História da Vila de Terena
Este Blogue Tem Como Objetivo Dinamizar a História, Lendas, Tradições e, a Defesa do Património Cultural e Arqueológico das Terras de Capelins - Alandroal
domingo, 20 de abril de 2025
Condes e Marqueses da Vila de Terena
sábado, 19 de abril de 2025
A Comenda de Santa Maria de Terena
História da Vila de Terena
A Comenda de Santa Maria de Terena
Uma Comenda era um conjunto de bens e benefícios, como casas, terras, castelos, Vilas, Portos, moinhos, lagares, fornos, barcas, portagens, padroados, foros e outros, que eram doadas às Ordens Religiosas e Militares, para terem rendimentos para se manterem, para a sua participação nas guerras, e para auxílio económico aos seus cavaleiros, como o caso da doação das rendas de Santa Maria de Terena que, em 10 de Maio de 1464, foram doadas por D. Pedro Rei de Aragão que era, então, o governador da Ordem de São Bento de Aviz, ao cavaleiro desta Ordem, Diogo Velho, era uma pensão, pelos serviços prestados, que recebia até ao seu falecimento.
No segundo ou terceiro decénio do ano de 1400, talvez em 1422, o rei D. João I criou a Comenda de Santa Maria de Terena, para a Ordem de São Bento de Avis, possivelmente, como reconhecimento da sua participação na conquista de Ceuta em 21 de Agosto de 1415, ao lado deste rei. que já tinha sido o Mestre de Aviz.
Após pesquisas possíveis, encontramos nesta Comenda, apenas, o rico padroado da Igreja de Santa Maria de Terena, nesta data, oficialmente, já era de Nossa Senhora de Terena, desde 1408 que lhe tinha sido retirado Santa Maria, pela Bula Sincere devotionis do Papa Gregório XII, depois, parece-nos que, cerca de 1570 passou a ser dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres e, em 1708 já era de Nossa Senhora da Boa Nova. O rendimento da Comenda, seria cerca de 1.500 libras, ou seja, cerca de 429 reais brancos de prata, ou 1050 reais prêtos, cerca de 3.000 soldos, que nessa época era muito dinheiro.
Como em 15 de Junho de 1796, o moinho das Azenhas D'El-Rei de dentro, no rio Guadiana, Concelho de Terena, era de D. Francisco de Melo Cogominho, Tenente ou Cadete do regimento de cavalaria de Évora, levou-nos a pensar que, o dito moinho estava incluído na Comenda, mas não, porque a Comenda foi pedida por ele à rainha Dª Maria I em 01 de Janeiro de 1802.
Em 1327, no reinado de D. Afonso IV, a Ordem de São Bento de Avis já tinha 32 Comendas com um rendimento a rondar as 18.000 libras, nesta data, ainda não existia a Comenda de Santa Maria de Terena, em 1744 detinha 48 Comendas e no fim da sua vida em 1834, eram 49 Comendas.
O padroado de uma Igreja consistia nos dízimos, taxas e outros rendimentos da mesma, como as missas e outros serviços, mas na Comenda de Terena não são referidos os valores das esmolas, das promessas, nem os valores das graças pelos milagres que, conforme se verifica em alguns documentos oficiais, envolviam muito dinheiro que, era recolhido pelos Mamposteiros e administrado pelos Mordomos da Confraria de Santa Maria de Terena, referenciados em documento régio em 08 de Abril de 1496.
Entre os anos de 1565 e 1570, foram feitas obras de grande relevo no Santuário da atual Senhora da Boa Nova, destacando-se o retábulo maneirista da Capela Mor que, custou muito dinheiro, porque foi pintado por um dos melhores pintores dessa época, chamado Francisco de Campos, nascido na Flandres em 1515 e faleceu em Évora em 1580 com peste, foi um pintor maneirista flamengo ativo em Portugal no século XVI. Talvez tenha sido aluno de Martin van Hemeesckerk, e mostrou possuir um estilo de grande segurança, desenvoltura e originalidade, sem precedentes em Portugal. Construía figuras com proporções inusitadas contra um cenário de espacialidade complexa, empregando cores cítricas em combinações surpreendentes. O seu desenho era alheio a todo o naturalismo, com um traço nervoso e expressivo. A sua obra inaugura uma fase de renovada internacionalização na pintura portuguesa. As suas obras só podiam ser pagas pelo rico Cabido da Sé de Évora e por Famílias nobres muito ricas, logo, pensa-se que, esta obra, foi suportada pelo próprio Santuário, porque a Ordem de São Bento de Avis, era a dona da Comenda, mas não fazia tão grande gasto, porque, esse investimento não lhe dava mais nada de rendas.
