quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Memórias das Festas de Santo António de Capelins

 Memórias das Festas de Santo António de Capelins 

Existem indícios de que, as Festas em honra de Santo António de Capelins, tiveram início, logo após a construção da Igreja, na data em que foi benzida, talvez finais da década de 1540 ou início  da década de 1550, quando, também foi criada a Freguesia de Santo António, mas a verdade é que até agora somente encontramos provas já no decénio de 1570 em São Pedro de Terena, porque antes, não existiam Registos Paroquiais, mas conhecemos outros documentos que nos indiciam essas datas, no entanto, quanto às ditas Festas não conhecemos como eram os programas até 1859, quando um romeiro, que pensamos era arqueólogo, veio assistir  às Festas de Santo António e ficou maravilhado.

O romeiro como lhe podemos chamar, assistiu às Festas em Santo António de Capelins, no Sábado e Domingo dias 3 e 4 de Setembro de 1859 e, conta que percorria muitas Festas por toda a região, mas nunca tinha visto nada assim, foi a primeira e a última vez que assistiu a umas Festas como estas, e escreve que foi como se achasse um monumento de arqueologia, e que disse para os seus botões: - Eis aqui em Santo António de Capelins, o resto do que há dois ou três séculos se fazia pelas Vilas e Cidades mais notáveis! 

Podemos deduzir que, dois ou três séculos antes, estas Festas de Santo António, realizavam-se desta maneira e, o romeiro continua a descrevê-la: 

"Detrás da Igreja Paroquial estava preparada a arena com paus levantados e cordas postas através delas onde se penduravam com fitas, pombos e frangos para os galhardos cavaleiros, correndo a toda a brida com a lança em riste, botarem aquelas aves, o que só logravam os mais peritos que, ufanos, iam ofertar na ponta da lança a pessoas amigas o frango ou pombo trespassado. Nos intervalos tocava uma filarmónica sobre um terraço junto da arena." 

Podemos imaginar este espetáculo realizado na tarde de sábado dia 03 de Setembro de 1859, eram as cavalhadas que chegaram até ao decénio de 1960 e que muitos dos nossos ancestrais nos contavam da mesma maneira que é descrita pelo dito romeiro, e escreve que os frangos ou pombos que os participantes conseguiam tirar do cordel com uma lança e eram oferecidos aos amigos, familiares e às namoradas, sendo uma imitação dos torneios da Idade Média, por isso, a população também lhe chamava torneios, porque era uma disputa. 

Ainda nesses tempos de outrora, à noite havia fogo de artifício, uma banda tocava e havia bailes abrilhantados por um grupo ao qual chamavam Jazz e Banda, por isso, aqui acodiam romeiros/as de toda a região.

O romeiro continua a descrever: - No dia seguinte, Domingo dia 04 de Setembro de 1859, saiu a procissão de Santo António e teve então lugar de ver pela primeira e última vez danças religiosas, semelhando a do Rei David que, como todos sabem, dançou em frente da Arca da Aliança ao som do seu psaltério quando ela foi trasladada para o Monte Sião em Jerusalém. Quatro homens (se bem lembrado estou) de saiotes e mitras na cabeça com tufos de fitas e guitarras nas mãos dançavam constantemente diante do andor, indo sempre de recuas para lhe não darem as costas! 

Como já escrevemos noutras ocasiões, neste ritual, existia uma mistura da cultura e religião judaica com a cristã, assim, de forma dissimulada, conseguiam enganar os cristãos que, não se apercebiam daquela envolvência, foi assim que, alguns costumes judaicos na Freguesia de Capelins chegaram até hoje.

O romeiro não esqueceu estas Festas de Santo António e, vinte e um ano depois, em 1880 voltou, mas já era tarde, a procissão já não era igual e, os saiotes e as mitras já se encontravam guardadas para sempre na sacristia e, nunca mais se realizaram procissões como essa.

Através desta descrição, facilmente imaginamos como eram as Festas de Santo António nessa época e, talvez dois ou três séculos antes, por isso, tinham fama por toda a região, incluindo em terras de Espanha, situadas perto da RAIA. 

