o pão, ou crua, e diziam que era como o padre tinha dito, sentiam-se mais fortes com mais força, aumentando ainda mais a curiosidade daqueles que não tinham ido à missa e à farinha, e no Domingo seguinte, já lá estavam, sendo assim, durante uns tempos, a Igreja enchia, diziam que o trabalho podia esperar umas horas, eles é que não podiam desperdiçar aquela dádiva, já a missa, era como as mais missas.

A rapaziada, andava toda entusiasmada com os caldos de farinha do padre, até corriam e saltavam ainda mais, e passavam o tempo a pedir mais caldos de farinha, enquanto havia, até que um dia estava um grupo de vizinhos e vizinhas a aproveitar a soalheira e um gaiato começou a pedir à mãe o respetivo caldinho de farinha do padre, assim que um pediu, pediram todos, e lá foram mães e avós para casa a fazê-los, e eles por ali ficaram com o ti João que aproveitou para brincar com eles e disse-lhe:

Ti João: Óh rapaziada, vocês sabem que a farinha dos caldos é muito boa, mas é pena vir cheia de macacos do padre, eu já há muito tempo que a arrumei, nem tão pouco a quero cá em casa!

A rapaziada deram um salto e ficaram junto dele a fazer imensas perguntas:

Rapaziada: Oh ti João, está a brincar com a gente? Como é que soube essa coisa, dos macacos do padre?

Ti João: Não estou a brincar, não! Oxalá que estivesse! Foi uma pessoa da minha confiança que me contou, e além disso, não me digam que nunca acharam os macacos nos caldos, quando estamos a comê-los sentem-se a escorregar na boca! E o sabor, lembrem-se lá do sabor, se não é mesmo dos macacos!

Bastou um dos rapazes confirmar que já tinha desconfiado disso, e que já não comia nem mais um caldo, para todos acreditarem no ti João, ele não era pessoa de mentiras, e quando as mães e avós os chamaram, porque já tinham os caldinhos feitos, pelo sim pelo não, responderam todos, que não queriam, não tinham fome de caldos, só queriam um bocadinho de pão com azeitonas ou com queijo e, a partir daquele dia, não comeram mais caldos de farinha do padre que, de verdade, distraído, tirava macacos do nariz com o dedo, talvez alguns lá fossem parar à farinha. 

A rapaziada começaram a dizer isso na Escola e todos achavam que devia ser verdade, porque o padre tirava muitos macacos,  logo, convenceram os outros gaiatos por toda a Freguesia e, a maioria já não queriam os caldos, a sorte da rapaziada para não terem de os comer, foi que, devido ao grande consumo, depressa esgotaram a farinha, a qual, dava jeito a muita gente.

Quando a doação da farinha acabou na Igreja de Santo António, a comparência dos devotos nas missas, voltou ao que era antes, porque, a maioria dos paroquianos de Capelins, não tinham tempo para ir às missas. 

Fim 

Texto: Correia Manuel





segunda-feira, 7 de abril de 2025

Aldeia de Vila Real - Juromenha - 1758

História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes

10 - Aldeia de Vila Real - Juromenha - 1758

A descrição do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes, em resposta ao Inquérito do Marquês de Pombal, escrita pelo Cura, Padre Francisco Dias Mendes, nas Memórias Paroquiais de Nossa Senhora da Assunção, Aldeia de Vila Real - Juromenha, em 02 de Abril de 1758. 

Rio Guadiana

"O celebrado rio Guadiana divide esta Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Vila Real, pela parte do Poente com a Freguesia da Matriz da Vila de Juromenha.

O rio Guadiana é caudaloso e dizem que tem seu nascimento nas serras do Reino de Aragão e que, no Reino de Castela passa de muita distância e se mete e some-se pela terra e que vem a sair dali quatro léguas ou as que na verdade forem, o que tudo é tradição, este rio vai meter-se nas vizinhanças de Mértola.

