O frei sapateiro descalço de Monsaraz
Quando no ano de mil oitocentos e trinta e quatro o Convento de Nossa Senhora da Orada de Monsaraz foi encerrado, os frades Agostinhos descalços desta Congregação Religiosa, foram transferidos para o respetivo Convento de Portalegre, porém, havia um frade natural da Vila de Monsaraz que ao ingressar nessa vida religiosa tinha feito o seu voto de acabar os seus dias nesta Vila e negou-se a ser transferido, ficando por ali ao Deus dará, mas a Paróquia de S. Tiago a quem ele, antes tinha doado as suas casas, acorreu a ajudá-lo e disponibilizou-lhe uma pequena casa onde ficou instalado, e por ironia era sapateiro, embora os seus pés andassem sempre descalços, assim, continuou o resto da sua vida.
O frade sapateiro descalço, ajudava em tudo na paróquia, mas como no tempo em que ainda estava no Convento da Orada, fazia sapatinhos e botinhas que distribuía no Natal pelas crianças mais pobres da Vila de Monsaraz, que se não fosse a sua bondade, não era tão cedo que os seus pézinhos podiam calçar uns sapatinhos ou botinhas, muito difíceis de alcançar nessa época da pobre vida, dando assim, grande alegria a algumas crianças na manhã do dia de Natal.
O frade sapateiro descalço, como era conhecido em Monsaraz, cada ano que passava, mais pares de sapatos e botas fazia para as crianças, sendo muito conhecido e estimado na Vila e arredores e, quando lhe perguntavam porque fazia isso, em vez de fazer umas botas para ele, porque não conheciam nenhum sapateiro descalço, ele respondia: "Amor com amor se paga", e que não precisava de botas, mas alguns montesarenses não compreendiam, porque, as crianças não lhe davam nada em troca, ainda por cima, ouviam-se críticas por dar a uns e não dar a outros e o frade explicava que ele melhorava a condição das crianças e elas em troca, cada vez que se cruzavam, agradeciam-lhe com o seu sorriso puro e verdadeiro, não eram precisas palavras, era esse o amor que recebia delas, algumas pessoas continuavam a não perceber, porque achavam que para pagar, teria de ser com dinheiro ou bens materiais, mas muitos outros montesarenses reconheciam que o alimento da alma, também era a felicidade que se dava aos outros, neste caso às crianças.
No final da década de mil oitocentos e quarenta, pelo Natal, chegou a hora do frade sapateiro descalço partir, nesse ano, fez as botas e sapatos já com muita dificuldade e conseguiu fazer a sua distribuição porta a porta na noite de Natal, mas de manhã foram encontrá-lo sem vida, mas com a sua missão cumprida, foi um dia muito triste para a Vila de Monsaraz, mas ele partiu feliz e deixou muitas crianças felizes com o seu presente de Natal.
Singela homenagem aos Frades Agostinhos descalços do Convento de Nossa Senhora da Orada de Monsaraz.
Texto: Correia Manuel
Fotografia: Isidro Pinto
Natal de 2025
Convento de Nossa Senhora da Orada

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