Alguns autores escreveram que, na data da criação da dita Comenda, o rei D. João I, também entregou, os domínios da Vila de Terena, incluindo o seu Castelo, à dita Ordem, mas não encontramos nenhum documento Régio que o comprove, antes o contrário e, se assim fosse, o rei D. João I, não doava a Vila de Terena a Gomez Garcia de Foyos no dia 14 de Março de 1422, Chancelaria de D. João I - Vol. I folha 18 v. e, nem D. Duarte a podia entregar a D. Nuno Martins da Silveira, em 08 de Maio de 1436, sendo confirmado Alcaide Mor por D. João II e, depois, a muitos outros Alcaides Mor.
A Comenda de Terena ficou na posse da Ordem de São Bento de Avis até 28 de Maio de 1834, embora, tenha passado por imensos beneficiados e Comendadores, ou seja, administradores da dita Comenda.
O Decreto de 28 de Maio de 1834 (D. Pedro, Duque de Bragança)
Extinguiu todas as Ordens Religiosas, logo, as respetivas Comendas, incluindo a de Santa Maria de Terena.
De: Consulta a diversos documentos régios e da Ordem de São Bento de Aviz.
Texto: Correia Manuel
Abril de 2025
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova
segunda-feira, 14 de abril de 2025
De Nossa Senhora dos Prazeres a Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
De Nossa Senhora dos Prazeres a Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
A romaria é de origem bastante antiga, tendo como centro o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, que já existia, com nome de Santa Maria de Terena, no século XIII.
No século XVI teve o nome de Nossa Senhora dos Prazeres, sendo que a invocação actual (Senhora da Boa Nova), já aparece documentada no século XVIII. O culto Mariano neste local é bastante antigo (talvez o mais antigo do país a sul do Tejo), exprime a exaltação de Maria aquando da Ressurreição de seu Filho, Jesus, daí que a romaria ocorra oito dias após a Páscoa (Domingo e Segunda-Feira de Pascoela).
A romaria tem como pontos altos a procissão de velas do Domingo de Pascoela, quando a imagem da Virgem é conduzida para a Igreja Matriz de São Pedro de Terena, nela ocorrendo o chamado Encontro(entre as imagens de São Pedro, padroeiro da freguesia, e da Senhora da Boa Nova).
O dia maior da festa é Segunda-Feira de Pascoela (feriado municipal no concelho de Alandroal), quando ocorre a Procissão solene de regresso ao Santuário, percorrendo as ruas do centro histórico de Terena.
Paralelamente às festividades religiosas (que são o coração da romaria),a confraria organiza ainda uma série de acontecimentos (bailes, garraiadas, leilão das oferendas, etc.), que decorrem nos dias da festa, no recinto do Santuário e no centro da vila.
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova - Vila de Terena
sábado, 12 de abril de 2025
A estória dos macacos, do padre de Capelins
A estória dos macacos, do padre de Capelins
Nos finais dos anos cinquenta, início dos anos sessenta, ainda havia muita gente, a viver com dificuldades na Freguesia de Capelins, não só devido às fracas jornas que ganhavam nos trabalhos rurais, mas também, devido à dimensão da maioria das famílias, que eram muito numerosas.
Os homens e as mulheres trabalhavam de sol a sol, só em 1962 chegou o horário das 8 horas diárias de trabalho aos rurais, mas já existia desde 1919 para outras profissões, assim, saíam de casa para os trabalhos ainda de noite e de noite voltavam a casa, os trabalhadores que voltavam, porque, alguns comiam e dormiam nas herdades onde trabalhavam e só iam a casa a mudar a roupa de vestir nos Domingos à tarde.
