sábado, 19 de abril de 2025

A Comenda de Santa Maria de Terena

 História da Vila de Terena 

A Comenda de Santa Maria de Terena 

Uma Comenda era um conjunto de bens e benefícios, como casas, terras, castelos, Vilas, Portos, moinhos, lagares, fornos, barcas, portagens, padroados, foros e outros, que eram doadas às Ordens Religiosas e Militares, para terem rendimentos para se manterem, para a sua participação nas guerras, e para auxílio económico aos seus cavaleiros, como o caso da doação das rendas de Santa Maria de Terena que, em 10 de Maio de 1464, foram doadas por D. Pedro Rei de Aragão que era, então, o governador da Ordem de São Bento de Aviz, ao cavaleiro desta Ordem, Diogo Velho, era uma pensão, pelos serviços prestados, que recebia até ao seu falecimento.

No segundo ou terceiro decénio do ano de 1400, talvez em 1422, o rei D. João I criou a Comenda de Santa Maria de Terena, para a Ordem de São Bento de Avis, possivelmente, como reconhecimento da sua participação na conquista de Ceuta em 21 de Agosto de 1415, ao lado deste rei. que já tinha sido o Mestre de Aviz.

Após pesquisas possíveis, encontramos nesta Comenda, apenas, o rico padroado da Igreja de Santa Maria de Terena, nesta data, oficialmente, já era de Nossa Senhora de Terena, desde 1408 que lhe tinha sido retirado Santa Maria, pela Bula Sincere devotionis do Papa Gregório XII, depois, parece-nos que, cerca de 1570 passou a ser dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres e, em 1708 já era de Nossa Senhora da Boa Nova. O rendimento da Comenda, seria cerca de 1.500 libras, ou seja, cerca de 429 reais brancos de prata, ou 1050 reais prêtos, cerca de 3.000 soldos, que nessa época era muito dinheiro.

Como em 15 de Junho de 1796, o moinho das Azenhas D'El-Rei de dentro, no rio Guadiana, Concelho de Terena, era de D. Francisco de Melo Cogominho, Tenente ou Cadete do regimento de cavalaria de Évora, levou-nos a pensar que, o dito moinho estava incluído na Comenda, mas não, porque a Comenda foi pedida por ele à rainha Dª Maria I em 01 de Janeiro de 1802. 

Em 1327, no reinado de D. Afonso IV, a Ordem de São Bento de Avis já tinha 32 Comendas com um rendimento a rondar as 18.000 libras, nesta data, ainda não existia a Comenda de Santa Maria de Terena, em 1744 detinha 48 Comendas e no fim da sua vida em 1834, eram 49 Comendas.

O padroado de uma Igreja consistia nos dízimos, taxas e outros rendimentos da mesma, como as missas e outros serviços, mas na Comenda de Terena não são referidos os valores das esmolas, das promessas, nem os valores das graças pelos milagres que, conforme se verifica em alguns documentos oficiais, envolviam muito dinheiro que, era recolhido pelos Mamposteiros e administrado pelos Mordomos da Confraria de Santa Maria de Terena, referenciados em documento régio em 08 de Abril de 1496.

Entre os anos de 1565 e 1570, foram feitas obras de grande relevo no Santuário da atual Senhora da Boa Nova, destacando-se o retábulo maneirista da Capela Mor que, custou muito dinheiro, porque foi pintado por um dos melhores pintores dessa época, chamado Francisco de Campos, nascido na Flandres em 1515 e faleceu em Évora em 1580 com peste, foi um pintor maneirista flamengo ativo em Portugal no século XVI. Talvez tenha sido aluno de Martin van Hemeesckerk, e mostrou possuir um estilo de grande segurança, desenvoltura e originalidade, sem precedentes em Portugal. Construía figuras com proporções inusitadas contra um cenário de espacialidade complexa, empregando cores cítricas em combinações surpreendentes. O seu desenho era alheio a todo o naturalismo, com um traço nervoso e expressivo. A sua obra inaugura uma fase de renovada internacionalização na pintura portuguesa. As suas obras só podiam ser pagas pelo rico Cabido da Sé de Évora e por Famílias nobres muito ricas, logo, pensa-se que, esta obra, foi suportada pelo próprio Santuário, porque a Ordem de São Bento de Avis, era a dona da Comenda, mas não fazia tão grande gasto, porque, esse investimento não lhe dava mais nada de rendas. 

Alguns autores escreveram que, na data da criação da dita Comenda, o rei D. João I, também entregou, os domínios da Vila de Terena, incluindo o seu Castelo, à dita Ordem, mas não encontramos nenhum documento Régio que o comprove, antes o contrário e, se assim fosse, o rei D. João I, não doava a Vila de Terena a Gomez Garcia de Foyos no dia 14 de Março de 1422, Chancelaria de D. João I - Vol. I folha 18 v. e, nem D. Duarte a podia entregar a D. Nuno Martins da Silveira, em 08 de Maio de 1436, sendo confirmado Alcaide Mor por D. João II e, depois, a muitos outros Alcaides Mor.

A Comenda de Terena ficou na posse da Ordem de São Bento de  Avis até 28 de Maio de 1834, embora, tenha passado por imensos beneficiados e Comendadores, ou seja, administradores da dita Comenda.

O Decreto de 28 de Maio de 1834 (D. Pedro, Duque de Bragança)

Extinguiu todas as Ordens Religiosas, logo, as respetivas Comendas, incluindo a de Santa Maria de Terena.

De: Consulta a diversos documentos régios e da Ordem de São Bento de Aviz.

Texto: Correia Manuel

Abril de 2025 


Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova



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