São várias as Ribeiras de que toma as suas águas para fazer a sua corrente, entre elas as de que tenho notícia no Reino de Castela são as da parte do Nascente a Ribeira de Albecira, a Ribeira de Val Verde e pela parte do Poente é a Ribeira de Xeuta. 

Em Portugal pela parte do Nascente é o Ribeiro de Alfornel que é no distrito desta Freguesia e o Ribeiro do Freixial no dito distrito pela parte do Poente se mete no dito Guadiana. 

A Ribeira de Caia e a de Varxe que são no Termo (Concelho) de Elvas. 

No Termo (Concelho) de Juromenha se metem no dito rio Guadiana a Ribeira de Mures e a Ribeira de Alagoa. 

A Ribeira de Pardais e a Ribeira de Alcalate que é no Termo (Concelho) do Alandroal. 

A Ribeira de Lucefece que é no Termo (Concelho) de Terena, e nos mais que se enumerem no dito rio não tenho notícia.

As águas do dito rio não servem de mais utilidade que para os moinhos para moer pão, por serem as margens do dito rio de areias secas e cascalho e em outras partes de safras tornam-se infrutíferas.

Tem esta Freguesia no seu distrito um Pégo chamado Pégo Pôdre separado da corrente do rio Guadiana que de Verão se lhe corrompem as águas por cujo motivo se chama Pégo Pôdre, cria esse uma qualidade de peixes a que chamam Carpias e Tencas além de outros que se acham na mais água doce que não são ditos na estimação.

E não pude descobrir mais nada do que se procura saber, e por verdade me assinei, Villa Real em 02 de Abril de 1758.

O Cura de Vila Real

Padre Francisco Dias Mendes" 


Comentário

É mais uma página histórica do celebrado rio Guadiana e dos seus afluentes, como eram nesta região em 1758, porque, em cada Freguesia ribeirnha existe sempre mais alguma Ribeira ou Ribeiro com as suas caracteristicas e afluentes do rio Guadiana. 

Neste caso, embora alguns cursos de água mencionados, não sejam  desta Freguesia, o Padre Francisco Dias Mendes, destaca os seguintes:

Ribeira de Albecira - Espanha;

Ribeira de Val Verde - Espanha;

Ribeira de Xeuta - Espanha

Ribeiro de Alfornel - Vila Real;

Ribeiro do Freixial - Vila Real;

Ribeira do Caia - Elvas;

Ribeira de Varxe - Elvas;

Ribeira de Mures - Juromenha;

Ribeira da Alagoa - Juromenha;

Ribeira de Pardais - Alandroal;

Ribeira de Alcalate - Alandroal;

Ribeira de Lucefece - Terena.

Quanto ao lugar do nascimento do rio Guadiana, não é muito diferente da descrita pelo Prior da Matriz da Vila de Juromenha, e de todos os outros nove Párocos das localidades ribeirinhas.

O Padre também respondeu que, o rio se metia pela terra dentro, em vários pontos do seu percurso, no reino de Espanha, sendo subterrâneo durante várias léguas, neste caso, só já eram quatro, ou as que fossem, mas não há duvidas que, o mito do rio que aparecia e desaparecia pela terra dentro existia por toda esta região e havia algum fundo de verdade, como já verificámos essa informação é dada por outros Párocos, como o da Paróquia de São Tiago de Monsaraz, talvez o Pároco que mais escreveu sobre o rio Guadiana nesta data, escrevendo, também, que, este rio em terras de Espanha, ora se escondia por baixo da terra, ora aparecia à superficie, mas quando entrava no Reino de Portugal isso acabava.

O Cura de Vila Real respondeu que o rio era caudaloso e cheio de peixes, mas nada escreveu sobre as espécies de peixes que criava nem às pescarias, mas achou mais interessante referir os peixes existentes num Pégo, qua não era no rio Guadiana e designava-se por Pégo Pôdre que criava carpias e tencas além de outros peixes de água doce.

Para este Padre o  rio Guadiana, desaguava ou meti-ae no mar nas vizinhanças de Mértola.