Todos os Domingos, havia a missa dominical na Igreja de Santo António de Capelins, mas compareciam poucos fiéis, e quanto mais o padre criticava e apelava aos paroquianos para irem à missa, menos compareciam, obrigando o padre a procurar saber as razões desse acontecimento, chegando à conclusão que, os fregueses não tinham tempo para ir à missa, porque, mesmo no caso de não trabalharem para os patrões, era no Domingo, que tinham de fazer os trabalhos nas suas casas, as mulheres tinham de lavar as roupas da família, fazer comida, arranjar os filhos e dar uma volta à casa. Os homens tinham de tratar das lenhas, limpar as estrumeiras, semear, cavar e colher as batatas, alhos, couves, alfaces, favas e outros produtos agricolas e horticolas, que eram imprescindíveis à casa, sendo impossível dispensar algumas horas para irem à missa.
Essa situação, obrigou o padre a dirigir-se ao Arcebispo, e pediu-lhe ajuda sobre o que fazer, transmitindo-lhe o motivo que impedia os paroquianos a comparecer nas missas, que era por não terem tempo, uma vez que tinham de trabalhar de noite e de dia e mesmo assim, havia muitas famílias a passar mal em termos económicos, tendo receio que, estivessem a perder a fé, até podiam estar a caminho de uma crise espiritual, por estarem tanto tempo sem ouvir a palavra do Senhor.
O Arcebispo reconheceu que era uma situação grave, não só por algumas pessoas estarem a passar mal, mas não podiam cair num vazio espiritual e decidiu que, durante uma temporada, seria dada uma ração de farinha energética para caldos, a cada paroquiano e paroquiana que fossem à missa, para os ajudar a alimentar o corpo e a alma.
O padre de Capelins anunciou logo esta oferenda da Igreja, dizendo que, era uma farinha muito energética e benzida que tratava o corpo e o espírito, dava muita energia e tinha muitas qualidades, substituía o pão com carne, o pão com queijo, o pão com azeitonas e o pão com pão e anunciou que, no Domingo seguinte, a farinha já estava na Igreja de Santo António e seria distribuída por quem estivesse na missa.
Os paroquianos e paroquianas em poucas horas espalharam a notícia pela Freguesia e foram acrescentando ainda mais qualidades à farinha, nessa semana, não se falou noutra coisa e no Domingo os fregueses não cabiam na Igreja de Santo António, e quase todos os presentes levaram a sua ração, mas os que não levaram a quantidade que queriam para a casa, ou até por qualquer motivo não levaram nenhuma, ficaram zangados com o padre e deu muito falatório.
Nesse dia, houve caldos de farinha por muitas casas de Capelins, mas a maioria das pessoas não sabiam tratar aquela farinha e ficaram com imensos grumos, mas não houve queixas, era grande o desejo de provar a farinha milagrosa, que nem os notaram, e toda a gente comentou que, nunca tinham comido caldos de farinha tão bons, até ali só comiam de farinha de trigo torrada no forno de coser o pão, ou crua, e diziam que era como o padre tinha dito, sentiam-se mais fortes com mais força, aumentando ainda mais a curiosidade daqueles que não tinham ido à missa e à farinha, e no Domingo seguinte, já lá estavam, sendo assim, durante uns tempos, a Igreja enchia, diziam que o trabalho podia esperar umas horas, eles é que não podiam desperdiçar aquela dádiva, já a missa, era como as mais missas.
A rapaziada, andava toda entusiasmada com os caldos de farinha do padre, até corriam e saltavam ainda mais, e passavam o tempo a pedir mais caldos de farinha, enquanto havia, até que um dia estava um grupo de vizinhos e vizinhas a aproveitar a soalheira e um gaiato começou a pedir à mãe o respetivo caldinho de farinha do padre, assim que um pediu, pediram todos, e lá foram mães e avós para casa a fazê-los, e eles por ali ficaram com o ti João que aproveitou para brincar com eles e disse-lhe:
Ti João: Óh rapaziada, vocês sabem que a farinha dos caldos é muito boa, mas é pena vir cheia de macacos do padre, eu já há muito tempo que a arrumei, nem tão pouco a quero cá em casa!
