terça-feira, 20 de junho de 2023

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando ficou entalado numa oliveira

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando ficou entalado numa oliveira

Num Domingo à tardinha, no início da década de 1960, o Chiquinho de Capelins estava a brincar, fazendo estradas e paredes com terra e pedras na rua principal de Capelins de Baixo, quando o avô saiu de casa e começou a descer a dita rua, o Chiquinho perguntou-lhe onde ia e ele respondeu que ia à taberna e acrescentou que se ele quisesse podia ir, o Chiquinho levantou-se, pegou na mão do avô e lá foram os dois!
Quando chegaram à taberna o avô pediu duas laranjadas, o que desagradou ao Chiquinho, porque gostava muito de pirolitos, mas o avô dizia-lhe que os pirolitos faziam-lhe mal à barriga, porque eram feitos de água com gás e açúcar, enquanto as laranjadas eram feitas das laranjas, das laranjeiras das ruas de Vila Viçosa, que o Senhor Xico Zé comprava para fazer delas a dita bebida, o Chiquinho dizia que as laranjadas amargavam e não gostava delas, mas quem mandava era o avô e tinha de aceitar.
A televisão que se encontrava no casão, estava a transmitir um filme do Tarzan dos Macacos e o Chiquinho foi a correr sentar-se e ficou maravilhado com as imagens do Tarzan dos macacos e da selva, não imaginava que aquilo existisse, mas o que mais admirava era o grito do Tarzan e os saltos de árvore em árvore pendurado das lianas e começou a imaginar que podia, muito bem, fazer igual.
Quando o filme acabou o avô chamou-o para irem embora, a ver da ceia (jantar), no caminho para casa as cenas do filme do Tarzan não lhe saiam da cabeça e experimentou o célebre grito, mas não passou de um berro que assustou os cães da Aldeia que começaram todos a ladrar, quando chegaram à curva de Capelins de Baixo o Chiquinho disse ao avô:
Chiquinho: Avô, já sei o que quero ser quando for grande!
Avô: Eu também sei, já me disseste muitas vezes que queres ser alvanéu, como eu!
Chiquinho: Não, não avô, já não quero, a minha mãe disse-me que esse trabalho custa muito!
Avô: Mau, mau, estava a contar com um ajudante, agora mudaste de ideia?
Chiquinho: Mudei, mudei avô, agora quero ser Tarzan!
Avô: Mas isso, não é profissão, é uma personagem do filme!
Chiquinho: Seja lá o que for, é isso que eu quero ser e vou já começar a treinar, a saltar de árvore em árvore!
Avô: Mas a treinares o quê? Para caíres de cima de algum chaparro ou oliveira e partires um braço ou uma perna, tu tens é de estudar a ver se és alguém!
Chiquinho: Avô, eu já sei subir às árvores, agora é só treinar com umas cordas para saltar de umas para as outras, como faz o Tarzan, não acho nada difícil e posso ser alguém!
Avô: Pronto, está bem, se queres ser Tarzan, serás Tarzan, mas só quando fores grande!
O Chiquinho ficou muito contente por ter a aprovação do avô e não esquecia o que tinha visto no filme, e no dia seguinte, assim que teve oportunidade, começou a tentar subir às oliveiras, chaparros, amendoeiras e todas as árvores que estivessem à mão, até que, um dia, enquanto a mãe andava na lida da casa, subiu a uma oliveira no quintal em Capelins de Cima, mas quando foi para saltar, ficou entalado entre duas pernadas, a cerca de um ou dois metros do chão e começou a espernear, mas quanto mais se mexia mais entalado ficava e começou a sentir-se muito apertado com dificuldade em respirar e sem conseguir falar para pedir ajuda, piava cada vez mais fino, e começou a chorar a pensar que era o adeus à vida presente, mas a irmã que andava ali a brincar apercebeu-se que ele estava aflito e foi a correr chamar a mãe que, ao saber que ele estava empoleirado em cima de uma oliveira sem conseguir descer, respondeu: - Deixa-o lá estar para ele aprender, a toda a hora lhe digo para não subir às oliveiras, mas agora apanhou essa mania e anda sempre empoleirado em tudo o que apanha! Mas a irmã tanto insistiu, dizendo que ele estava a morrer entalado na oliveira, que a mãe foi a correr e salvou-lhe a vida, mas não se livrou de levar uma grande desanda, e ele justificou-se, dizendo que andava a treinar para ser Tarzan, sabia lá a mãe o que isso era, mas livrou-se de levar uma tareia, porque estava muito fraquinho, nem se segurava nas canetas, ou seja, nas pernas.
O Chiquinho apanhou grande susto e andou muito tempo sem trepar às oliveiras nem aos chaparros, tinha medo, via-os como seus inimigos, mas com o passar do tempo esqueceu o acontecimento e começou, novamente, mas nunca mais imitou o Tarzan, porque não havia condições, faltavam as lianas e o sonho do Chiquinho ficou adiado.
Fim
Texto: Correia Manuel




Sem comentários:

Enviar um comentário

Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...