sábado, 21 de setembro de 2019

Convento de Nossa Senhora da Orada - Monsaraz

Breve História do Convento de Nossa Senhora da Orada, dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho em Ferragudo, Monsaraz
Santo Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, na Argélia, no dia 13 de Novembro do ano de 354 e faleceu em Hipona, Argélia no dia 28 de Agosto do ano de 430! 
Santo Agostinho foi Bispo de Hipona e, um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros séculos do Cristianismo, escreveu várias obras, destacando-se "A cidade de Deus" e "Confissão" que, atualmente, ainda se estudam! 
Em 1298, Santo Agostinho foi reconhecido Santo pelo Papa Bonifácio VIII, mas já tinha sido canonizado por aclamação popular, devido ao grande número de seguidores do seu pensamento e da sua filosofia de vida, designados Eremitas  de Santo Agostinho! 
Após o Concílio de Latrão de 1059, surgiu a primeira Congregação chamada Cónegos Regrantes da Ordem de Santo Agostinho que seguiram duas vias principais, uma mais rigorosa e severa, apontando o caminho da clausura reforçada pelo jejum, pela castidade, pelo silêncio, pelo trabalho manual e pelo serviço coral e divino e, a outra mais moderada!   
Como existiam muitos grupos de Eremitas de Santo Agostinho, por várias vezes, alguns Papas fizeram a sua união, até que, em 1567 o Papa Pio V deu-lhe o estatuto de Mendicantes e, novamente surgiram dois ramos: A Congregação dos Ricoletos da Ordem de Santo Agostinho e, em 1588 a Congregação dos Eremitas Descalços da Ordem de Santo Agostinho! 
Os seguidores do pensamento de Santo Agostinho surgiram em Lisboa no ano de 1147, em simultâneo com a conquista desta cidade pelo rei D. Afonso Henriques aos Mouros, eram apenas dois, fizeram um pequeno Eremitério em S. Gens e, passados alguns anos fundaram o primeiro Convento de Santo Agostinho, depois designado por Convento da Graça! 
A Congregação dos Eremitas Descalços da Ordem de Santo Agostinho que, já existiam desde 1588, chegou a Portugal no ano de 1664, construindo o seu primeiro Eremitério no sítio do Grilo, levando a população que gostava muito deles, a designá-los por Frades Grilo, apresentavam muita pobreza, usavam uma simples cobertura de lã rude e andavam descalços!
Os Eremitas da Ordem de Santo Agostinho, foram muito bem recebidos em Portugal, construindo cerca de uma centena de Mosteiros e Conventos, de norte a sul, sendo 43 dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, 2 de Cónegas Regrantes de Santo Agostinho, 26 dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho, 6 de Eremitas Calçadas de Santo Agostinho, 17 de Eremitas Descalços de Santo Agostinho e 1 de Eremitas Descalças de Santo Agostinho!
A Congregação ou Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, atingiu o seu auge, pelo ano de 1700, com cerca de 2000 membros, assim, nesta época foram construídos vários conventos, entre os quais, sete no Alentejo, Portalegre, Évora, Montemor-O-Novo, Estremoz, Orada - Monsaraz, Mourão e Grândola!  
A Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, ou Agostinhos Descalços, logo que chegaram a Portugal escolheram o Termo (Concelho) de Monsaraz, para a construção de um Convento, então, em 1670, por alvará do rei D. Afonso VI, o mesmo, foi autorizado e, começaram as negociações com o Arcebispo de Évora D. Pedro de Lencastre e, com o Priorado de Monsaraz, sobre o lugar e as condições da sua implementação! 
Depois de alguns estudos feitos por Fr. Manuel da Conceição, responsável pela introdução da Ordem em Portugal e, por outros religiosos, a escolha do sítio onde o Convento  seria edificado, foi exatamente no lugar onde estava situada a Capela de Nossa Senhora da Orada, no Ferragudo, que tinha sido construída por encomenda de D. Nuno Álvares Pereira no início do decénio de 1380, na qual, o condestável gostava de orar quando estava por estas bandas, antes da partida para as batalhas com os castelhanos, então, para construir o Convento, a Capela teve de ser demolida, ficando o seu lugar marcado pelo cruzeiro que se encontra fronteiro à igreja! 
A Ermida de Nossa Senhora da Orada tinha sofrido profundas alterações nos finais do século XVI, tendo passado para a comenda da Ordem de Cristo por vontade do Duque de Bragança, assim, a mesma foi imediatamente entregue à Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, onde, desde 10 de Abril de 1673 começaram a chegar religiosos, chegando a 20, ainda antes de 1700! 