Até à primeira metade do decénio de 1960, as Festas de Santo António continuaram a realizar-se junto à Igreja Paroquial e, parece que, somente a procissão foi alterada, embora fossem acrescentadas outras diversões como a brincadeira taurina, mas na dita década, devido à emigração dos capelinenses e às queixas da população que, diziam não se sentir bem numa Festa junto ao lugar onde estavam sepultados os seus familiares, a afluência começou a diminuir e, nessa data, as Festas foram suspensas. 

 Porém, no ano de 1973, as Festas de Santo António voltaram a ser  realizadas, mas no Largo de Capelins de Cima, sendo a vacada no curral da Casa Dias, emprestado pelo senhor Chambel e, cerca do ano de 1976 passaram a ser dentro do Monte Grande, já com os programas diferentes, começavam com foguetes e morteiros, lançados, geralmente pelo senhor Salvador do Alandroal que também lançava o fogo de artifício à noite, e com música da banda filarmónica de Redondo ou do Alandroal, que anunciavam a Festa e cumprimentavam a população, tocando pelas ruas da Aldeia e depois tocava na noite do fogo de artifício e  acompanhava a procissão de Santo António no dia seguinte, a qual, tinha início com a saída dos Santos de uma casa em Capelins de Cima, para onde eram transportados numa carrinha nos dias anteriores e, em 1973 a procissão seguiu para a Igreja de Santo António pela estrada principal, pelo Monte da Igreja, sendo muito demorada devido à grande distância, pelo que, nos anos seguintes, começou a sair dessa mesma casa em Capelins de Cima e a dar a volta por Capelins de Baixo, ficando Santo António e outros Santos, na dita casa, transformada, provisoriamente em Capela e, mais tarde, quando as Festas começaram a ser realizadas junto ao Centro Cultural, os Santos ficavam na Escola de Instrução Primária durante os dias da Festa. 

Importa salientar que, na década de 1980, as Festas de Santo António, ainda se realizaram, algumas vezes, em Capelins de Baixo.

Devido ao surgimento de novas diversões, de novos horizontes, os programas das Festas foram sendo alterados em relação aos de antigamente, exigindo maiores investimentos, pelo que era feito um peditório porta a porta, não só em Capelins, mas por todas as localidades mais próximas, para garantir a sustentabilidade das despesas. 

Desde antigamente, durante as Festas, existia um Bazar onde vendiam rifas numeradas de 1 a 100, depois rodavam duas tômbolas, sendo apurado um número em cada uma e entre as duas ditavam o número premiado, havia outro processo, existia uma tômbola que tinha no seu interior bolas numeradas de 1 a 100, davam à manivela e saia uma bola por um tubo com o número premiado, o Bazar era uma diversão, onde os romeiros além do espírito de ajuda, experimentavam a sua sorte, sendo parte dos prémios as oferendas que os devotos faziam ao seu Santo protetor, como peças de enchidos, queijos, pães caseiros, as fogaças, borregos, cabritos, frangos, garrafas de aniz/escarchado e outras, cujos lucros revertiam para as despesas da Festa.

As Festas, variavelmente eram constituídas por brincadeiras taurinas, tiro ao alvo com espingardas a pressão de ar, tiro aos pratos, corridas de bicicletas, jogos de futebol e outros, atuação de Ranchos Folclóricos, como o das Fazendas de Almeirim, o de Castelo de Vide, este várias vezes e outros, assim como, bailes abrilhantados por grupos musicais com nome na praça e, mais tarde, atuação de outros artistas de música ligeira, por isso, cada Comissão de Festas organizava da forma que achava melhor para a Aldeia, para a população e pelas capacidades financeiras.

A partir da década de 1980/90 as Festas de Santo António, começaram a ser intermitentes, ou seja, foram realizadas alguns anos seguidos, mas por falta de Comissões, por vezes, ficaram suspensas, mas as que se realizaram nas últimas décadas, foram sempre junto ao Centro Cultural, também, pelas condições, visto existir aí um bom recinto para festas e jogos.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Santo António de Capelins



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