História e estórias do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes
10 - Aldeia de Vila Real - Juromenha - 1758
A descrição do celebrado rio Guadiana e de seus afluentes, em resposta ao Inquérito do Marquês de Pombal, escrita pelo Cura, Padre Francisco Dias Mendes, nas Memórias Paroquiais de Nossa Senhora da Assunção, Aldeia de Vila Real - Juromenha, em 02 de Abril de 1758.
Rio Guadiana
"O celebrado rio Guadiana divide esta Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Vila Real, pela parte do Poente com a Freguesia da Matriz da Vila de Juromenha.
O rio Guadiana é caudaloso e dizem que tem seu nascimento nas serras do Reino de Aragão e que, no Reino de Castela passa de muita distância e se mete e some-se pela terra e que vem a sair dali quatro léguas ou as que na verdade forem, o que tudo é tradição, este rio vai meter-se nas vizinhanças de Mértola.
São várias as Ribeiras de que toma as suas águas para fazer a sua corrente, entre elas as de que tenho notícia no Reino de Castela são as da parte do Nascente a Ribeira de Albecira, a Ribeira de Val Verde e pela parte do Poente é a Ribeira de Xeuta.
Em Portugal pela parte do Nascente é o Ribeiro de Alfornel que é no distrito desta Freguesia e o Ribeiro do Freixial no dito distrito pela parte do Poente se mete no dito Guadiana.
A Ribeira de Caia e a de Varxe que são no Termo (Concelho) de Elvas.
No Termo (Concelho) de Juromenha se metem no dito rio Guadiana a Ribeira de Mures e a Ribeira de Alagoa.
A Ribeira de Pardais e a Ribeira de Alcalate que é no Termo (Concelho) do Alandroal.
A Ribeira de Lucefece que é no Termo (Concelho) de Terena, e nos mais que se enumerem no dito rio não tenho notícia.
As águas do dito rio não servem de mais utilidade que para os moinhos para moer pão, por serem as margens do dito rio de areias secas e cascalho e em outras partes de safras tornam-se infrutíferas.
Tem esta Freguesia no seu distrito um Pégo chamado Pégo Pôdre separado da corrente do rio Guadiana que de Verão se lhe corrompem as águas por cujo motivo se chama Pégo Pôdre, cria esse uma qualidade de peixes a que chamam Carpias e Tencas além de outros que se acham na mais água doce que não são ditos na estimação.
E não pude descobrir mais nada do que se procura saber, e por verdade me assinei, Villa Real em 02 de Abril de 1758.
O Cura de Vila Real
Padre Francisco Dias Mendes"
Comentário
É mais uma página histórica do celebrado rio Guadiana e dos seus afluentes, como eram nesta região em 1758, porque, em cada Freguesia ribeirnha existe sempre mais alguma Ribeira ou Ribeiro com as suas caracteristicas e afluentes do rio Guadiana.
Neste caso, embora alguns cursos de água mencionados, não sejam desta Freguesia, o Padre Francisco Dias Mendes, destaca os seguintes:
Ribeira de Albecira - Espanha;
Ribeira de Val Verde - Espanha;
Ribeira de Xeuta - Espanha
Ribeiro de Alfornel - Vila Real;
Ribeiro do Freixial - Vila Real;
Ribeira do Caia - Elvas;
Ribeira de Varxe - Elvas;
Ribeira de Mures - Juromenha;
Ribeira da Alagoa - Juromenha;
Ribeira de Pardais - Alandroal;
Ribeira de Alcalate - Alandroal;
Ribeira de Lucefece - Terena.
Quanto ao lugar do nascimento do rio Guadiana, não é muito diferente da descrita pelo Prior da Matriz da Vila de Juromenha, e de todos os outros nove Párocos das localidades ribeirinhas.
O Padre também respondeu que, o rio se metia pela terra dentro, em vários pontos do seu percurso, no reino de Espanha, sendo subterrâneo durante várias léguas, neste caso, só já eram quatro, ou as que fossem, mas não há duvidas que, o mito do rio que aparecia e desaparecia pela terra dentro existia por toda esta região e havia algum fundo de verdade, como já verificámos essa informação é dada por outros Párocos, como o da Paróquia de São Tiago de Monsaraz, talvez o Pároco que mais escreveu sobre o rio Guadiana nesta data, escrevendo, também, que, este rio em terras de Espanha, ora se escondia por baixo da terra, ora aparecia à superficie, mas quando entrava no Reino de Portugal isso acabava.
O Cura de Vila Real respondeu que o rio era caudaloso e cheio de peixes, mas nada escreveu sobre as espécies de peixes que criava nem às pescarias, mas achou mais interessante referir os peixes existentes num Pégo, qua não era no rio Guadiana e designava-se por Pégo Pôdre que criava carpias e tencas além de outros peixes de água doce.
Para este Padre o rio Guadiana, desaguava ou meti-ae no mar nas vizinhanças de Mértola.
Sobre a utilidade das águas do rio Guadiana, o dito Padre respondeu que apenas serviam para os moinhos moer pão, por as suas margens serem de areias secas e cascalho.
O Cura Francisco Dias Mendes, não respondeu a várias perguntas, não devia ser admirador do Marquês de Pombal ou não estava disposto a dar muitas informações sobre o rio Guadiana, não respondeu sobre a direção da corrente, se era para Norte, Sul, Nascente ou Poente, nem se criava peixes, e quais as espécies e os que havia em maior abundância, se havia pescarias e em que tempo do ano, e se eram livres, se o rio tinha, ou não, sempre o mesmo nome em todo o seu curso, se tinha tido outro nome, se tinha pontes e em que sítio. O padre resolveu essas respostas escrevendo que, não pôde descobrir mais nada sobre o que o senhor Marquês procurava saber e adeus.
Fim
Correia Manuel
De: Memórias Paroquiais de Vila Real - Juromenha