A rapaziada deram um salto e ficaram junto dele a fazer imensas perguntas:
Rapaziada: Oh ti João, está a brincar com a gente? Como é que soube essa coisa, dos macacos do padre?
Ti João: Não estou a brincar, não! Oxalá que estivesse! Foi uma pessoa da minha confiança que me contou, e além disso, não me digam que nunca acharam os macacos nos caldos, quando estamos a comê-los sentem-se a escorregar na boca! E o sabor, lembrem-se lá do sabor, se não é mesmo dos macacos!
Bastou um dos rapazes confirmar que já tinha desconfiado disso, e que já não comia nem mais um caldo, para todos acreditarem no ti João, ele não era pessoa de mentiras, e quando as mães e avós os chamaram, porque já tinham os caldinhos feitos, pelo sim pelo não, responderam todos, que não queriam, não tinham fome de caldos, só queriam um bocadinho de pão com azeitonas ou com queijo e, a partir daquele dia, não comeram mais caldos de farinha do padre que, de verdade, distraído, tirava macacos do nariz com o dedo, talvez alguns lá fossem parar à farinha.
A rapaziada começaram a dizer isso na Escola e todos achavam que devia ser verdade, porque o padre tirava muitos macacos, logo, convenceram os outros gaiatos por toda a Freguesia e, a maioria já não queriam os caldos, a sorte da rapaziada para não terem de os comer, foi que, devido ao grande consumo, depressa esgotaram a farinha, a qual, dava jeito a muita gente.
Quando a doação da farinha acabou na Igreja de Santo António, a comparência dos devotos nas missas, voltou ao que era antes, porque, a maioria dos paroquianos de Capelins, não tinham tempo para ir às missas.
Fim
Texto: Correia Manuel
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Aldeia de Vila Real - Juromenha - 1758
História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes
10 - Aldeia de Vila Real - Juromenha - 1758
A descrição do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes, em resposta ao Inquérito do Marquês de Pombal, escrita pelo Cura, Padre Francisco Dias Mendes, nas Memórias Paroquiais de Nossa Senhora da Assunção, Aldeia de Vila Real - Juromenha, em 02 de Abril de 1758.
Rio Guadiana
"O celebrado rio Guadiana divide esta Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Vila Real, pela parte do Poente com a Freguesia da Matriz da Vila de Juromenha.
O rio Guadiana é caudaloso e dizem que tem seu nascimento nas serras do Reino de Aragão e que, no Reino de Castela passa de muita distância e se mete e some-se pela terra e que vem a sair dali quatro léguas ou as que na verdade forem, o que tudo é tradição, este rio vai meter-se nas vizinhanças de Mértola.
São várias as Ribeiras de que toma as suas águas para fazer a sua corrente, entre elas as de que tenho notícia no Reino de Castela são as da parte do Nascente a Ribeira de Albecira, a Ribeira de Val Verde e pela parte do Poente é a Ribeira de Xeuta.
Em Portugal pela parte do Nascente é o Ribeiro de Alfornel que é no distrito desta Freguesia e o Ribeiro do Freixial no dito distrito pela parte do Poente se mete no dito Guadiana.
A Ribeira de Caia e a de Varxe que são no Termo (Concelho) de Elvas.
No Termo (Concelho) de Juromenha se metem no dito rio Guadiana a Ribeira de Mures e a Ribeira de Alagoa.
A Ribeira de Pardais e a Ribeira de Alcalate que é no Termo (Concelho) do Alandroal.
A Ribeira de Lucefece que é no Termo (Concelho) de Terena, e nos mais que se enumerem no dito rio não tenho notícia.
As águas do dito rio não servem de mais utilidade que para os moinhos para moer pão, por serem as margens do dito rio de areias secas e cascalho e em outras partes de safras tornam-se infrutíferas.
