História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes
9 - Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão - 1758
Respostas do Prior Estevão da Silveira Matos, da Paróquia de Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão, ao Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo Secretário de Estado do Reino (Primeiro Ministro) do rei D. José I, em 05 de Junho de 1758.
Rio Guadiana
"Chama-se o rio desta Vila, Guadiana, nasce na Mancha do Reino de Aragão.
Dizem que logo no seu nascimento é grande, quando passa por esta terra distante um quarto de légua é rio que se não pode vadiar no inverno por ser muito caudaloso, porém no verão se passa a pé enxuto.
No Distrito desta Freguesia se metem no rio Guadiana uns pequenos Ribeiros a que chamam das Vinhas e Aldrogas.
Navegam no rio barcos pequenos de pescadores, e neste Distrito os não pode fazer pessoa alguma para o fim de passar de uma e outra parte gente, porque tem o mesmo rio uma grande barca de que o Senhor Rei D. Manuel fez Mercê ao Alcaide Mor desta Vila que serve de passar gente, bestas, gado e tudo o mais.
Corre este rio por entre muitos Montes e por essa causa sempre que corre neste Distrito é arrebatadíssimo.
Corre este rio de Nascente para o Poente.
Cria várias castas de peixes como são: escárpios que têm tirado seis e sete arates, barbos de arroba, lampreias, irozes, pricóis, bogas, bordalos, sebatelhas (pardelhas ?) e mais variedades de peixes pequenos.
Há nesta terra pescarias no inverno e têm os moradores disto poucos cais feitos dentro do rio onde pescam à cana com a melhor arte, porque com um subtil anzol encastado em sidela de dez ou doze sedas de canalho tiram ajudados da arte que a esperiência lhe tem ensinado dos maiores peixes que tem o rio e em todo o ano se pesca com os barcos e redes.
São as pescarias livres e só a cascalheira do Moinho de Valadares tem direito Senhorio.
Neste Distrito não tem o rio arvoredos, tem algumas margens em que semeiam melões e feijoais grandes.
É a água deste rio excelente para os estraidos do baço, porque por dentro do rio há inumeráveis tramagueiras.
Sempre conservou o seu nome, e conserva até se meter no mar.
Morre este rio no mar.
Tem este rio muitos açudes e penhascos que impedem o ser navegável não tem cachoeira nem represa neste Distrito.
Neste Distrito, não tem pontes, nem de pau nem de pedra.
Tem neste Distrito quatro Moinhos, e não tem outro engenho.
Nunca ouvi dizer que das suas areias se tirasse ouro ou prata.
Usa-se das águas deste rio livremente sem pensão alguma.
Nasce nas Manchas de Aragão e entra no mar junto a Mértola, passa por inumeráveis povoações.
Estevão da Silveira Matos, Conventual de Avis e Prior na Igreja Matriz da Vila de Mourão. Certefico que em verdade de uma ordem do Excelentissimo Reverendissimo Senhor Dom Frei Miguel de Távora Arcebispo de Évora, respondi aos Interrogatórios,inclusos neste papel na forma que no mesmo o contém e nada mais tendo que dizer do que vai respondido em cada um dos Interrogatórios, passa o referido na verdade assino e firmo pelo hábito que professo.
Mourão cinco de Junho de mil setecentos e cinquenta e oito.
O Prior: Estevão da Silveira Matos"
Transcrito por: Correia Manuel
Abril 2025
Comentário
O Prior Estevão da Silveira Matos, descreveu como era o celebrado rio Guadiana na Freguesia de Nossa Senhora das Candeias, logo no Concelho de Mourão, na centúria de 1700, ou seja, em 1758 e, não difere muito do que os Párocos das localidades de toda a região a juzante até Juromenha o descreveram nas respetivas regiões.
O Prior respondeu que, o rio Guadiana passava a cerca de um quarto de légua, 1,5 kms da vila de Mourão e que a sua nascente era nas manchas de Aragão, corria do Nascente para o Poente e era um rio caudaloso no inverno, com corrente arrebatadíssima porque, aqui corria entre muitos montes, mas no verão passsava-se a pé enxuto.
Escreveu que, nesta Freguesia entravam nele alguns pequenos Ribeiros como o Ribeiro das Vinhas e o Ribeiro de Aldrogas, que o rio era navegável por pequenos barcos de pesca que no distrito ou área desta Freguesia, não podiam passar gente entre as suas margens, porque para isso, existia uma grande barca que o rei D. Manuel I tinha doado ao Alcaide Mor da Vila de Mourão que servia para passar gente, bestas, gado e tudo o mais.
Quanto às espécies ou castas de peixes que descreveu, são as mesmas que existiam desde Juromenha, os escárpios, talvez carpas, com seis e sete arrátes, ou seja, três ou quatro kgs, os barbos com uma arroba, quinze kgs, as bogas, lampreias, eirozes ou irozes, pricóis, sebatelhas, bordalos e outro peixe mais miúdo, havia pescarias e o povo tinham um cais dentro do rio de onde pescavam com canas, com grande arte, grandes peixes, mas pescavam todo ao ano com os barcos e redes. As pescarias eram livres e só a cascalheira do Moinho de Valadares tinha Senhorio.
A água do rio era excelente para os extraídos do Baço, porque por dentro dele havia inumeráveis tramagueiras.
Também, este Prior da Vila de Mourão, escreveu que o rio Guadiana, nunca teve outro nome, mas desde a reconquista destas terras pelos portugueses até 1580, conforme consta em imensos documentos régios e na história de Portugal, chamou-se rio Odiana, quando do domínio do Reino de Portugal pelo Reino de Castela, 1580-1640, passou a ser o rio Guadiana, tal como já assim se chamava em Castela, há aqui um mistério, porque, nenhum Pároco entre Juromenha e Mourão, referem que, antes, era o rio Odiana.
O Prior escreveu que, o rio tinha muitos açudes e penhascos que o impediam de ser navegável em todo o lado, não tinha cachoeiras nem represas e não tinha pontes, nem de pau nem de pedra neste distrito, ou Freguesia, existiam aqui quatro moinhos e mais nenhum engenho.
Referiu que o rio passava por inumeráveis povoações e entrava no mar em Mértola, neste caso, os Párocos combinaram-se todos em informar que o rio Guadiana desaguava no Oceano em Mértola, e isso ouviu-se até muito tarde, e tinha um fundo de verdade, já que, as marés influenciam a corrente do rio até esse Lugar.
E por aqui se ficou, o Prior Estevão da Silveira Matos, fazendo grandes despedidas ao senhor Marquês de Pombal.
Não deixa de ser mais uma página histórica sobre o celebrado rio Guadiana, neste caso, da região de Mourão, na centúria de 1700.
Correia Manuel
Abril de 2025
Vila de Mourão
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