A lenda dos Jornaleiros de Capelins
Os jornaleiros de Capelins eram os trabalhadores rurais menos qualificados, os mais simples, ou menos habilitados em termos profissionais, eram generalistas, não tinham uma especialidade que lhes permitisse ser admitidos, permanentemente numa herdade, eram o último degrau da escala dos trabalhadores rurais, no entanto, faziam quase todos os trabalhos, desde as lavouras chamado alqueive, a colheita de azeitona, a limpeza de azinheiras, oliveiras e outro arvoredo, arranjavam as lenhas, faziam as ceifas, carregavam os cereais para as eiras, faziam a debulha desses cereais, arrumavam as palhas para os gados em almiaras, preparavam as terras e faziam as sementeiras dos cereais, abriam covas para plantar oliveiras, limpavam linhas de água nas herdades e outros serviços que, empregavam muitos jornaleiros e que eram sempre os mais mal pagos, podendo receber apenas uma parte do seu salário, sendo descontado o valor da comida fornecida pelo lavrador, nesse caso, andavam a "de comer", estes trabalhadores eram temporários, trabalhavam ao dia e ganhavam a sua jorna diária, e podiam ser despedidos no fim da semana ou em qualquer dia desta, por ter terminado o trabalho ou por o lavrador ou o feitor não querer que ele continuasse a trabalhar, e se a chuva ou outro motivo o impedisse  de trabalhar, não ganhavam nada. 
Na Freguesia de Capelins, todas as pessoas que trabalhavam nas herdades, para os lavradores, eram chamados de "criados", embora, fossem ajudas de gado, escamel, cozinheiro, escrivão, ganadeiro, moiral de parelhas, carreiro, ganhão, feitor, jornaleiro ou outros.
Nos Registos Paroquiais de Santo António de Capelins, onde os Párocos Registavam os nascimentos, os casamentos e os óbitos desde 1633, pouco se encontra a profissão de criado e, quando surge, refere-se a criados de servir nos Montes das herdades, as profissões que mais encontramos são as de "jornaleiro" e de "ganadeiro", mas a profissão de "jornaleiro" já aparece referida nos Forais, pelo menos, nos Manuelinos do início da centúria de 1500.
Até ao último decénio de 1600 a Freguesia de Capelins tinha catorze herdades, além dos Baldios do Peral e do Roncanito, chamadas: Navais, Cabeça de Sina, estas duas ficavam fora da Vila de Ferreira, lá dentro eram: Defesa de Ferreira, Seixo, Monte da Vinha, Azinhal Redondo de Cima, Azinhal Redondo de Baixo, Defesa de Bobadela, Galvoeira, Zorra, Talaveira, Carrão, Roncão, e Amadoreira, depois do ano de 1698 passaram a ser o dobro, porque cada uma, foi repartida em pelo menos duas e em algumas courelas, excepto as herdades da Defesa de Ferreira e de Bobadela, que foram doadas à Casa do Infantado. 
Estas herdades, entre todas, principalmente em épocas sazonais, como nas ceifas, precisavam de muitas centenas de trabalhadores, senão milhares, valendo aos lavradores a vinda dos ranchos dos "ratinhos beirões" que, geralmente recebiam um valor variável por empreitada, quando acabavam as empreitadas, fossem de ceifa ou de outro trabalho, voltavam às suas Aldeias na Beira.
Na Freguesia de Capelins, as herdades que admitiam mais trabalhadores, homens e mulheres, fossem jornaleiros ou outras categorias, eram o Monte Grande da Defesa de Ferreira, nesta, também recorriam aos ranchos de "ratinhos beirões" , o Monte da Travessa na Defesa de Bobadela, e o Roncanito, nestes dois casos, admitiam, mais mão de obra local.
Como foi referido, os lavradores, feitores ou escrivães, pagavam no fim da semana, em dinheiro, mas também podiam pagar uma parte dos salários em géneros, com cereais, farinha, azeite, porcos ou outros bens produzidos nas herdades.
Na centúria de 1600 o Reino de Portugal precisava de gente para trabalhar na agricultura, sobretudo no Alentejo, assim, foi para esta província que se dirigiram imensos "escravos" e vieram alguns para a Freguesia de Capelins, cuja exploração do seu trabalho ficava barata, uma vez que, depois dos comprarem já não pagavam nada pelo seu trabalho, fazendo baixar o valor das jornas, sendo uma situação muito má para os pobres escravos e para os pobres jornaleiros. 
Os jornaleiros tinham uma vida muito árdua, trabalhavam muito, de dia e de noite, e não ganhavam quase nada, com a agravante de passarem temporadas sem trabalho, logo, sem rendimentos, alguns com muitos filhos para dar de comer, que chegavam a passar fome, porque os que gostavam de beber um copinho de vinho ou de aguardente ou que fumavam, quando recebiam o salário passavam pela taberna a pagar o que lá deviam e se havia algum descuido, quando chegavam a casa o dinheiro que entregavam às mulheres não chegava para pagar as dívidas na mercearia, assim, não passavam da cêpa torta.
Pelo seu contributo para o desenvolvimento da Freguesia de Capelins, pelo mal que passaram, prestamos esta singela homenagem aos jornaleiros, nossos ancestrais. 
Bem Hajam
Fim
Texto: Correia Manuel 
O meu avô Xico Alvanéu nascido no ano de 1902

 

 
