sábado, 16 de setembro de 2023

Resenha histórica do Monte ou Aldeia de Calados, em Capelins

Resenha histórica do Monte ou Aldeia de Calados, em Capelins 

Com o fim do sistema senhorial na Vila de Ferreira no ano de 1698, dez das doze herdades que a constituíam, foram divididas cada uma em duas e vendidas aos lavradores e seareiros, mas no caso da herdade do Seixo foram feitos mais dois cortes, sendo um limitado a Norte pela herdade da Defesa de Ferreira, a Este pela nova herdade da Ramalha, antes, era herdade da Zorra, a Oeste pela nova herdade do Monte Real, antes do Seixo, e a Sul pela mesma herdade do Monte Real, o outro corte foi desde a Portela até ao Sul do Monte do Pinheiro, entre as herdades da Defesa de Ferreira e a nova do Monte Real, neste caso, chamadas courelas do Monte Novo. 

A primeira faixa de terra aqui descrita foi dividida em pequenas courelas e vendidas a particulares, os quais, fizeram hortas, tapadas, ferragiais, currais e outras instalações para a agro pecuária, como também, construíram alguns Montes que ficaram conhecidos pelos nomes dos seus donos, mas mais tarde algumas toponímias foram alteradas para outros nomes de famílias que neles habitaram, como o Monte das Serranas, mais tarde encontramos aqui a família "Serranas", com este apelido registado, ou o Monte Real, que ficou com o apelido da família "Real" que, eram lavradores em várias herdades no Concelho de Terena, compraram a nova herdade do Monte Real e construíram o seu Monte designado "Monte do Real" ficando todos os outros, ao lado ou em redor, no mesmo aglomerado, com igual toponímia, passando o Monte de Calados pela mesma situação. 

Já encontramos a Família "Calado" em Santiago Maior em 18 de Janeiro de 1667, Ficheiro 53 - Manuel Calado, casado com Maria Godinho, como também, encontramos esta linhagem na Vila de Terena, por isso, a família "Calado" estava pelo Termo/Concelho de Terena, desde muito cedo.

Assim, o Monte ou Aldeia de Calados, surgiu nesta faixa de terra nos primeiros decénios de 1700, sabemos que, já existia antes de 1728, mas ao contrário dos Montes anteriores, somente mais tarde, aqui encontramos a família "Calado" registada, mas não é de estranhar, porque se o dito apelido veio de uma mulher, como elas  não tinham, oficialmente direito ao apelido da família, podia aparecer nas gerações seguintes, nos filhos ou netos, mas o povo não deixava de lhe chamar o apelido de família, mesmo sem estar registado.

Existem indícios de que este "sítio dos Calados", foi habitado pelo menos desde a época romana, sendo um lugar atraente à fixação de seres humanos, talvez, pela existência de energias, ou correntes telúricas que, conforme escrevem os especialistas nestas matérias, são um conjunto de correntes eletromagneticas provenientes da própria Terra, antigamente chamadas serpentes da Terra, que influenciam os comportamentos dos seres vivos, onde os humanos, encontram muita serenidade espiritual e muita paz, bem estar, devido ao equilíbrio gerado pelas boas energias intrínsecas e as ditas, como também, aqui pode existir um ponto telúrico, isto é, o cruzamento das forças emitidas pela própria Terra segundo trajetorias horizontais com as forças cósmicas segundo trajetorias verticais, não sabemos se é isso, mas sabemos que este sítio é povoado desde tempos remotos, como provam as sepulturas talhadas na rocha que, com base do que ouvimos a capelinenses de antigamente, com alguma experiência nessa área, serão da época romana.

 Este Monte, em 08 de Fevereiro de 1733, já se denominava "Calados", decerto, até muito antes, mas só temos a prova no Registo Paroquial de Óbitos nessa data, Ficheiro número 8, dos Registos Paroquiais de Santo António e, já aqui moravam várias famílias, entre elas, a Família "Dias", de António Dias e Isabel Caeira, uma família muito numerosa.

