quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

O mistério da "usurpação" do Rosário, do pescoço de Nossa Senhora do Rosário, em Capelins

O mistério da "usurpação" do Rosário, do pescoço de Nossa Senhora do Rosário, em Capelins
A cultura da comunidade capelinense de outrora
O mistério da "usurpação" do Rosário, do pescoço de Nossa Senhora do Rosário, em Capelins
Nossa Senhora do Rosário, é assim designada, porque no ano de 1208, a Virgem Maria apareceu ao fundador da Ordem dos Pregadores, depois Dominicanos, São Domingos de Gusmão, para lhe ensinar a rezar o "Rosário", e pediu-lhe que ele difundisse a devoção ao Rosário, por ser uma arma poderosa para vencer os inimigos da fé.
Os devotos do Rosário, ficaram convencidos que, os cristãos venceram a batalha de Lepanto em 07 de Outubro de 1571, contra os muçulmanos, onde os cristãos eram em minoria, porque os soldados rezaram o Santo Rosário.
Rosário, significa "coroa de rosas" e, é constituído por 150 contas, sendo o Santo Terço formado por 50 contas, ou seja, 1/3 do Rosário, diminuindo para este número, as vezes da repetição das orações, do Padre Nosso e Avé Maria.
Nossa Senhora do Rosário é considerada a mãe auxiliadora, por isso, a sua imagem existe na maioria das Igrejas, neste caso, também existe na Igreja de Santo António de Capelins, talvez, desde os alvores do século XVII, num Altar metido em nicho parietal de sóbria moldura entalhada com uma grinalda revestida de ouro, é de roca e tem vestimentas bordadas com riqueza e com o seu Rosário.
Ao consultarmos os Registos Paroquiais de Santo António, encontramos muitos Registos de Batismos em que a madrinha dos recém nascidos é Nossa Senhora do Rosário e em Capelins, nunca foi encontrada outra Senhora que fosse madrinha de alguma criança.
Na Freguesia de Capelins, existia muita devoção por Nossa Senhora do Rosário, como auxiliadora das parturientes e das crianças, pelo que, quando uma mulher de Capelins entrava em trabalho de parto e surgia alguma dificuldade no nascimento da criança, depois de todas as tentativas da parteira, esta comunicava ao marido que tinha de ir à Igreja de Santo António e, com secretismo, para não haver falatório, dirigir-se à guardiã da Igreja e pedir-lhe para lhe mandar o Rosário de Nossa Senhora.
A guardiã ia a dentro da Igreja, empoleirava-se num banco e usurpava o Rosário do pescoço de Nossa Senhora, metia-o numa bolsa e entregava-o ao portador que, abalava o mais depressa possível, montado numa burra, numa carroça, numa égua, ou mesmo a pé, e entregava-o à parteira que o colocava ao pescoço da parturiente, incentivando-a a lutar, dizendo-lhe que tinha de fazer muita força, quando ela já não tinha nenhumas, mas convencida que estava a ser ajudada por Nossa Senhora, lá encontrava algumas e na maioria dos casos dava certo, as mulheres acabavam por dar à luz com a ajuda de Nossa Senhora e da parteira.
Neste caso, existia a devoção dos recorrentes a Nossa Senhora a pedir essa graça, na qual, quase todas as pessoas acreditavam, mas não a praticavam às claras, sendo envolvida em algum secretismo, e quem descobria, falava baixinho, dizendo que, tal mulher, para ter o filho ou filha, tiveram de ir buscar o Rosário de Nossa Senhora, como sendo uma incapacidade dessa mulher em ter o parto normal, ou seja, esta ação acabava por ser envolvida num mistério.
Quando alguém chegava à igreja de Santo António de Capelins a pedir o Rosário de Nossa senhora, para alguma mulher em trabalho de parto, a guardiã tirava-o do pescoço de Nossa Senhora e entregava-o com a condição de que assim que a criança nascesse ir rapidamente entregá-lo. A lamparina de Santo António era acesa e só se apagava quando o Rosário fosse posto novamente no pescoço de Nossa Senhora. Havia ainda a novena, a guardiã tinha que tocar nove vezes o sino e rezar uma avem Maria entre cada badalada.
Como referimos, depois do parto, o Rosário voltava, rapidamente para o pescoço de Nossa Senhora do Rosário, pelo motivo descrito e porque convinha ninguém saber quem o tinha usado, para evitar conversas, mas a criança que nascia com a ajuda da Senhora do Rosário, geralmente quando do Sacramento do batismo, ficava a ser sua afilhada, logo, toda a gente ficava a saber do sucedido, mas como era mais tarde, já tinha passado.
Nossa Senhora do Rosário, era muito venerada na Freguesia de Capelins.
Fim
Texto: Correia Manuel

Nossa Senhora do Rosário - Capelins



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