Tem esta Freguesia no seu distrito um Pégo chamado Pégo Pôdre separado da corrente do rio Guadiana que de Verão se lhe corrompem as águas por cujo motivo se chama Pégo Pôdre, cria esse uma qualidade de peixes a que chamam Carpias e Tencas além de outros que se acham na mais água doce que não são ditos na estimação.
E não pude descobrir mais nada do que se procura saber, e por verdade me assinei, Villa Real em 02 de Abril de 1758.
O Cura de Vila Real
Padre Francisco Dias Mendes"
Comentário
É mais uma página histórica do celebrado rio Guadiana e dos seus afluentes, como eram nesta região em 1758, porque, em cada Freguesia ribeirnha existe sempre mais alguma Ribeira ou Ribeiro com as suas caracteristicas e afluentes do rio Guadiana.
Neste caso, embora alguns cursos de água mencionados, não sejam desta Freguesia, o Padre Francisco Dias Mendes, destaca os seguintes:
Ribeira de Albecira - Espanha;
Ribeira de Val Verde - Espanha;
Ribeira de Xeuta - Espanha
Ribeiro de Alfornel - Vila Real;
Ribeiro do Freixial - Vila Real;
Ribeira do Caia - Elvas;
Ribeira de Varxe - Elvas;
Ribeira de Mures - Juromenha;
Ribeira da Alagoa - Juromenha;
Ribeira de Pardais - Alandroal;
Ribeira de Alcalate - Alandroal;
Ribeira de Lucefece - Terena.
Quanto ao lugar do nascimento do rio Guadiana, não é muito diferente da descrita pelo Prior da Matriz da Vila de Juromenha, e de todos os outros nove Párocos das localidades ribeirinhas.
O Padre também respondeu que, o rio se metia pela terra dentro, em vários pontos do seu percurso, no reino de Espanha, sendo subterrâneo durante várias léguas, neste caso, só já eram quatro, ou as que fossem, mas não há duvidas que, o mito do rio que aparecia e desaparecia pela terra dentro existia por toda esta região e havia algum fundo de verdade, como já verificámos essa informação é dada por outros Párocos, como o da Paróquia de São Tiago de Monsaraz, talvez o Pároco que mais escreveu sobre o rio Guadiana nesta data, escrevendo, também, que, este rio em terras de Espanha, ora se escondia por baixo da terra, ora aparecia à superficie, mas quando entrava no Reino de Portugal isso acabava.
O Cura de Vila Real respondeu que o rio era caudaloso e cheio de peixes, mas nada escreveu sobre as espécies de peixes que criava nem às pescarias, mas achou mais interessante referir os peixes existentes num Pégo, qua não era no rio Guadiana e designava-se por Pégo Pôdre que criava carpias e tencas além de outros peixes de água doce.
Para este Padre o rio Guadiana, desaguava ou meti-ae no mar nas vizinhanças de Mértola.
Sobre a utilidade das águas do rio Guadiana, o dito Padre respondeu que apenas serviam para os moinhos moer pão, por as suas margens serem de areias secas e cascalho.
O Cura Francisco Dias Mendes, não respondeu a várias perguntas, não devia ser admirador do Marquês de Pombal ou não estava disposto a dar muitas informações sobre o rio Guadiana, não respondeu sobre a direção da corrente, se era para Norte, Sul, Nascente ou Poente, nem se criava peixes, e quais as espécies e os que havia em maior abundância, se havia pescarias e em que tempo do ano, e se eram livres, se o rio tinha, ou não, sempre o mesmo nome em todo o seu curso, se tinha tido outro nome, se tinha pontes e em que sítio. O padre resolveu essas respostas escrevendo que, não pôde descobrir mais nada sobre o que o senhor Marquês procurava saber e adeus.
Fim
Correia Manuel
De: Memórias Paroquiais de Vila Real - Juromenha
domingo, 6 de abril de 2025
Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão - 1758
História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes
9 - Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão - 1758
Respostas do Prior Estevão da Silveira Matos, da Paróquia de Nossa Senhora das Candeias - Vila de Mourão, ao Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo Secretário de Estado do Reino (Primeiro Ministro) do rei D. José I, em 05 de Junho de 1758.
