quinta-feira, 22 de junho de 2023

Memórias do Chquinho de Capelins, quando fez a açorda sem azeite

Memórias do Chquinho de Capelins, quando fez a açorda sem azeite

Nos alvores dos anos de 1960, num dia como tantos outros, o Chiquinho de Capelins, arrumou-se, foi tratar do gado que tinha a seu cargo e partiu para Capelins de Baixo, para se juntar ao grupo de rapazes das brincadeiras, assim que chegou, já o esperavam e começaram a brincar às escondidas até cansar, depois, passaram para outros jogos que não exigiam corridas, como o jogo do pião, do berlinde e outros, até que, as barrigas começaram a anunciar que estava na hora do jantar (almoço).
O Chiquinho, nesse dia, tinha ficado sozinho em casa e a mãe na noite anterior disse-lhe que tomasse tato na cabeça e não levasse gaiatos a brincar lá para casa e que ao meio dia, quando tivesse fome, fizesse uma açorda, era só coser os ovos que quisesse, colher uns poejos no quintal, lavá-los, cortá-los com um dentinho de alho aos bocadinhos, pôr um pouco de sal, e numa tigela, pisar tudo bem pisadinho com o pisador que ficava em cima da mesa, depois acrescentar duas ou três colheres de azeite e vazar a água bem quente para escaldar o azeite, meter o pão migado e ficava pronta a comer!
O Chiquinho respondeu que, era mestre de culinária, sabia muito bem, fazer açordas, sopas de grão ou de feijão, e até sabia estrelar ovos e fritar batatas, não precisava de tanta explicação! E a conversa com a mãe, ficou por ali, para não levar algum sopapo nas orelhas!
Quando a rapaziada começou a debandar para suas casas à procura do jantar (almoço), o primo disse-lhe para ir comer com ele, mas que ainda era cedo, a mãe dele só tinha a comida pronta lá para a uma e tal, e devia ser uma sopa de tomate com ovos, podiam ficar ali mais um bocado e depois iam comer os dois, mas o Chiquinho disse-lhe que não, porque ia fazer uma açorda, conforme a mãe lhe disse, e sendo assim, era melhor dizerem à mãe dele que iam os dois comer a Capelins de Cima, e assim fizeram.
Quando chegaram à casa do Chiquinho, ele começou logo os preparativos da açorda, ligou o fogão a gás para a água ferver e coser dois ovos para cada um, pisou os poejos com alho e sal, migou o pão para um prato e quando achou que os ovos estavam cosidos, tirou-os para arrefecerem e para os descascar, deitou a água em cima dos temperos e não demorou já estavam a comer uma boa açorda, mas durante a comesana, olhavam um para o outro com vontade de dizer alguma coisa, mas nenhum dizia nada e continuavam a comer, até que, quase no fim, o Chiquinho perguntou ao primo:
Chiquinho: Olha lá primo, tu achas que a açorda está boa?
Primo: Boa? Está muito boa, bem salgadinha, bom sabor, mas na verdade não está bem igual ás que a minha mãe faz!
Chiquinho: Ora aí está, mas está melhor, ou está pior, do que as da tua mãe?
Primo: Olha, até parece que está melhor, talvez por ter mais sal, mas não deve estar!
Chiquinho: Pois é, também acho que há aqui qualquer coisa esquisita! Será que lhe falta alguma coisa? Mas tem poejos, tem alho, tem sal! Então, tem tudo!
Como não estavam convencidos que a açorda tivesse tudo, levantaram-se das cadeiras a olhar para dentro da tigela para verem bem se estavam lá os temperos todos e foi naquele momento que, exclamaram ao mesmo tempo: - Não tem azeite! E agora?
Como já estavam acabando de comer, já não dava para acrescentar o azeite e concordaram em acabar a açorda como estava, sem azeite, mas a partir desse dia, o Chiquinho nunca mais fez uma açorda sem conferir se tinha lá o azeite.
Quando acabaram a açorda, o Chiquinho perguntou ao primo se queria um bocado de pão com queijo, ou com outro conduto, mas ele apressou-se a responder que, com aquela barrigada de açorda, já não conseguia comer mais nada e acrescentou: - Ainda nunca tinha apanhado uma barrigada de açorda sem azeite! E começaram os dois a rir, o caso não era para menos, e a mãe do Chiquinho nunca soube do acontecimento, senão, o mestre de culinária levava grande desanda.
Fim
Texto: Correia Manuel

Ferreira de Capelins

Antiga Capelins de Cima



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