Sobre a utilidade das águas do rio Guadiana, o dito Padre respondeu que apenas serviam para os moinhos moer pão, por as suas margens serem de areias secas e cascalho. 

O Cura Francisco Dias Mendes, não respondeu a várias perguntas, não devia ser admirador do Marquês de Pombal ou não estava disposto a dar muitas informações sobre o rio Guadiana, não respondeu sobre a direção da corrente, se era para Norte, Sul, Nascente ou Poente, nem se criava peixes, e quais as espécies e os que havia em maior abundância, se havia pescarias e em que tempo do ano, e se eram livres, se o rio tinha, ou não, sempre o mesmo nome em todo o seu curso, se tinha tido outro nome, se tinha pontes e em que sítio. O padre resolveu essas respostas escrevendo que, não pôde descobrir mais nada sobre o que o senhor Marquês procurava saber e adeus.

Fim 

Correia Manuel 


De: Memórias Paroquiais de Vila Real - Juromenha 




domingo, 6 de abril de 2025

Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão - 1758

História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes

9 - Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão - 1758

Respostas do Prior Estevão da Silveira Matos, da Paróquia de Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão, ao Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo Secretário de Estado do Reino (Primeiro Ministro) do rei D. José I, em 05 de Junho de 1758.

Rio Guadiana

"Chama-se o rio desta Vila, Guadiana, nasce na Mancha do Reino de Aragão.

Dizem que logo no seu nascimento é grande, quando passa por esta terra distante um quarto de légua é rio que se não pode vadiar no inverno por ser muito caudaloso, porém no verão se passa a pé enxuto.        

No Distrito desta Freguesia se metem no rio Guadiana uns pequenos Ribeiros a que chamam das Vinhas e Aldrogas. 

Navegam no rio barcos pequenos de pescadores, e neste Distrito os não pode fazer pessoa alguma para o fim de passar de uma e outra parte gente, porque tem o mesmo rio uma grande barca de que o Senhor Rei D. Manuel fez Mercê ao Alcaide Mor desta Vila que serve de passar gente, bestas, gado e tudo o mais.

Corre este rio por entre muitos Montes e por essa causa sempre que corre neste Distrito é arrebatadíssimo.

Corre este rio de Nascente para o Poente.

Cria várias castas de peixes como são: escárpios que têm tirado seis e sete arates, barbos de arroba, lampreias, irozes, pricóis, bogas, bordalos, sebatelhas (pardelhas ?) e mais variedades de peixes pequenos.

Há nesta terra pescarias no inverno e têm os moradores disto poucos cais feitos dentro do rio onde pescam à cana com a melhor arte, porque com um subtil anzol encastado em sidela de dez ou doze sedas de canalho tiram ajudados da arte que a esperiência lhe tem ensinado dos maiores peixes que tem o rio e em todo o ano se pesca com os barcos e redes.

São as pescarias livres e só a cascalheira do Moinho de Valadares tem direito Senhorio.

Neste Distrito não tem o rio arvoredos, tem algumas margens em que semeiam melões e feijoais grandes.

É a água deste rio excelente para os estraidos do baço, porque por dentro do rio há inumeráveis tramagueiras. 

Sempre conservou o seu nome, e conserva até se meter no mar.

Morre este rio no mar. 

Tem este rio muitos açudes e penhascos que impedem o ser navegável não tem cachoeira nem represa neste Distrito.

Neste Distrito, não tem pontes, nem de pau nem de pedra.

Tem neste Distrito quatro Moinhos, e não tem outro engenho. 

Nunca ouvi dizer que das suas areias se tirasse ouro ou prata.

Usa-se das águas deste rio livremente sem pensão alguma. 

Nasce nas Manchas de Aragão e entra no mar junto a Mértola, passa por inumeráveis povoações.

Estevão da Silveira Matos, Conventual de Avis e Prior na Igreja Matriz da Vila de Mourão. Certefico que em verdade de uma ordem do Excelentissimo Reverendissimo Senhor Dom Frei Miguel de Távora Arcebispo de Évora, respondi aos Interrogatórios,inclusos neste papel na forma que no mesmo o contém e nada mais tendo que dizer do que vai respondido em cada um dos Interrogatórios, passa o referido na verdade assino e firmo pelo hábito que professo.

