sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Resenha histórica da vida de José Diogo do Monte das Serranas em Capelins

Resenha histórica da vida de José Diogo do Monte das Serranas em Capelins 

O Pároco de Santo António de Capelins, António Luciano Máximo, escreveu o seguinte: 

Aos catorze dias do mês de Fevereiro do ano de 1803, nesta Freguesia de Santo António de Capelins, na sua Paroquial Igreja, baptizei e pus os Santos Óleos a José Diogo, filho do primeiro matrimónio de João Diogo e de Joaquina Curva, ele natural desta Freguesia e ela da Freguesia de São Tiago do Termo/Concelho de Monsaraz. 

José Diogo, nasceu no Monte do Real em Capelins, na dita data, aqui foi criado e, no dia 10 de Dezembro de 1827, então com 24 anos, casou com Justina Maria, natural de Capelins, na Igreja de Santo António de Capelins e foram morar para o Monte das Serranas, onde no dia 31 de Dezembro de 1828 nasceu a primeira filha, chamada Maria, assim como, a segunda filha que nasceu no dia 20 de Fevereiro de 1832, e foi chamada de Clemência, o mesmo nome da avó materna, natural da Freguesia de Santiago Maior, porém, esta menina faleceu no dia 03 de Março desse ano, com 12 dias de vida. 

No ano de 1828 agravou-se a tensão entre os apoiantes dos Liberais Constitucionalistas de D. Pedro IV e dos Absolutistas aliados do seu irmão D. Miguel, desencadeando uma guerra civil que, só terminou em 1834 com a assinatura da Convenção de Évoramonte, deixando o país arrasado em termos económicos e sociais.

Como o Clero apoiava D. Miguel, os padres foram os arautos da desgraça, diziam que no caso da vitória de D. Pedro IV, matavam toda gente, porque eram muito maus e praticavam brutalidades, assim, convenceram os lavradores e os fregueses a apoiar o Rei D. Miguel, principalmente com bens, cereais, palha e outros, e também com homens para a guerra e foi assim que, o capelinense José Diogo, foi recrutado para as fileiras do exército realista de D. Miguel que, reuniu mais de oitenta mil homens, alguns mal preparados como foi este caso. 

O José Diogo despediu-se da família, dos amigos e do seu Monte das Serranas em Capelins no primeiro ou segundo trimestre de 1832, onde nunca mais voltou,  desconhecemos a razão que o convenceu a partir para a guerra, talvez a morte recente da filha Clemência, ou foram promessas de uma vida melhor, parece-nos que foi morto pouco depois de chegar ao Porto, talvez, alguns dias após o dia 8 de Julho de 1832, porque foi neste dia que D. Pedro IV, vindo dos Açores, desembarcou as suas tropas na praia dos ladrões, depois, chamada praia da memória, no Mindelo, entricheirando-se na cidade do Porto no dia 09 de Julho, onde foram, imediatamente cercadas pelas tropas de D. Miguel, e durante alguns dias, sucederam-se vários recontros, nos quais, foram mortos muitos homens de ambos os lados, e no dia 10 os realistas de D. Miguel retiraram em debandada até Oliveira de Azeméis, mas no dia 18 de Julho deu-se o primeiro ataque muito violento dos realistas, sem êxito, por isso, pensamos que foi entre estas datas, senão neste dia, que ocorreu a morte de José Diogo, também porque, a viúva Justina Maria em 1834 já estava envolvida com Salvador Gonçalves, também viúvo, uma vez que, tiveram uma filha no dia 08 de Julho de 1835 e só casaram no dia 11 de Outubro de 1835 e, decerto, como era habitual nessa época, respeitaram algum tempo dos lutos.

O capelinense José Diogo, sacrificou a sua vida em defesa de uma causa que o obrigaram a acreditar ser justa e, ficou para sempre abandonado no Porto, mas como lutou ao lado dos vencidos, também ficou esquecido na Freguesia de Capelins, onde seria justo ter o seu nome, na rua do seu Monte das Serranas. 


Fim 

Texto: Correia Manuel 

Monte das Serranas - Capelins 





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