No ano de 1700, o Convento de Nossa Senhora da Orada, começou a ser construído com o incentivo do padre João Calvário daquela Ordem, a qual, também ordenava padres e, do Pároco da Paróquia de S. Tiago, porém, devido à sua dimensão, por falta de financiamento, só foi concluído em 28 de Agosto de 1741! 
O edifício é de planta quadrada, apresenta uma igreja a Sul e um claustro central, é de arquitetura bastante sóbria, constituído por dois pisos, sendo que, no piso superior, são visíveis pequenas janelas de moldura simples, quadrangular e em pedra, correspondendo aos vãos das antigas celas dos eremitas que, não deviam ser, em simultâneo, mais de doze, a quinze, incluindo os leigos!
A fachada principal que é composta pela frontaria da nave e do campanário foi alterada devido à sua destruição pelo terramoto de 1755, sendo, então,  construído, sobre a cornija, um frontão ondulado com nicho! No piso superior, um nártex ladeado por duas janelas e três janelões, compõem esta fachada pintada de branco! 
No seu interior, o edifício define-se pela articulação vertical de dois pisos com coberturas diferenciadas em abóbadas de berço e a talha que ainda existe nos altares da igreja, conserva parte da decoração original de ornatos e festões vegetalistas! 
O Convento de Nossa Senhora da Orada, entre 1673 e 1820, quando foi inserido no Convento dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, acolheu cerca de 32 Eremitas Descalços daquela Ordem, cujo número, nome, naturalidade e data de entrada no Convento foram os seguintes: 
55 - Pe. Fr. Nicolau da Purigicação, de Santa Maria Monsaraz,  15- 02 - 1673; 
57 - Pe. Fr. Manuel de Santo Ignácio, de S. Pedro de Fratel, Guarda, 10 - 04- 1673; 
58 - Pe. Fr. Guilherme de Amor Divino, de Vila de Fronteira, 10 - 04 -1673;
72 - Fr. António da Conceição, de Freguesia de Cordovil dos Reguengos, 10 - 09- 1673;
81 - Fr. Manuel de Jesus, de Vila de Portel, 02 - 01 - 1674; 
82 - Fr. Pedro da Orada, de Vila de Portel, 17 - 01- 1674; 
83 - Fr. Manuel do Sacramento, de Vila de Portel, 17 - 01 - 1674; 
154 - Fr. Manuel do Nascimento, de Penalva, Viseu, 04 - 06 - 1675;
180 - Fr. Gregório de Santo António, de Fundão, Guarda, 10 - 02 - 1677;
191 - Fr. Domingos de Santa Maria, de Villares, Trancoso, 17 - 06 - 1677; 
251 - Fr. Gaspar do Espírito Santo, sem indicação de naturalidade, 16 - 08 - 1680; 
252 - Fr. Diogo do Rosário, de Estremoz, 18 - 08 - 1680;
265 - Fr. Manuel de Madre de Deus, mudou para Fr. Manuel da Consolação, de Elvas, 31 - 08 - 1681;  
266 - Fr. João dos Santos, de Linhares, Bispado de Coimbra, 08 - 12 - 1681; 
286 - Fr. João de Deus, de Santa Engrácia, Lisboa, 27 - 07 -1683;
288 - Fr. Domingos de Madre de Deus, de Linhares, Bispado de Coimbra, sem data de entrada;
324 - Fr. João de Santa Catharina, de Vila de Monsaraz, 04 - 07 - 1688;
390 - Fr. Sebastião da Orada, de Vila de Monsaraz, 06 - 09 - 1694; 
434 - Fr. Manuel dos Reis, de Évora, 28 - 04 - 1694; 
444 - Fr. Manuel do Rosário, de Évora, 11 - 05 - 1698; 
577 - Fr. Thomé da Orada, de Vila de Monsaraz, 27 - 12 - 1713; 
870 - Fr. Sebastião da Orada, de Atalaia, Pinhel,  23 - 01 - 1731;
1911 - Fr. António de Estrella (transitou), de Portalegre, 29 - 09 - 1742; 
1406 - Fr. José de S. Vicente, de Manigoto, Pinhel, 06 - 08 - 1780; 
1512 - Fr. António de Nossa senhora da Orada, de Vila de Monsaraz, 29 - 09 - 1785;
1513 - Fr. Francisco de Nossa senhora da Orada, de Vila de Monsaraz, 29 - 09 - 1785;
1739 - Fr. João do Rosário, de Évora, 09 - 12 - 1796; 
1750 - Fr. António de S. Roque, de Vila de Monsaraz, 20 - 03 - 1797; 
1754 - Fr. Joaquim de Santa Cecília (organista), de Évora, 29 - 03 - 1797; 
1762 - Fr. Bento da Purificação, de Vila de Mourão, 12 - 04 - 1797; 
1767 - Fr. Joaquim da Pureza de Nossa Senhora, de Nisa, 19 - 06 - 1797; 
1769 - Fr. Fernando de S. Remígio, de Vila de Mourão, 12 - 07 - 1797. 
Os Eremitas Descalços de Santo Agostinho, do Convento de Nossa Senhora da Orada, tal como os seus congéneres, depois de passarem por leigos, faziam o voto de profissão religiosa, andavam descalços e vestiam apenas uma cobertura de lã rude como sinal externo de desprendimento de penitência e de entrega total à Divina Providência, no entanto, o Convento tinha muitos bens, propriedades e muito dinheiro, provenientes de doações, os quais, os irmãos não usavam em proveito próprio, mas ajudavam o próximo, serviam de modelo às populações devido aos seus ensinamentos e estilo de vida, da forma organizada e bem preparada que utilizavam para intervir junto das populações que, a eles recorriam em momentos de júbilo ou, por necessidades de vária ordem, calamidades causadas por  guerras, pestes, fome, doenças e outras situações! 
