terça-feira, 20 de dezembro de 2022

A comemoração do Natal na Freguesia de Capelins, nos tempos de outrora

A comemoração do Natal na Freguesia de Capelins, nos tempos de outrora

O Natal é a data em que os cristãos comemoram o nascimento de Jesus Cristo, mas durante muitos anos, após o seu nascimento, essa comemoração era feita em dias diferentes, porque não se sabia a data exata de seu nascimento, somente no século IV é que se estabeleceu a comemoração do Natal no dia 25 de Dezembro, pelo Papa Julio I.
Não existem documentos históricos que confirmem a data de nascimento de Jesus Cristo, mas uma das explicações para a escolha do dia 25 de Dezembro, foram as festas pagãs que se realizavam nessa data, desde a antiguidade e sabiam que, o nascimento coincida com os dias da sua realização.
Na Freguesia de Santo António, não encontramos referências documentadas sobre, como eram as comemorações do Natal nas centúrias remotas, mas foram passando lendas e contos de geração em geração e, conforme contavam os nossos ancestrais, sempre existiram comemorações natalícias, religiosas e pagãs, sendo estas ultimas comemoradas nas tabernas, onde os homens, nessa noite, bebiam uns copos de vinho ou aguardente e cantavam cantigas alusivas ao nascimento do Deus Menino e ao Natal.
Pensa-se que, desde a construção da Igreja Matriz de Ferreira (Neves) onde encontramos a colocação de um padre cerca de 1330, por D. Afonso IV, mas já existia antes de 1320, a Festa de Natal a nível religioso, decerto, passou a ser semelhante à das localidades vizinhas, devia ser construído um presépio na Igreja e, na noite de Natal representavam o auto de Natal, o qual, simbolizava o nascimento de Jesus, com cânticos natalícios, seguido da Missa do galo.
Mais tarde, cerca de 1572, essa comemoração passou para a Igreja de Santo António, incluindo a Missa do galo, onde foi durante muitos séculos, mas acabou por se perder e o presépio passou a ser construído pelos alunos e professoras nas Escolas, onde faziam a festa natalícia com a representação do auto de Natal e cânticos ao Deus Menino, entre outros, como este:
Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Onde foste a nascer
Ó rigor do caramelo.
A construção do presépio era das maiores alegrias dos alunos/as, as professoras arquitetavam a sua construção e diziam o dia para irem ao campo apanhar o melhor musgo que se podia encontrar, já antes descoberto por alguém que informava as professoras, sobre o sítio onde ele estava e, nesse dia, não havia aulas, porque a seguir, armava-se o presépio com pedras e tábuas cobertas pelo musgo, delineavam-se montanhas, rios e planícies, tudo muito fiel à natureza e desenhavam-se caminhos com farinha branca, por onde seguiam os três Reis Magos na direção da choupana, esta encimada pela Estrela de Belém que guiava os Reis Magos, até à manjedoura onde se encontrava o Menino Jesus, ladeado por Nossa Senhora, São José, e muito perto a vaca e o burro, com a missão de aquecer o Deus Menino, naquele noite fria de 24 de Dezembro.
No dia 24 de Dezembro, era dia de trabalho, as pessoas andavam, quase sempre, na colheita da azeitona, entrando, a maioria em suas casas pela noite dentro, tão cansados que, tinham pouca vontade de comemorar a noite de Natal, porque, apesar de ser feriado no dia seguinte, quase toda a gente tinha de ir trabalhar, mas a maioria, pela Família, faziam mais um esforço e participavam na dita comemoração.
Na noite de Natal, quem podia, fazia uma ceia melhorada, acompanhada de alguns acepipes, assim como, de alguma sobremesa, mas a maioria das famílias fazia a ceia normal, porque, ou não tinham para mais, ou não davam importância a essa comemoração.
Depois da ceia, vestiam a melhor roupa que tinham, e dirigiam-se para os casões dos bailes que, rapidamente se enchiam, as mulheres e raparigas sentavam-se em cadeiras que levavam de casa, numa parte do casão, separadas dos homens, que ficavam em pé na sua frente e quando o acordionista começava a tocar estava o baile armado, pela noite dentro.
O baile de Natal era alumiado por três candeeiros petromax, a petróleo, que estavam pendurados no teto do casão com uma distância de poucos metros entre eles, o baile começava cerca das vinte e duas horas e podia terminar às duas ou três da manhã, o acordionista não tinha hora limite para parar de tocar, tinha de continuar até se dar a debandada final, apenas descansava quando o dono do casão subia para um banco a leiloar rifas para uma garrafa de bebida ou para um frango assado.
A noite de Natal, entre outras, era chamada "noite buena", ou seja, as tabernas não fechavam a noite toda, mas depois do baile acabar, muita gente recolhia a casa, dormiam umas horas e de manhã iam trabalhar, mas muitos homens e rapazes ficavam a jogar ao xito, a beber vinho ou cerveja e a cantar, entre outras cantigas a seguinte, meia espanholada:
Toca la zabumba
E dáli dáli dáli
Toca la zabumba
Que é noite de Natali.
E depressa chegava o nascer do sol de 25 de Dezembro, pelo que, alguns ainda iam a correr para o trabalho, sem dormir, outros, continuavam a comemoração do Natal pelo dia todo.
Parece que, os capelinenses nessa época, não passavam a noite de Natal com a Família, mas não é verdade, porque, nos casões de bailes juntava-se a Família, avós, pais, filhos, cunhados, netos, sobrinhos, primos e parentes, uma vez que, a população de Capelins eram todos Família e, assim, estavam juntos, a falar, beber, cantar, dançar, a divertirem-se.
Quem tinha de ficar em casa, nessa noite, escolhia um madeiro mais robusto para arder no lume, em oferenda ao Menino Jesus, designado o madeiro do Menino, passando essa tradição para a rua, onde nos últimos anos começaram a surgir grandes lumes no centro das Aldeias de Ferreira e de Montejuntos.
Nos tempos de outrora, o Menino Jesus não deixava nada nos sapatinhos das crianças de Capelins, salvo raras exceções, nem a maioria tinham sapatinhos, já era muito bom haver comida para pôr na mesa, só mais tarde, algumas crianças começaram a ter sapatinhos, nos quais, na manhã do dia 25 de Dezembro estavam uns rebuçados de frutas ou alguns bombons e pouco mais, deixados pelo Menino Jesus, somente a partir dos finais do decénio de 1960, ou nos anos de 1970, começaram a surgir as ceias de Natal mais recheadas e as prendas, mesmo assim, não eram para todos/as.
Na Aldeia de Montejuntos, desta Freguesia, o baile de Natal, realizava-se na noite de 25 de Dezembro, sendo, a restante comemoração, muito semelhante à da Aldeia de Ferreira e de Faleiros, e todos eram felizes.
Fim
Texto: Correia Manuel
Fotografia: Correia Manuel
Lugar do nascimento de Jesus
Belém - Palestina 



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