Rio Guadiana
"Chama-se o rio desta Vila, Guadiana, nasce na Mancha do Reino de Aragão.
Dizem que logo no seu nascimento é grande, quando passa por esta terra distante um quarto de légua é rio que se não pode vadiar no inverno por ser muito caudaloso, porém no verão se passa a pé enxuto.
No Distrito desta Freguesia se metem no rio Guadiana uns pequenos Ribeiros a que chamam das Vinhas e Aldrogas.
Navegam no rio barcos pequenos de pescadores, e neste Distrito os não pode fazer pessoa alguma para o fim de passar de uma e outra parte gente, porque tem o mesmo rio uma grande barca de que o Senhor Rei D. Manuel fez Mercê ao Alcaide Mor desta Vila que serve de passar gente, bestas, gado e tudo o mais.
Corre este rio por entre muitos Montes e por essa causa sempre que corre neste Distrito é arrebatadíssimo.
Corre este rio de Nascente para o Poente.
Cria várias castas de peixes como são: escárpios que têm tirado seis e sete arates, barbos de arroba, lampreias, irozes, pricóis, bogas, bordalos, sebatelhas (pardelhas ?) e mais variedades de peixes pequenos.
Há nesta terra pescarias no inverno e têm os moradores disto poucos cais feitos dentro do rio onde pescam à cana com a melhor arte, porque com um subtil anzol encastado em sidela de dez ou doze sedas de canalho tiram ajudados da arte que a esperiência lhe tem ensinado dos maiores peixes que tem o rio e em todo o ano se pesca com os barcos e redes.
São as pescarias livres e só a cascalheira do Moinho de Valadares tem direito Senhorio.
Neste Distrito não tem o rio arvoredos, tem algumas margens em que semeiam melões e feijoais grandes.
É a água deste rio excelente para os estraidos do baço, porque por dentro do rio há inumeráveis tramagueiras.
Sempre conservou o seu nome, e conserva até se meter no mar.
Morre este rio no mar.
Tem este rio muitos açudes e penhascos que impedem o ser navegável não tem cachoeira nem represa neste Distrito.
Neste Distrito, não tem pontes, nem de pau nem de pedra.
Tem neste Distrito quatro Moinhos, e não tem outro engenho.
Nunca ouvi dizer que das suas areias se tirasse ouro ou prata.
Usa-se das águas deste rio livremente sem pensão alguma.
Nasce nas Manchas de Aragão e entra no mar junto a Mértola, passa por inumeráveis povoações.
Estevão da Silveira Matos, Conventual de Avis e Prior na Igreja Matriz da Vila de Mourão. Certefico que em verdade de uma ordem do Excelentissimo Reverendissimo Senhor Dom Frei Miguel de Távora Arcebispo de Évora, respondi aos Interrogatórios,inclusos neste papel na forma que no mesmo o contém e nada mais tendo que dizer do que vai respondido em cada um dos Interrogatórios, passa o referido na verdade assino e firmo pelo hábito que professo.
Mourão cinco de Junho de mil setecentos e cinquenta e oito.
O Prior: Estevão da Silveira Matos"
Transcrito por: Correia Manuel
Abril 2025
Comentário
O Prior Estevão da Silveira Matos, descreveu como era o celebrado rio Guadiana na Freguesia de Nossa Senhora das Candeias, logo no Concelho de Mourão, na centúria de 1700, ou seja, em 1758 e, não difere muito do que os Párocos das localidades de toda a região a juzante até Juromenha o descreveram nas respetivas regiões.
O Prior respondeu que, o rio Guadiana passava a cerca de um quarto de légua, 1,5 kms da vila de Mourão e que a sua nascente era nas manchas de Aragão, corria do Nascente para o Poente e era um rio caudaloso no inverno, com corrente arrebatadíssima porque, aqui corria entre muitos montes, mas no verão passsava-se a pé enxuto.
Escreveu que, nesta Freguesia entravam nele alguns pequenos Ribeiros como o Ribeiro das Vinhas e o Ribeiro de Aldrogas, que o rio era navegável por pequenos barcos de pesca que no distrito ou área desta Freguesia, não podiam passar gente entre as suas margens, porque para isso, existia uma grande barca que o rei D. Manuel I tinha doado ao Alcaide Mor da Vila de Mourão que servia para passar gente, bestas, gado e tudo o mais.
