sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

O desastre na Fortaleza de Juromenha em 1659

 O desastre na Fortaleza de Juromenha em 1659

Após o cerco à cidade de Elvas, pelas tropas castelhanas comandadas por D. Luís Mendéz de Haro, com início em 22 de Outubro de 1658, na sequência da restauração da independência de Portugal, a rainha Dª Luísa de Gusmão mandou organizar um exército de socorro, constituído por todas as guarnições e homens válidos, mas como as praças não podiam ficar desguarnecidas foi decidido improvisar, mobilizando gente sem conhecimentos no uso de armas, incluindo rapazes e velhos, de maneira que parecesse serem guarnições verdadeiras para as praças parecerem estar cheias de militares, para ludibriar os inimigos!
Os estudantes não escaparam à mobilização e, um dos casos mais conhecidos foi a companhia formada com cerca de cem estudantes da Universidade e Colégio do Espírito Santo de Évora, os que restavam dos que já integravam outra companhia ao serviço desta cidade e que tinham entre os 14 e os 20 anos!
Nos finais do ano de 1658, esta companhia, seguiu para a Fortaleza de Juromenha, para substituir a guarnição desta praça, que foi integrada no exército do socorro, sendo comandados pelo seu Reitor, o Dr. Francisco Soares, conhecido pelo Lusitano, que era padre e ensinava filosofia no referido Estabelecimento de Ensino!
A companhia dos estudantes de Évora, assim que chegou à Fortaleza de Juromenha, foi apresentada ao governador da praça que lhe deu as boas vindas e algumas explicações básicas sobre a segurança, conduta, disciplina e as suas funções, reforçadas pela intervenção do senhor reitor e, começaram, imediatamente a fazer os serviços de guarda e de vigia inerentes à guarnição!
O tempo decorria sem sobressaltos, passou o Natal e entraram no ano de 1659, sem previsão de quanto mais tempo ali teriam de passar, sem acontecer nada de novo, alguns já andavam impacientes, mas tinham muito orgulho na sua missão!
Em meados do mês de Janeiro de 1659, o exército do socorro, estava organizado e bem preparado para surpreender os castelhanos que estavam acantonados nos Fortes e Fortins esperando a rendição da praça de Elvas!
Na manhã do dia 14 de Janeiro de 1659, o exército português comandado por André Albuquerque de Ribafria, da cavalaria (que foi morto em combate neste dia), e por Afonso Furtado de Mendonça, da artilharia, Dinis de Melo e Castro, Diogo Gomes de Figueiredo, Conde de Mesquitela e outros comandantes da cavalaria e infantaria, conseguiram uma grande vitória sobre os castelhanos, sendo a praça de Elvas, completamente libertada no dia 15 de Janeiro de 1659 e, neste mesmo dia, o exército do socorro, seguido da carriagem entraram em Elvas com 1000 porcos e 1000 borregos para os sobreviventes do cerco e da peste que matou cerca de 5.000 pessoas e morreram mais 200 em combate!
O comandante chefe da praça de Elvas era D. Sancho Manuel que, após ser libertado, reuniu uma força de cavalaria e saíram até ao Rio Caia, encontrando muitos espanhóis em fuga, mas apenas os mandaram descalçar e despir a roupa, deixando-os em ceroulas para, naquelas figuras darem entrada em Badajoz!
Na manhã do dia 15 de Janeiro de 1659, surgiu um cavaleiro a galope içando uma bandeira portuguesa, passou junto da muralha da Fortaleza de Juromenha, sem parar, bradando: Vitória! Vitória! Vitória! Viva Portugal!
Os estudantes, correram todos às muralhas, mas já era tarde, porque, o cavaleiro tinha desaparecido pelo caminho para o Alandroal, a espalhar a novidade da grande vitória que tinha acabado de acontecer em Elvas, mas apareceu logo outro cavaleiro agitando o chapéu e, como era de Juromenha parou à porta da vila a gritar: Vitória! Vitória! Vitória! E quando se cansou de tanto gritar lá contou com grande entusiasmo, que os espanhóis tinham sido completamente derrotados nas linhas de Elvas e aproveitou para exaltar os grandes feitos dos portugueses, no assalto às trincheiras dos inimigos, deixando os estudantes ainda mais orgulhosos e decididos a alistarem-se no exército do Alentejo!
O reitor Francisco Soares, ouviu o cavaleiro com muita atenção e decidiu ir a Elvas dar os parabéns aos comandantes e a participar em tão grande glória, partindo ainda nesse dia, por lá andou e, antes de voltar a Juromenha foi informado que tinha de voltar para Évora com os estudantes, porque a guarnição, no dia seguinte ia voltar à praça onde eles se encontravam!
O reitor Francisco Soares voltou a Juromenha no dia 19 de Janeiro de 1659 e, assim que chegou, reuniu-se com os rapazes, contou-lhe as novidades que havia por Elvas e, mandou preparar os sacos e mantimentos para seguirem para Évora na madrugada do dia seguinte!
Os estudantes, cumpriram as instruções do reitor e, depois foram mandados formar junto à casa do governador para apresentarem as despedidas, mas nesse lugar estava o médico a assistir um homem muito doente, que estava nas abaladas, pelo que o médico pediu para chamarem o padre para lhe dar os Sacramentos, vieram logo dois padres, os quais, foram encaminhados para onde estava o moribundo, num compartimento por baixo da casa do governador da praça que, andava nas despedidas dos estudantes e, não se apercebeu da chegada dos padres que, foram reencaminhados pelos criados para os aposentos onde estava o doente, mas como era já de noite, sem luz, iam às aranhas, então, pediram um archote e desceram até ao lugar onde também estavam alguns barris cheios de pólvora e com restos por cima dos mesmos, na tentativa de verem a cara do infeliz, baixaram o archote até perto dos barris que explodiram, atingindo o paiol principal que também explodiu e ficou tudo queimado, despedaçado, triturado, esmagado, e morreram mais de cem pessoas, incluindo os estudantes, o governador, o médico e três padres, deixando os cadáveres irreconheciveis, mas parte do corpo do malogrado reitor Francisco Soares foi reconhecido, porque, conservava na algibeira, um sinete que usava para chamar os estudantes e dar a s suas ordens!
Os estudantes da Universidade e Colégio do Espírito Santo de Évora, perderam as vidas na Fortaleza de Juromenha, em 19 de Janeiro de 1685, naqueles dias de imensa glória tiveram uma morte inglória!
A Fortaleza de Juromenha foi, imediatamente reconstruída, com algumas alterações para melhor defesa, porém, no dia 12 de Junho de 1662 caiu no domínio dos castelhanos comandados por D. João de Áustria, filho de Filipe IV, sendo recuperada pelo Reino de Portugal em 1668, com o fim da guerra da Restauração.
In, Pereira, Gabriel, Estudos Eborenses – Os Estudantes, Minerva Eborense, Évora, 1893, págs. 23, 24, 25 e 26
Coelho, P. M. Laranjo, Cartas dos Governadores da Província do Alentejo a El-Rei D. Afonso VI, Vol.
III, Academia Portuguesa de História, 1940, Lisboa, pág. 25 

Fim 

Fortaleza de Juromenha 




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