Mourão cinco de Junho de mil setecentos e cinquenta e oito. 

O Prior: Estevão da Silveira Matos"

Transcrito por: Correia Manuel

Abril 2025 


Comentário 

O Prior Estevão da Silveira Matos, descreveu como era o celebrado rio Guadiana na Freguesia de Nossa Senhora das Candeias, logo no Concelho de Mourão, na centúria de 1700, ou seja, em 1758 e, não difere muito do que os Párocos das localidades de toda a região a juzante até Juromenha o descreveram nas respetivas regiões.

O Prior respondeu que, o rio Guadiana passava a cerca de um quarto de légua, 1,5 kms da vila de Mourão e que a sua nascente era nas manchas de Aragão, corria do Nascente para o Poente e era um rio caudaloso no inverno, com corrente arrebatadíssima porque, aqui corria entre muitos montes, mas no verão passsava-se a pé enxuto.

Escreveu que, nesta Freguesia entravam nele alguns pequenos Ribeiros como o Ribeiro das Vinhas e o Ribeiro de Aldrogas, que o rio era navegável por pequenos barcos de pesca que no distrito ou área desta Freguesia, não podiam passar gente entre as suas margens, porque para isso, existia uma grande barca que o rei D. Manuel I tinha doado ao Alcaide Mor da Vila de Mourão que servia para passar gente, bestas, gado e tudo o mais. 

Quanto às espécies ou castas de peixes que descreveu, são as mesmas que existiam desde Juromenha, os escárpios, talvez carpas, com seis e sete arrátes, ou seja, três ou quatro kgs, os barbos com uma arroba, quinze kgs, as bogas, lampreias, eirozes ou irozes, pricóis, sebatelhas, bordalos e outro peixe mais miúdo, havia pescarias e o povo tinham um cais dentro do rio de onde pescavam com canas, com grande arte, grandes peixes, mas pescavam todo ao ano com os barcos e redes. As pescarias eram livres e só a cascalheira do Moinho de Valadares tinha Senhorio. 

A água do rio era excelente para os extraídos do Baço, porque por dentro dele havia inumeráveis tramagueiras. 

Também, este Prior da Vila de Mourão, escreveu que o rio Guadiana, nunca teve outro nome, mas desde a reconquista destas terras pelos portugueses até 1580, conforme consta em imensos documentos régios e na história de Portugal, chamou-se rio Odiana, quando do domínio do Reino de Portugal pelo Reino de Castela, 1580-1640, passou a ser o rio Guadiana, tal como já assim se chamava em Castela, há aqui um mistério, porque, nenhum Pároco entre Juromenha e Mourão, referem que, antes, era o rio Odiana.

O Prior escreveu que, o rio tinha muitos açudes e penhascos que o impediam de ser navegável em todo o lado, não tinha cachoeiras nem represas e não tinha pontes, nem de pau nem de pedra neste distrito, ou Freguesia, existiam aqui quatro moinhos e mais nenhum engenho.

Referiu que o rio passava por inumeráveis povoações e entrava no mar em Mértola, neste caso, os Párocos combinaram-se todos em informar que o rio Guadiana desaguava no Oceano em Mértola, e isso ouviu-se até muito tarde, e tinha um fundo de verdade, já que, as marés influenciam a corrente do rio até esse Lugar.

E por aqui se ficou, o Prior Estevão da Silveira Matos, fazendo grandes despedidas ao senhor Marquês de Pombal. 

Não deixa de ser mais uma página histórica sobre o celebrado rio Guadiana, neste caso, da região de Mourão, na centúria de 1700.

Correia Manuel 

Abril de 2025 


Vila de Mourão 




Resumo Histórico do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, de Terena

Resumo Histórico do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, de Terena  O Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova na Vila de Terena, é o Santu...