Quanto às espécies ou castas de peixes que descreveu, são as mesmas que existiam desde Juromenha, os escárpios, talvez carpas, com seis e sete arrátes, ou seja, três ou quatro kgs, os barbos com uma arroba, quinze kgs, as bogas, lampreias, eirozes ou irozes, pricóis, sebatelhas, bordalos e outro peixe mais miúdo, havia pescarias e o povo tinham um cais dentro do rio de onde pescavam com canas, com grande arte, grandes peixes, mas pescavam todo ao ano com os barcos e redes. As pescarias eram livres e só a cascalheira do Moinho de Valadares tinha Senhorio.
A água do rio era excelente para os extraídos do Baço, porque por dentro dele havia inumeráveis tramagueiras.
Também, este Prior da Vila de Mourão, escreveu que o rio Guadiana, nunca teve outro nome, mas desde a reconquista destas terras pelos portugueses até 1580, conforme consta em imensos documentos régios e na história de Portugal, chamou-se rio Odiana, quando do domínio do Reino de Portugal pelo Reino de Castela, 1580-1640, passou a ser o rio Guadiana, tal como já assim se chamava em Castela, há aqui um mistério, porque, nenhum Pároco entre Juromenha e Mourão, referem que, antes, era o rio Odiana.
O Prior escreveu que, o rio tinha muitos açudes e penhascos que o impediam de ser navegável em todo o lado, não tinha cachoeiras nem represas e não tinha pontes, nem de pau nem de pedra neste distrito, ou Freguesia, existiam aqui quatro moinhos e mais nenhum engenho.
Referiu que o rio passava por inumeráveis povoações e entrava no mar em Mértola, neste caso, os Párocos combinaram-se todos em informar que o rio Guadiana desaguava no Oceano em Mértola, e isso ouviu-se até muito tarde, e tinha um fundo de verdade, já que, as marés influenciam a corrente do rio até esse Lugar.
E por aqui se ficou, o Prior Estevão da Silveira Matos, fazendo grandes despedidas ao senhor Marquês de Pombal.
Não deixa de ser mais uma página histórica sobre o celebrado rio Guadiana, neste caso, da região de Mourão, na centúria de 1700.
Correia Manuel
Abril de 2025
Vila de Mourão
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Nossa Senhora da Lagoa - Vila de Monsaraz - 1758
História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes
8 - Nossa Senhora da Lagoa - Vila de Monsaraz - 1758
Respostas do Pároco António José Guião, da Paróquia de Santa Maria da Lagoa - Vila de Monsaraz, ao Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo Secretário de Estado do Reino (Primeiro Ministro) do rei D. José I, em 21 de Junho de 1758.
Rio Guadiana
"No que pretende ao rio, pelo distrito (pela Freguesia) na distância de meia légua (mais ou menos 2,5 Kms) na parte do Nascente passa o rio Guadiana, que corre para o meio dia e dizem que tem sua nascente nas manchas de Aragão Reino de Castela, corre todo o ano.
Dizem que nasce de umas fontes com pouco caudal de águas e à vista desta freguesia passa entre Mourão e Monsaraz.
No distrito desta freguesia não entra no rio Guadiana outro algum rio.
É este rio Guadiana navegável com barcos de dois remos de que usam para pescarias.
É de curso arrebatado por passar entre terras montanhosas.
Corre este rio do Nascente para o meio dia.
No mesmo rio Guadiana criam-se muitas bogas, barbos, escárpios, sebarelhos?, bordalos, e eirós e alguns anos de inverna lampreias, porém a maior abundância são bogas e barbos.
Neste rio se pesca todo o ano, por divertimento.
Têm as suas águas virtudes para degerir, e de verão servem de se tomar banhos para várias enfermidades.
Não há memória de que este rio tivesse outro nome.
Morre este rio no mar Oceano junto a Mértola por entre um grande rochedo onde fazem grande queda as águas por cujo impedimento lhe impede o ser navegável.