Devido ao aumento populacional neste Monte, verificamos que, no dia 20 de Janeiro de 1741, Ficheiro 26, num Registo Paroquial de nascimento, o Pároco de Sano António, Miguel Gonçalves Galego, escreveu que, António Dias e Isabel Caeira, ele natural de Vale Mourisco - Sortelha - Guarda e ela natural da Freguesia de Nossa Senhora da Lagoa - Vila de Monsaraz, que eram moradores na Aldeia de Calados, os quais, contribuíram para ser Aldeia com imensos filhos, porém, finalizaram, porque ele faleceu em "Calados" no dia 18 de Março de 1749, para onde tinham ido morar quando casaram, no dia 03 de Janeiro de 1728. 

Parece-nos que, esta família em termos de trabalho, tinha ligação ao Monte da Ramalha, pelo que consta no seguinte Testamento feito no dia 26 de Agosto de 1745, que se encontra no Arquivo Distrital de Portalegre: "Testamento com que faleceu Josefa Maria, moradora que foi da Vila de Terena, viúva que ficou de João Charrua Frade, Capitão-Mor que foi da mesma Vila". Neste testamento foram beneficiados alguns filhos de António Dias, moradores no Sítio dos Calados e na herdade da Ramalha, pelo que, pensamos ter sido esta herdade a principal causa do surgimento e crescimento do Monte dos Calados, mas também, por ser um lugar estratégico junto ao principal caminho entre a Vila de Terena e o Porto da Cinza no Rio Guadiana, chamada estrada de  Cheles, com muito movimento. 

Além da dita família "Dias" nos anos 30/40 de 1700, também aqui moravam as seguintes famílias, entre outras: 

- Salvador Dias e Joana Ribeira; 

- Domingos Fernandes e Maria Josefa; 

- Manuel Caeiro e Maria Pouzoa; 

- António Alvares e Brites Maria.

No dia 03 de Novembro de 1747, também o Pároco de Santo António,  António de Sousa e Sylva, Ficheiro 133 - Óbitos, escreveu que, Manuel Caeiro e Maria Pouzoa moravam na Aldeia de Calados, além de outros moradores neste decénio de 1740, assim, sendo a Paróquia a autoridade máxima da Freguesia, nessa época, se os ditos Párocos e talvez outros, entenderam que neste aglomerado populacional existia população suficiente para ser uma Aldeia, assim a registaram na Paróquia de Santo António e, "Calados" foi uma Aldeia nesse espaço temporal. 

Como nessa época as famílias eram muito numerosas, prevê-se que, o Monte ou Aldeia de Calados  tivesse muita população nos ditos anos, por isso, os diversos Párocos de Santo António, atribuíram-lhe  a condição de Aldeia. 

Ao longo destes três séculos, muitas famílias moraram no Monte ou Aldeia de Calados, onde, no século XX funcionou o Posto do Registo Civil de Capelins, em casa e a cargo do senhor Inácio Moreira Correia onde se realizavam registos de batismos e de casamentos.

Nos últimos decénios do século XX, cerca dos anos 60/70, o Monte de Calados, além das famílias fixas ou tradicionais que, não enunciamos  aqui para não ficar alguma esquecida, foi um entreposto de aproximação à Aldeia de Ferreira, ou seja, as pessoas que, por algum motivo deixavam de morar nos Montes mais afastados, das herdades ou nas suas propriedades, antes de se fixarem na Aldeia, quase sempre, ficavam algum tempo a morar no Monte de Calados, ou vizinhos, mais tarde, algumas decidiam mudar-se para a Aldeia, pelo que, passavam por um período de estágio ou adaptação à grande mudança nas suas vidas, uma vez que, normalmente só se dirigiam às Aldeias para fazer compras ou vendas, aos bailes, festas, alguns às tabernas, ou a visitar familiares. 

O Monte de Calados, não sendo hoje uma Aldeia, continua revigorante e a teimar em desempenhar a sua missão de vanguarda, embora, com outras famílias e com outros imóveis urbanos ou reconstruidos. 

Não se esgota aqui, a história do Monte de Calados, pelo que, quando surgirem novos documentos que, sabemos da sua existência, mas agora que fazem falta não se encontram, esta resenha poderá ser atualizada.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Calados - Capelins 




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