Como prova de que, este Convento tinha muito dinheiro, o qual, emprestava com escritura de juro, vejamos o caso do cidadão de Évora, Nicolau Barreto de Andrade que, em 1713 contraiu um empréstimo junto do Convento de Nossa Senhora da Orada, no termo (Concelho) de Monsaraz, de 200.000 réis, assinando um contrato, no qual, se comprometia a pagar 5 % de juro ao ano! Como garantia, hipotecou as casas onde vivia, localizadas na Rua do Paço (Adro de S. Francisco) em Évora e a herdade de Almeirim sita nos Coutos de Évora que, antes da hipoteca estava arrendada por 4 moios de pão terçado, uma marrã e um carneiro por ano, porém, talvez devido à doença, associada à família numerosa, tinha seis filhos, não conseguiu pagar os juros ao Convento, então, estes bens foram sequestrados e ficou na miséria, valendo-lhe a Santa Casa da Misericórdia de Évora que, começou a dar-lhe uma mesada de 480 réis! Não sabemos se o Convento de Nossa Senhora da Orada o ajudou, mas parece que, o cidadão Nicolau Barreto de Andrade, perdeu a herdade de Almeirim, ficando com as casas para morar com a sua família, decerto, mais confortável do que os Eremitas Descalços do Convento de Nossa Senhora da Orada que, lhe emprestou 200.000 réis, muito dinheiro nessa época! Era assim, a sua regra de vida!  
Em 1820, por ocasião da reestruturação da Ordem, foram anexados ao Convento de Santa Maria de Portalegre parte dos bens do então extinto Convento de Nossa Senhora da Orada, de Ferragudo, Monsaraz, fixando-se, então, em doze religiosos e três leigos os membros da Congregação de Portalegre! Este número de Eremitas Descalços de Santo Agostinho demonstra que, já em 1820, a Ordem estava em crise e a Congregação do Convento de Nossa Senhora da Orada foi extinta por falta de religiosos!
A documentação deste Convento, encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, conforme se pode verificar na seguinte publicação: 
CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA ORADA DE MONSARAZ
NÍVEL DE DESCRIÇÃO
Fundo Fundo
CÓDIGO DE REFERÊNCIA
PT/TT/CNSOM
TIPO DE TÍTULO
Atribuído
DATAS DE PRODUÇÃO
1673 A data é certa a 1673 A data é certa
DIMENSÃO E SUPORTE
1 liv.; papel
HISTÓRIA ADMINISTRATIVA/BIOGRÁFICA/FAMILIAR
O Convento de Nossa Senhora da Orada de Monsaraz era masculino, e pertencia à Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho (Agostinhos Descalços).
Em 1700, o convento foi fundado.
Em 1741, foram concluídas as obras.
Em 1755, o edifício foi afectado pelo terramoto.
Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.
Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.
HISTÓRIA CUSTODIAL E ARQUIVÍSTICA
Não é ainda conhecida a história custodial desta documentação.
No final da década de 1990, foi abandonada a arrumação geográfica por nome das localidades onde se situavam os conventos ou mosteiros, para adoptar a agregação dos fundos por ordens religiosas.
ÂMBITO E CONTEÚDO
Contém livro de profissões dos religiosos.
Guia de Fundos Eclesiásticos; Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho; Masculino
SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO
Ordenação numérica específica para cada tipo de unidade de instalação (livro).
INSTRUMENTOS DE PESQUISA
ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO - [Base de dados de descrição arquivística]. [Em linha]. Lisboa: ANTT, 2000- . Disponível no Sítio Web e na Sala de Referência da Torre do Tombo. Em actualização permanente.
Índice (inventário) dos livros de diversos conventos, ordens militares e outras corporações religiosas guardados no Arquivo da Torre do Tombo, conventos diversos, caderneta 3 (Santo Elói a Teatinos) (C 270) f. 83. Descreve 1 livro.
UNIDADES DE DESCRIÇÃO RELACIONADAS
Portugal, Torre do Tombo, Ministério das Finanças, cx. 2238, inv. n.º 269
DATA DE CRIAÇÃO
04/04/2011 00:00:00
ÚLTIMA MODIFICAÇÃO
02/02/2017 13:27:30 

Fim 

(Com base na consulta de vários documentos na internet) 

Convento de Nossa Senhora da Orada em Ferragudo - Monsaraz



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