Não me consta que tenha pontes este rio mais do que uma entre Badajoz e Elvas. (Hoje, em Portugal tem sete, e parece que vão ser oito, além do paredão da barragem de Alqueva).
É este rio todo povoado de Moinhos de moer pão, no distrito da minha freguesia se acha um moinho chamado Mendonça, antiquíssimo que dizem tem um letreiro em uma pedra que diz ser feito antes da vinda de Cristo ao mundo trezentos anos.
Nesta Freguesia não usam os moradores as águas deste rio para cultura dos campos por serem terras fragosas.
No distrito desta Freguesia passa este rio entre Mourão e Monsaraz como ficou dito.
Estas são as notícias que posso dar a V. Exª Rmª segundo os interrogatórios que me foram dados, nos quais procurei ser breve para não massar V. EXª a quem desejo todas as felicidades e a quem peço humildemente a benção com o humilde subdito Monsaraz de Junho 21 de 1758.
De V:Exº Rmª
Humilde subdito, um muito obrigado
O Prior de Santa Maria da Lagoa
António José Guião"
Comentário
Parece que, o Pároco, António José Guião, da Paróquia de Santa Maria da Lagoa da Vila de Monsaraz, não estava na disposição de dar muitas informações sobre o rio Guadiana e seus afluentes, ao Marquês de Pombal, como fez o seu colega Pároco da outra Freguesia, a de São Tiago de Monsaraz, Manuel Gomes Cunqueiro Velho, o qual. escreveu pelos dois, e de verdade, não havia necessidade de repetir tudo.
O Pároco António José Guião, escreveu que, a nascente do rio Guadiana era nas manchas de Aragão de duas fontes com pouco caudal, mas corria todo o ano, era de corrente arrebatada por correr entre terras montanhosas e que corria do Nascente para o meio dia.
O rio Guadiana na freguesia de Nossa Senhora da Lagoa, passava entre a Vila de Mourão e a Vila de Monsaraz, e era navegável com barcos de dois remos, neste caso, não referiu à barca que fazia os transportes entre Mourão e Monsaraz, talvez, porque, o outro Pároco já tinha dado essa informação, mas as freguesias eram distintas em termos de limites de espaço geográfico.
Este Pároco, respondeu que, as espécies de peixes que mais existiam no rio Guadiana nesta região, eram as bogas, escárpios, barbos, bordalos eirós e outros e aqui faziam pescarias todo o ano para divertimento.
Respondeu que, as águas do rio Guadiana tinham virtudes para digerir e que, no verão tomavam banho nas suas águas para tratamento de várias enfermidades. Neste caso, não leu o livro do Brito, no qual, este não aprecia estas águas.
O Pároco informou que, o rio Guadiana nunca teve outro nome, mas esqueceu que, o seu nome, desde a reconquista destas terras aos mouros, cerca de 1230 até 1580, foi sempre rio Odiana, depois, quando o Reino de Portugal esteve no domínio de Castela, ficou com o mesmo nome em toda a sua extensão, ou seja, Guadiana.
Escreveu que, era muito povoado de moinhos, e na Freguesia existia um Moinho chamado do Mendonça que diziam, tinha lá um letreiro numa pedra onde estava escrito ter sido construído trezentos anos antes do Nascimento de Jesus Cristo, logo, esse Moinho, em 1758 teria a idade de: 1758+300= 2058 anos.
Como não devia ter vontade de escrever mais, o Pároco despediu-se escrevendo que, procurou ser breve para não massar o senhor Marquês de Pombal.
Assim, ficamos com mais uma página histórica do celebrado rio Guadiana, neste caso, da região de Monsaraz que, pode ser comparado com o espaço geográfico a juzante, até Juromenha, ou seja, como era na centúria de 1700.
Fim
Correia Manuel
Abril de 2025
De: Memórias Paroquiais de Nossa Senhora da Lagoa, de Monsaraz - 1758
Igreja de Nossa Senhora da Lagoa - Monsaraz
terça-feira, 1 de abril de 2025
São Tiago - Vila de Monsaraz - 1758
História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes
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