sábado, 22 de dezembro de 2018

Tradições do Natal nas terras de Capelins

Tradições do Natal nas terras de Capelins 

Numa região como Capelins de reduzidas dimensões territoriais, é impensável que a festa da Natividade assuma proporções etnográficas dignas de elevado relevo. 

Pensamos que, desde a fundação da Vila de Ferreira em 1314 por D. Dinis que, aqui se celebra esta solene data, porque, foi logo erigida a Igreja Matriz de Santa Maria no lugar onde hoje se encontra a Ermida de Nossa Senhora das Neves e, a Igreja nunca deixaria passar a dita celebração no dia 25 de Dezembro, a Natividade, ou seja, aniversário do nascimento de Jesus Cristo e a adoração dos Reis Magos. 
Como sabemos, a primeira festa da Natividade consolidou-se durante a vigência do Papa Sisto III (432-440), e indicava já o estabelecimento de duas celebrações muito características: 
A do Presépio e a da Santa Missa, com as devidas orações litúrgicas. 
O Presépio deu grande impulso à festa da celebração e realizava-se principalmente na basílica romana de Santa Maria, que passou desde então a denominar-se ad praesepe. 
Os ofícios litúrgicos, celebravam-se no mesmo templo e tinham um acentuado carácter Mariano, obedecendo à clara intenção de converter a Natividade numa vigília noturna, semelhante à que se celebrava na Páscoa.
A devoção e o gosto pela festa da Natividade acentuaram-se ainda mais quando o Papa Teodoro, no século VII, trouxe para Roma as relíquias do berço do Menino Jesus e das manjedouras dos animais que o aqueceram na noite do seu nascimento em Belém.


É verdade que, não encontramos documentos específicos sobre as celebrações do Natal nas terras de Capelins na Idade Média, mas temos testamentos com mais de 500 anos que demonstram a fé e a religiosidade aqui existente no início de 1500, logo, essa fé Cristã, decerto, não podia estar dissociada das celebrações do Natal.

Associada à festa do Natal celebravam-se durante a Alta Idade Média três missas rezadas pelo Papa na Igreja de Santa Maria Maior, destacando-se a da meia-noite, designada por Missa do Galo por ser propiaquante gallorum canti. 

A segunda missa, era ao romper da manhã e rezava-se na

Igreja de Santa Anastacia, que hoje já não existe, e a terceira na Basílica de São Pedro, Vaticano.
A Missa do Galo significava o nascimento de Jesus Cristo! A da madrugada a felicidade que Jesus Cristo veio trazer aos homens e, a terceira a realização das promessas da Lei Santa.
Atualmente, só a missa do Galo persiste na tradição Cristã e no espírito dos crentes.
No entanto, assinala-se a permanência de algumas tradições da época medieval que, nas terras de Capelins, existiram e, algumas ainda existem, embora, com menos motivação, depois do grande surto emigratório nos anos de 1960.
Mesmo assim, na época natalícia ainda continuam a manter algumas tradições, como são: a queima dos madeiros, a consoada, a Missa do Galo, o presépio, e os Reis. 
Em Capelins, (Montejuntos e, Ferreira de Capleins) continua a tradição do lume na noite de Natal, alimentado por grandes madeiros, troncos de azinheiras que ardem toda a noite e ainda no dia de Natal, podendo ser de oliveira, a árvore da paz, por ser dessa madeira a cruz de Cristo. Por outro lado, são associadas tradições profanas, quanto mais grossos fossem os madeiros, mais gordo seria o porco para a matança do ano. Além disso, também existem outras lendas que lhe atribuem poderes sobrenaturais, sempre relacionados com Jesus Cristo.

A Consoada, também designada por festa da família, por se reunir à mesa a maioria dos familiares, era costume realizar-se depois da Missa do Galo, mas hoje, essa tradição já não é o que era, assim como, a composição das ementas, devido à franca melhoria económica das famílias! No entanto, há iguarias, embora reforçadas, que ainda continuam a manter a tradição nas terras de Capelins, entre as quais, as diversas doçarias, como as filhós, azevias, borrachos, nogados, arroz doce e outros.

A Missa do Galo, celebrava-se à meia noite, decerto que, na Idade Média na Igreja de Santa Maria, Matriz da Vila de Ferreira, depois, na Igreja de Nossa Senhora das Neves e, mais tarde na de Santo António e, também na Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Montejuntos, após a construção da mesma, porém, com a emigração de muitos capelinenses nos anos de 1960, começaram a comparecer cada vez menos fiéis, acabando por deixar de se realizar, ou apenas se tem realizado em alguns anos na Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Montejuntos. 

A Missa do Galo só se realizava nesta Quadra do ano, logo tinha algumas diferenças das outras, a sua atração era o desvelamento do Presépio, que até aí permanecia envolto numa cortina para dar ao ato um caráter mais solene. O Padre, após dar a conhecer a ingénua composição das figuras, celebrava a missa enquanto o povo entoava cânticos de Natal. Por fim, o Padre dava o Menino Jesus a beijar aos fiéis que, silenciosamente lhe pediam protecção, saúde e mercês.

Foi São Francisco de Assis (1182 - 1226) que teve a ideia de fazer reviver os presépios através da arte popular, as cenas bíblicas diretamente relacionadas com o nascimento de Jesus Cristo, os quais, constituem uma lição viva de fraternidade, amor e humildade.

O presépio, é composto pela Sagrada Família, os Reis Magos, a cascata com a manjedoura e os animais que aqueceram o Menino Jesus dentro da gruta. No entanto, o povo foi acrescentamento muitas outras figuras que se pensa existiam naquela época. 

Os presépios, eram feitos nas Igrejas das terras de Capelins, nas residências particulares dos capelinensses e, principalmente nas escolas e, ainda hoje, são feitos em Ferreira de Capelins e em Montejuntos. 

Pode ver-se em Montejuntos neste Natal de 2018!

O cantar aos Reis remonta, igualmente ao tempo do paganismo, em imitação das Saturnais Romanas, quando novos cristãos se convertiam a esta religião! Nestes cânticos estava contido todo o espírito popular, a criatividade, a beleza e o escárnio, muito embora neste domínio se acentuem as tradições regionais, é no entanto, comum a todos os cristãos! O cantar aos Reis era feito por pequenos grupos, algumas vezes acompanhados de instrumentos musicais, que percorriam os mais variados lugares da freguesia de Capelins, cantando às portas das residências nas aldeias e nos Montes de lavradores, entoando cânticos religiosos à mistura com quadras de fino gosto popular. 

O objectivo era serem bem recebidos pelos moradores que lhes ofereciam, geralmente, géneros para a festa, a ceia do grupo, como queijos, ovos, enchidos e outros produtos da casa! Mas, se as esmolas não agradassem, podiam sempre ouvir alguma quadra de chacota e até acabar mal. 

Assim, em 6 de Janeiro, acabava a Festa do Natal. 




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