sexta-feira, 16 de junho de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi atacado pela rapaziada da tribo

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi atacado pela rapaziada da tribo

Na década de 1960, ainda passavam e acampavam nas terras de Capelins, muitas caravanas de pessoas que viviam da mendicidade, ou da venda de peças de artesanato feitas em folha de flandres, (lata), ou outros materiais, úteis à vida diária dos moradores, como: quartilhos, cântaros, potes, almotolias, formas e tabuleiros para cozer bolos, pás, e pincéis para caiar, e gateavam peças de barro, amolavam facas e tesouras e prestavam outros serviços.
As mulheres que se dedicavam à mendicidade andavam de porta em porta, com duas ou três crianças escarranchadas nos quadris e mais algumas atrás, pedindo alimentos, roupas usadas e, muitas vezes iam deitando a mão ao que podiam, enquanto os artesãos, de outras famílias diferentes, limitavam-se a oferecer o seu trabalho e a vender os seus utensílios, algumas vezes, em troca de pão e de outros alimentos.
Alguns moradores da freguesia de Capelins confundiam estas duas comunidades, porque ambas eram nómadas, estavam sujeitas às mesmas regras de permanência de, no máximo três dias em cada lugar onde ficavam, tinham ambas imensos filhos e paravam nos mesmos lugares, demarcados pelas respetivas autoridades locais.
Na Aldeia de Ferreira, as duas comunidades instalavam-se, geralmente a sul de Capelins de Baixo, entre o Monte do Marco e a estrada de Montejuntos, mas não se misturavam, enquanto uns instalavam as tendas de lona em redor e debaixo de um chaparro com o nome dos que lá acampavam, a outra comunidade acampava do lado esquerdo, separados pelo caminho de terra batida entre a dita estrada e o ribeiro que entra na tapada do Monte do Marco e, era este caminho que ficava ao meio que não podia ser percorrido por rapazes ou raparigas, se não fossem acompanhados por adultos, senão estavam sujeitos a levar uma tareia da rapaziada que ficava do lado direito ao descer, sem intervenção dos adultos que se limitavam a assistir.
O Chiquinho de Capelins tinha uma tia que morava no Monte Real, onde ele ia muitas vezes, passar horas ou o dia, a brincar com as primas, e era esse o seu percurso, mas depois de apanhar alguns sustos, foi obrigado a alterar o trajeto e seguir pelo caminho que começava/terminava na chamada curva de Capelins de Baixo até ao Monte do Marco, depois, ia encostado à parede da tapada desse Monte até à Forja e, como era muito pequenino nem era avistado pelas sentinelas de serviço, passando despercebido, até ao dia em que uma das comunidades, começou a acampar ao lado da Forja, no espaço entre o curral das vacas e a tapada do Monte Real, quando o Chiquinho passou para o Monte Real andavam dois ou três pequenos a brincar junto ao caminho e, assim que ele se aproximou foi barrado, mas ele deu um empurrão em cada um que os fez sentar no chão e começaram todos a chorar, pareciam uma buzinas para chamar auxílio, ele começou a correr e escapou ileso, mas o problema estava na volta, no entanto, pensou que ia demorar-se, assim, podia ser esquecido e safar-se, mas não, quando voltou, à tardinha, foi-se aproximando com cautela e como não via sinais de perigo avançou mais descontraído, mas assim que chegou ao final da parede da tapada do Monte Real, caiu numa emboscada, foi cercado por um grande grupo de rapazes e raparigas em posição de ataque, todos de velas acesas, ou seja, com o muco amarelo pendurado das duas narinas e, na sua frente estava um rapaz da sua altura com os olhos a brotar raiva, de cabelos eriçados, a barrar-lhe o caminho e, sem dizer uma palavra deixou-o aterrorizado, com a certeza que ia levar uma grande tareia, mas ao sentir-se encurralado, reagiu impulsivamente e deu um murro na cara do grande guerreiro, que lhe apagou as velas, limpou-lhe o muco e, imediatamente partiu em corrida, surpreendendo o grupo que, estava convencido que o tinha nas suas mãos e, quando o perseguiram a correr atrás dele com gritos de guerra, pareciam os índios nos filmes, já era tarde, ainda correram até ao ramal para o Monte das Serranas, mas desistiram, porque o Chiquinho parecia um cavalo de corrida e só parou quando entrou na rua principal de Capelins de Baixo, com as pernas a tremer que nem varas verdes e se lhe tapassem a boca dava um estouro e, a partir daquele dia, durante alguns anos, nunca mais passou sozinho, pelo caminho da Forja para o Monte Real.
Fim
Texto: Correia Manuel

Lugar do acampamento da tribo




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